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Governo israelense alegou desvio de recursos para o conflito e criticou postura pró-Palestina do Brasil; apenas dois funcionários participarão da cúpula climática de forma alternada
Além da guerra, o enfraquecimento das relações diplomáticas com o Brasil também pesou na decisão / Ricardo Stuckert/Secom-PR
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O governo de Israel anunciou nesta quinta-feira (6) que não enviará uma delegação oficial completa para a COP30, a conferência climática das Nações Unidas que será realizada em Belém (PA) a partir da próxima segunda-feira (10).
Segundo comunicado do Ministério da Proteção Ambiental, a decisão foi motivada pelo 'desvio de recursos resultante da guerra em curso' contra o grupo Hamas, na Faixa de Gaza, e pela 'campanha diplomática' que o país vem conduzindo no cenário internacional.
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Diferentemente da COP29, realizada em 2024 no Azerbaijão, quando Israel enviou mais de 100 representantes e apresentou 20 projetos climáticos em um pavilhão próprio, desta vez a presença será simbólica.
Apenas dois funcionários do Ministério da Proteção Ambiental acompanharão os trabalhos da COP30, um por vez o chefe da Divisão de Resiliência Climática participará da primeira semana, e o líder do Departamento de Relações Internacionais, da segunda.
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Com isso, não haverá estande israelense nem delegação oficial, algo incomum em cúpulas da ONU, onde o país costuma se destacar na pauta de tecnologias sustentáveis, manejo hídrico e agricultura em áreas áridas.
O conflito na Faixa de Gaza, iniciado em outubro de 2023, continua sendo o principal foco do governo de Benjamin Netanyahu, consumindo parte significativa dos recursos orçamentários e diplomáticos do país.
Além da guerra, o enfraquecimento das relações diplomáticas com o Brasil também pesou na decisão.
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O governo israelense é crítico à postura pró-Palestina adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em fevereiro comparou o massacre de civis em Gaza ao Holocausto. Em resposta, Tel Aviv declarou Lula 'persona non grata', acentuando o desgaste entre os dois países.
A COP30, considerada uma das mais importantes da década, marca a primeira vez que o Brasil sedia uma conferência climática de nível global desde a Eco-92. O evento em Belém deve reunir delegações de mais de 190 países, além de chefes de Estado, cientistas, indígenas e ativistas ambientais.
Israel, que tradicionalmente participa com forte presença técnica e diplomática, optou por manter apenas representação mínima, refletindo o isolamento momentâneo de sua política externa.
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Especialistas em relações internacionais avaliam que a decisão de Israel vai além da limitação de recursos e reflete um distanciamento político com o Brasil.
A ausência de uma delegação formal também sinaliza uma retração na diplomacia ambiental israelense, que costuma promover tecnologias de irrigação e gestão hídrica como exemplos de inovação sustentável.
Mesmo sem a presença oficial de Israel, a COP30 em Belém promete ser histórica.
A cidade amazônica receberá líderes mundiais para discutir metas climáticas pós-2030, financiamento verde e proteção das florestas tropicais, em um contexto de crescente pressão global pela redução das emissões e pela transição energética justa.
A ausência de Israel simboliza um momento delicado: um país conhecido por suas soluções tecnológicas para o meio ambiente se afasta do debate climático global em meio a um dos períodos mais tensos de sua história recente.
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Enquanto as fogueiras da guerra continuam acesas no Oriente Médio, a pauta ambiental, que exige cooperação e diálogo, sofre mais um abalo geopolítico.