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Discurso de Trump é preocupante e tem consequências obscuras, dizem analistas

Fazendo jus ao lema América Primeiro, o republicano defendeu em seu discurso, cheio de elogios a si mesmo, o patriotismo, em vez do globalismo

Folhapress

Publicado em 27/09/2018 às 13:01

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Fazendo jus ao lema América Primeiro, o republicano defendeu em seu discurso, cheio de elogios a si mesmo, o patriotismo, em vez do globalismo / Associated Press

O discurso de Trump na Assembleia-Geral das Nações Unidas nesta terça (25) pode ter arrancado risadas de líderes mundiais, mas, para analistas da área, representa uma nova ameaça à estabilidade da ordem mundial estabelecida após a Segunda Guerra. 

"Achei profundamente perturbador", afirma Robert Jervis, professor de relações internacionais na Universidade Columbia e um dos editores do livro "Chaos in the Liberal Order" (caos na ordem liberal), sobre o governo Trump e política internacional. "Foi a exposição mais coerente de sua visão de política externa que já vimos."

Fazendo jus ao lema América Primeiro, o republicano defendeu em seu discurso, cheio de elogios a si mesmo, o patriotismo, em vez do globalismo, e afirmou que só países aliados receberão dinheiro de Washington. 

Também atacou órgãos internacionais, como o Tribunal Penal Internacional e Conselho de Direitos Humanos da ONU, do qual os Estados Unidos não fazem mais parte.

"Ele praticamente decretou a morte do sistema internacional liberal que os Estados Unidos sustentam desde 1945, quando acabou a Segunda Guerra", diz Carlos Gustavo Poggio, professor de relações internacionais da Faap e pesquisador visitante na Universidade de Georgetown.

Apesar de as bravatas não serem novidade, assumem um peso importante quando faladas em um lugar como a Assembleia da ONU, diz ele.

O discurso foi mais ameno do que o do ano passado, quando ameaçou destruir a Coreia do Norte, chamou o líder norte-coreano Kim Jong-un de "homem foguete", ameaçou "esmagar terroristas perdedores" e declarou que algumas partes do mundo em conflito iriam "para o inferno". Ele falou mal do Irã e da Venezuela, mas elogiou a Coreia do Norte, Índia, Arábia Saudita, Polônia e Israel.

"Não houve menção direta à guerra ontem, apesar de ter se referido ao Irã em um tom belicoso", afirma Poggio. "A fala do ano passado preocupou muita gente."

A risada da plateia quando o republicano disse que seu governo conseguiu mais sucesso em dois anos do que qualquer outra administração reflete a forma com que boa parte dos líderes veem a atual administração.

A embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, disse à emissora Fox que os líderes riram porque "amaram o quão honesto ele é". "Não é diplomático e eles acharam engraçado", afirmou. Já o líder da Guarda Revolucionária do Irã, Mohammad Ali Jafari, afirmou que a reação é um sinal do isolamento do país, segundo a agência Fars.

Para o pesquisador de Georgetown, a reação pode fortalecer tanto o discurso de opositores, que vão usá-la como prova de que o presidente da maior potência do mundo não é mais respeitado, quanto de apoiadores, que já veem a elite global com maus olhos.

As consequências do discurso ainda não são claras. Para Jervis, boa parte dele foi voltada para consumo doméstico, tanto para a sua base de eleitores, que poderiam se energizar para votar em republicanos nas eleições legislativas, quanto para pessoas da própria administração.

"Muitas pessoas do governo sabem a posição do presidente não por meio de mensagens secretas, mas por meio de discursos como esse", diz. Ele diz que ainda é cedo para dizer se países que se sentiram ofendidos vão retaliar. "Muitos discursos são apenas ignorados", diz.

Melvyn Levitsky, professor de práticas e políticas internacionais na Universidade de Michigan e ex-embaixador no Brasil, acredita que a fala pode incentivar ainda mais países a buscarem outros aliados no resto do mundo. "Mas não acho que será uma tendência cortar os Estados Unidos de grandes discussões sobre paz e segurança no mundo."

Alguns líderes mandaram recados a Trump -nem sempre de forma direta- durante a Assembleia-Geral. 

O presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu o multilateralismo e propôs que países se recusassem a assinar acordos comerciais com aqueles que "não cumprem acordo". 

Já o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, disse que o multilateralismo é "a melhor forma de defender a soberania e a dignidade de cada estado" e incentivou os Estados Unidos a acabarem com o embargo comercial a Cuba.

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