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Estranhos 'batimentos cardíacos' sob solo africano são detectados por geólogos

Estudo publicado na Nature Geoscience aponta pulsos rítmicos sob a Etiópia que influenciam terremotos, vulcões e podem formar um novo oceano

Luna Almeida

Publicado em 02/07/2025 às 20:46

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De acordo com o professor Tom Gernon, coautor da pesquisa, o fenômeno pode ser comparado ao fluxo sanguíneo em uma artéria / Thomas Gernon/Universidade de Southampton

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Uma pesquisa liderada por geólogos da Universidade de Southampton, no Reino Unido, identificou uma espécie de “batimento cardíaco” no interior da Terra, sob a região de Afar, na Etiópia. 

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O estudo, publicado na revista Nature Geoscience, analisou rochas vulcânicas recentes e antigas e detectou variações químicas que indicam a existência de pulsos regulares na chamada pluma do manto, uma coluna de rocha quente que sobe das profundezas do planeta.

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A descoberta revela que essa atividade rítmica no manto está diretamente ligada à fragmentação do continente africano. A movimentação da pluma está abrindo lentamente a crosta terrestre na região de Afar, onde se encontram três grandes fendas tectônicas, e pode futuramente dar origem a um novo oceano entre as placas que se afastam.

Pulsações profundas moldam a superfície da Terra

A equipe, liderada pela geóloga Emma Watts, analisou 130 amostras de rochas de erupções com menos de 2,6 milhões de anos e as comparou com amostras mais antigas. O objetivo era identificar mudanças químicas que revelassem comportamentos do manto terrestre. 

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Os resultados mostraram que a composição dessas rochas varia de forma periódica, como se a Terra tivesse um pulso interno.

Esses pulsos transportam diferentes materiais do manto e são canalizados pelas falhas tectônicas da região, influenciando a atividade vulcânica e sísmica. O manto sob Afar, segundo o estudo, não é homogêneo nem estático. 

Ele pulsa, e cada pulso tem uma assinatura química única, refletindo as variações nas profundezas da Terra ao longo de milhões de anos.

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Ritmo geológico e seus impactos

De acordo com o professor Tom Gernon, coautor da pesquisa, o fenômeno pode ser comparado ao fluxo sanguíneo em uma artéria. Nas regiões onde as placas tectônicas se afastam mais rapidamente, como no Mar Vermelho, os pulsos do manto se movimentam com mais eficiência e regularidade.

Essas pulsações são resultado de diferenças químicas profundas, causadas por processos como a reciclagem de material das placas tectônicas e a preservação de zonas do manto que permanecem inalteradas desde os primeiros estágios da formação da Terra. 

O fluxo do manto também pode se mover lateralmente sob a crosta, intensificando a atividade vulcânica onde ela é mais fina.

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Fenômeno não é exclusivo da África

Embora o comportamento identificado na Etiópia seja único, fenômenos semelhantes já foram observados em outras partes do planeta, como nas Ilhas Canárias e no Havaí. No entanto, nesses locais, as variações tendem a ocorrer mais no espaço do que no tempo. Já em Afar, o padrão pulsante tem um ritmo marcado e contínuo.

Segundo o geólogo Derek Keir, também da Universidade de Southampton, entender esses batimentos profundos é fundamental para compreender a dinâmica do interior da Terra e sua relação com a superfície. O próximo passo da equipe será investigar a velocidade dos fluxos e os efeitos mais amplos desse fenômeno na separação continental.

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