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Últimos pandas do país serão devolvidos a Pequim antes do fim do contrato, reacendendo debate sobre diplomacia e a crise entre Japão e China
Filhotes gêmeos Lei Lei e Xiao Xiao, nascidos em 2021 no tradicional zoológico de Ueno, em Tóquio, serão enviados à China até o fim de janeiro / Divulgação/Wikicommons
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Pela primeira vez em meio século, o Japão ficará sem ursos panda em seu território. O governo japonês anunciou nesta segunda-feira (15) que irá antecipar a repatriação dos dois últimos animais que vivem no país, em um gesto que ocorre em meio ao aumento das tensões diplomáticas com a China, especialmente em torno da questão de Taiwan.
Os filhotes gêmeos Lei Lei e Xiao Xiao, nascidos em 2021 no tradicional zoológico de Ueno, em Tóquio, serão enviados à China até o fim de janeiro. A devolução ocorrerá antes do encerramento oficial do contrato de empréstimo, previsto inicialmente para fevereiro.
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Os pandas são uma das principais atrações do zoológico, que recebe até 4.800 visitantes por dia interessados em ver os animais.
Apesar da popularidade, os ursos pertencem legalmente à China, dentro do acordo conhecido como “diplomacia dos pandas”, que estabelece empréstimos temporários e a posse chinesa de todos os filhotes nascidos no exterior.
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De acordo com o jornal Japan Times, autoridades japonesas tentaram negociar a prorrogação da estadia dos pandas ou a chegada de novos animais, mas o acordo acabou sendo encurtado em cerca de um mês para atender ao cronograma do centro de acolhimento chinês que receberá os ursos. Não há, até o momento, perspectiva de novos empréstimos ao Japão.
Até a data da repatriação, marcada para 25 de janeiro, a expectativa do zoológico de Ueno é receber cerca de 180 mil visitantes.
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Lei Lei e Xiao Xiao se juntarão aos pais, Ri Ri e Shin Shin, devolvidos à China em setembro de 2024, e à irmã mais velha, Xiang Xiang, que retornou em 2023.
Outros quatro pandas criados no parque Adventure World, na província de Wakayama, também foram enviados de volta a Pequim em junho, após o fim dos contratos.
O secretário-chefe do Gabinete do governo japonês, Minoru Kihara, afirmou que Tóquio “espera ver intercâmbios contínuos por meio dos pandas” e reconheceu que os animais “há muito contribuem para melhorar a opinião pública tanto no Japão quanto na China”.
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Já o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, evitou comentar diretamente se Pequim pretende manter a cooperação com o Japão nesse tipo de intercâmbio, limitando-se a dizer que o tema deve ser tratado pelas “autoridades competentes”.
O anúncio gerou reação negativa entre o público japonês e reacendeu o debate sobre o futuro das relações bilaterais entre os dois países.
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Nativos da China, os pandas são utilizados há décadas como instrumentos de aproximação diplomática, ao mesmo tempo em que contribuem para a preservação da espécie.
Em 1984, no entanto, a China alterou as regras dessa política, substituindo a doação definitiva pelo modelo de empréstimo, que prevê pagamento de taxas anuais, contratos com prazo determinado e a posse chinesa dos filhotes nascidos no exterior.
Lei Lei e Xiao Xiao são descendentes diretos do primeiro casal de pandas enviado ao Japão em 1972, como símbolo da normalização das relações diplomáticas entre os dois países.
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Nas últimas semanas, porém, esse relacionamento voltou a se desgastar após declarações da primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, sobre o status de Taiwan.
Em novembro, Takaichi afirmou que Tóquio “não reconhece o estatuto jurídico de Taiwan”, ao tratar da relação da ilha com a China.
A resposta de Pequim foi imediata, com críticas públicas e um alerta para que o Japão “reflita sobre seus erros” e se retrate sobre o que classificou como declarações equivocadas, que geraram repercussão negativa dentro e fora do país.
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