Além da composição cinematográfica, o destaque está na protagonista rara: a hiena-marrom (Hyaena brunnea), a mais incomum entre as espécies de hiena e considerada 'quase ameaçada'. / Wim van den Heever
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Sob o luar que cobre as ruínas de Kolmanskop, uma antiga cidade de mineração de diamantes tomada pela areia no deserto da Namíbia, uma hiena-marrom solitária surge entre as sombras. O clique, iluminado por um único flash, marcou o ápice de uma década de tentativas do fotógrafo sul-africano Wim van den Heever — e acaba de conquistar o grande prêmio de Fotógrafo da Vida Selvagem do Ano de 2025, promovido pelo Museu de História Natural de Londres.
A imagem, batizada de 'A Caçadora da Cidade-Fantasma', se tornou símbolo da convivência improvável entre a natureza e os vestígios da presença humana. Além da composição cinematográfica, o destaque está na protagonista rara: a hiena-marrom (Hyaena brunnea), a mais incomum entre as espécies de hiena e considerada 'quase ameaçada'.
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Van den Heever visita o deserto do Namibe há mais de dez anos, convencido de que uma hiena-marrom vagava por Kolmanskop após o pôr do sol.
'Eu via rastros, excrementos, sinais de que ela passava por ali', contou.
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O fotógrafo passou inúmeras madrugadas entre duas e três horas da manhã, montando câmeras automáticas em pontos estratégicos da cidade-fantasma. Foram anos de tentativas frustradas, câmeras destruídas pela areia trazida pelo vento e noites encobertas pela neblina do Atlântico.
Até que, numa madrugada recente, a hiena caminhou exatamente pelo ponto previsto.
'Minha câmera disparou três vezes naquela noite. Na terceira, ela apareceu. Quando vi a imagem, quase chorei. Era exatamente o que imaginei desde o primeiro dia', revelou Van den Heever.
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Estima-se que existam entre 4,3 mil e 10 mil hienas-marrons no sul da África. Silenciosa e noturna, essa espécie evita o contato humano e se adapta a ambientes inóspitos.
Em Kolmanskop, encontrou abrigo nas ruínas da mineração, antigas cozinhas, porões e canos enferrujados viraram tocas e esconderijos.
De acordo com Marie Lemerle, chefe do Projeto de Pesquisa da Hiena-Marrom, sediado em Lüderitz, as cidades abandonadas oferecem refúgio do calor extremo e espaço para a reprodução.
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'Essas construções antigas funcionam como abrigos naturais. Uma fêmea chegou a dar à luz dentro de um velho fogão de ferro', relata.
Apesar disso, a espécie enfrenta riscos crescentes fora das áreas protegidas: atropelamentos, perda de habitat e perseguição por fazendeiros.
Fundada no início do século 20, Kolmanskop prosperou com a extração de diamantes, mas foi abandonada na década de 1950, após o esgotamento das jazidas. Hoje, as casas soterradas pela areia são cenário surreal de um turismo que mistura história, arte e melancolia.
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Durante o dia, grupos de visitantes caminham entre os prédios inclinados e silenciosos; à noite, apenas o vento e os animais tomam conta do lugar.
Para Natalie Cooper, zoóloga do Museu de História Natural de Londres, o trabalho de Van den Heever vai além da arte:
'A imagem nos lembra que humanos e animais compartilham o mesmo ambiente — e que precisamos aprender a coexistir.'
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Em um momento em que a biodiversidade global está em declínio, fotos como a de Kolmanskop ajudam o público a visualizar o impacto humano e a importância da preservação da vida selvagem.
Van den Heever, agora premiado, diz que ainda não considera o trabalho concluído:
'Os fotógrafos nunca estão satisfeitos. A hiena poderia estar com um filhote, poderia haver duas... Sempre há algo novo a tentar.'
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