Este pequeno país enfrentou os Estados Unidos e hoje se transforma em potência mundial

O Vietnã, país que um dia simbolizou resistência diante de algumas das maiores potências militares do planeta, está prestes a protagonizar uma nova revolução, desta vez, econômica.

O governo anunciou o objetivo de crescer mais de 10% ao ano a partir de 2025 e transformar-se, até 2045, em uma nação socialista desenvolvida e de alta renda.

O plano foi apresentado pelo secretário-geral To Lam durante a Cúpula da Parceria para o Crescimento Verde e os Objetivos Globais 2030, em Hanói, diante de mais de mil delegados de 40 países. Segundo ele, o país vive um 'momento decisivo' e precisa aproveitar o novo equilíbrio geopolítico para modernizar sua economia.

'Se não inovarmos, perderemos', afirmou Lam, ao defender que o desenvolvimento vietnamita deve ser 'verde, inclusivo e fiel às raízes socialistas'.

De colônia ocupada à potência emergente

O anúncio ocorre 80 anos após a independência proclamada por Ho Chi Minh, em 1945 — um marco que colocou fim a quase um século de dominação colonial francesa e abriu caminho para décadas de guerras, primeiro contra a França e depois contra os Estados Unidos.

O país que resistiu à mais poderosa máquina militar do século XX, e que saiu devastado do conflito em 1975, hoje é uma das economias que mais crescem no mundo. Desde as reformas Doi Moi, lançadas em 1986, o Vietnã multiplicou seu PIB por 96 e se tornou referência em desenvolvimento acelerado com base socialista.

Em 1986, o PIB do país era de apenas US$ 8 bilhões; hoje ultrapassa US$ 470 bilhões. O PIB per capita saltou de US$ 80 para US$ 4.700, e o país já se prepara para ultrapassar Tailândia e Malásia até 2028, segundo o FMI.

'Eles estão realizando hoje o que desejavam desde antes da metade do século passado. O legado revolucionário se materializa nesse processo de desenvolvimento acelerado', analisa o economista Elias Jabbour.

O novo modelo vietnamita: socialismo de mercado

O segredo do sucesso está na fórmula que o Partido Comunista batizou de 'socialismo de mercado”'— uma combinação entre planejamento estatal e abertura controlada para o capital estrangeiro.

O modelo permitiu que o Vietnã atraísse investimentos, aumentasse a produtividade agrícola e se industrializasse rapidamente, sem romper com suas bases políticas.

Hoje, o país é líder regional em energia renovável, responsável por dois terços da capacidade solar e eólica da ASEAN, e investe pesado em tecnologia, infraestrutura e educação técnica.

O plano recém-aprovado pelo partido prevê reduzir o número de províncias, desburocratizar a administração pública e garantir que 60% do território tenha acesso direto ao mar — estratégia para fortalecer o turismo, a exportação e a integração regional.

O Vietnã e o Brasil: um elo estratégico em ascensão

O crescimento vietnamita também abre novas oportunidades para o Brasil. Em 2024, o comércio bilateral somou US$ 7,7 bilhões, com saldo positivo para o Brasil, e a meta é dobrar esse valor até 2030.

Os principais produtos exportados por brasileiros são soja, milho e algodão, mas o governo planeja diversificar, incluindo aço, madeira, alimentos e produtos químicos. Em contrapartida, o Vietnã exporta para o Brasil eletrônicos, peças automotivas e equipamentos de comunicação.

Durante a visita do primeiro-ministro Pham Minh Chinh, foram firmados acordos que ampliam o comércio de carne bovina brasileira e tilápia vietnamita, além de parcerias em energia, biocombustíveis, agricultura e inovação digital.

'O Vietnã deve ser visto como parceiro estratégico e preferencial do Brasil, especialmente diante das tarifas impostas pelos Estados Unidos', defende Jabbour.

Um pequeno gigante asiático

Com mais de 100 milhões de habitantes e uma trajetória marcada por disciplina e planejamento, o Vietnã se consolida como um novo protagonista da economia global.

A meta de se tornar uma nação socialista desenvolvida até 2045 é mais do que um projeto econômico — é a culminação de um processo histórico iniciado por Ho Chi Minh, que acreditava em um socialismo moderno, soberano e capaz de competir no mundo capitalista.

Da resistência anticolonial à liderança tecnológica, o país que um dia foi sinônimo de destruição agora é sinônimo de reconstrução e progresso. E mostra, com números e resultados, que um pequeno país pode desafiar impérios — e vencer.