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Os problemas da Espanha são culpa da falta de nacionalismo e da divisão do país entre comunidades autônomas, como Catalunha e País Basco, que foram favorecidas pelo governo central para conter impulsos separatistas, enquanto outras regiões foram preteridas e seguem pobres.
Esse discurso, defendido por Santiago Abascal, líder do partido Vox (ultradireita) em um debate na TV na segunda (4), tem atraído eleitores. Além do nacionalismo, o partido defende a chamada família tradicional e critica a abertura a imigrantes.
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A legenda subiu para terceiro lugar nas pesquisas para as eleições nacionais de domingo (10). O país volta às urnas porque o vencedor do pleito de abril, Pedro Sánchez (PSOE), não conseguiu acordos para formar governo.
Na votação anterior, o Vox ficou em quinto lugar e elegeu 24 deputados. A mensagem de Abascal, que aponta uma saída simples para questões complexas e um inimigo a ser combatido, parece feita sob medida para ser espalhada nas redes sociais.
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Nas pesquisas, o PSOE (esquerda tradicional, atualmente no governo) segue na ponta, seguido pelo PP (direita). O Cidadãos (centro-direita) foi o que mais perdeu apoio e caiu para a quinta posição. No debate de segunda, seu líder, Alberto Rivera, radicalizou o discurso contra os separatistas catalães e exibiu, no palco, um pedaço de calçada de Barcelona que teria sido usado como arma pelos separatistas. A cena, obviamente, virou base para memes.
"As campanhas têm buscado cada vez mais aliar ações em várias redes sociais com ações em mídias tradicionais e no mundo real", analisa Berta García Orosa, professora de comunicação na Universidade de Santiago de Compostela.
No entanto, empresas de tecnologia e governo tentam evitar ações irregulares no mundo virtual. O WhatsApp prometeu conter o uso de suas plataformas para fins políticos na Espanha. Em uma reunião privada com os partidos, disse que vetaria o disparo de mensagens em massa com fins políticos, segundo a imprensa local.
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Na votação de abril, o WhatsApp suspendeu contas ligadas a partidos poucos dias antes da votação, mas sofreu críticas por bloquear primeiro o acesso do Podemos e, dias depois, de outras legendas.
A estratégia de envio massivo de mensagens é semelhante ao que a Folha de S.Paulo mostrou ter ocorrido na eleição brasileira de 2018. Na campanha, empresas brasileiras contrataram agência de marketing na Espanha para fazer, pelo WhatsApp, disparos em massa de mensagens políticas a favor do então candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Em setembro, o Twitter anunciou que eliminou 259 contas na Espanha ligadas ao PP que espalhavam mensagens de forma irregular.
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No mês seguinte, o Facebook divulgou uma revisão de suas políticas globais para remover campanhas para manipular o debate público em suas páginas. A empresa disse que passou a eliminar, além de contas falsas e posts com mentiras, o que ela chama de conteúdo inautêntico.
"A maior parte do conteúdo compartilhado por campanhas de manipulação não é necessariamente falsa e seria um discurso político aceitável se compartilhado por audiências autênticas. O problema real é que os atores por trás dessas operações estão usando comportamentos enganosos para ocultar a identidade da organização por trás de uma campanha, fazendo com que sua atividade pareça mais popular ou confiável do que é", disse a empresa em seu blog.
Apesar disso, no fim de outubro, o jornal El País encontrou nove páginas ativas usadas para atacar rivais do PP. A rede social disse à publicação que essas páginas não violavam seus termos de uso.
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A justiça eleitoral também tem tentado monitorar a questão e, em outubro, suspendeu campanha de anúncios digitais do Podemos, porque eles foram feitos fora do período oficial de campanha.
Para André Miceli, coordenador do MBA de marketing e negócios digitais da FGV, o aumento da vigilância sobre as páginas e a limitação do encaminhamento de mensagens no WhatsApp ajudam a conter as mensagens falsas, mas a principal questão é convencer os usuários a não repassar material de origem duvidosa.
"Os conteúdos virais se espalham por ações humanas, e não automáticas. E 85% das pessoas que repassam notícias falsas não leem o conteúdo inteiro delas. Precisamos ensinar as pessoas a duvidar."
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Por outro lado, Orosa aponta que o uso de robôs também tem crescido. "Eles são capazes de disparar uma grande quantidade de mensagens e chegar a nichos muito específicos. Houve registros de uso deles nas eleições para o Parlamento europeu, em maio."
Um estudo feito pela FGV, no ano passado, apontou que as campanhas de desinformação digital não costumam convencer alguém a mudar radicalmente de posição, como trocar a esquerda pela direita, mas são eficientes em convencer o eleitor a mudar para um candidato dentro do mesmo espectro.
Os números das pesquisas mostram algo nessa linha: os blocos de esquerda e de direita seguem sem conseguir maioria para formar governo sozinhos e terão de recorrer a acordos com legendas menores. Isso traz o risco de que o país, que realiza a quarta eleição em quatro anos, fracasse novamente na missão de formar um governo estável. Se isso ocorrer, piadas sobre a falta de entendimento circularão nas redes uma vez mais.
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