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Entre as obras proibidas estão duas das maiores criações do escritor colombiano e ganhador do Prêmio Nobel Gabriel García Márquez: Cem Anos de Solidão e O Amor nos Tempos do Cólera
As restrições impostas em escolas norte-americanas reacendem um debate internacional sobre liberdade literária e a influência da política no ensino / Freepik
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O sistema educacional dos Estados Unidos enfrenta um dos períodos mais críticos de censura literária de sua história recente. De acordo com um novo relatório publicado pela PEN America, organização sem fins lucrativos que defende a liberdade de expressão e os direitos humanos, quase 4.000 livros foram banidos de escolas e bibliotecas públicas durante o ano letivo de 2024-2025.
Entre as obras proibidas estão clássicos da literatura mundial, incluindo duas das maiores criações do escritor colombiano e ganhador do Prêmio Nobel Gabriel García Márquez: Cem Anos de Solidão e O Amor nos Tempos do Cólera.
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O relatório, intitulado 'A Normalização da Proibição de Livros', documentou 6.870 casos de censura em 87 distritos escolares em todo o país. O levantamento descreve a tendência como um 'aumento exponencial' em relação aos anos anteriores, destacando que o número total de proibições é 'sem precedentes na história americana'.
De acordo com os pesquisadores, as decisões de veto não seguem critérios pedagógicos, mas refletem uma campanha ideológica impulsionada por grupos conservadores que buscam restringir o acesso a obras que abordam temas como diversidade racial, identidade de gênero, migração, sexualidade e direitos da população LGBTIQ+.
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'O que estamos vendo é uma tentativa de silenciar vozes e experiências que representam a diversidade do país. Trata-se de um ataque direto à liberdade intelectual', afirmou a PEN America em comunicado.
A Flórida lidera o ranking de proibições, com 2.304 livros vetados, seguida pelo Texas, com 1.781, e o Tennessee, com 1.622 casos. Todos esses estados têm governos controlados pelo Partido Republicano, e a maioria das decisões partiu de conselhos escolares locais, sob pressão de movimentos conservadores.
A PEN America classifica o fenômeno como 'uma onda coordenada de censura' que ameaça o livre fluxo de ideias e a diversidade cultural nas instituições de ensino.
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Em alguns distritos, a proibição de um único livro levou à retirada de toda a obra de determinados autores, um fenômeno que o relatório compara a uma “nova Letra Escarlate”, em referência à perseguição simbólica da literatura e do pensamento livre.
Além das obras de García Márquez, a lista de títulos banidos inclui:
A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende;
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Fahrenheit 451, de Ray Bradbury — ironicamente, um romance sobre a queima de livros e o controle do conhecimento;
Obras de Stephen King e Sarah J. Maas;
E até uma adaptação gráfica do Diário de Anne Frank, retirada de escolas no Tennessee.
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A PEN America alerta que o avanço das restrições literárias pode comprometer a educação democrática e a formação crítica dos estudantes, reforçando um clima de intolerância e medo nas escolas.
O relatório também ressalta que, embora as ações de censura partam de autoridades locais, o movimento tem ganhado força nacionalmente, com campanhas organizadas que miram editoras, professores e até bibliotecas públicas.
'Não é apenas sobre livros. É sobre o direito de pensar, questionar e conhecer o mundo por meio da literatura', resume o documento.Um alerta global
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As restrições impostas em escolas norte-americanas reacendem um debate internacional sobre liberdade literária e a influência da política no ensino.
Clássicos como Cem Anos de Solidão — que narram a história e a alma da América Latina — voltam a ser silenciados, não por regimes autoritários, mas dentro das próprias democracias.
Enquanto isso, escritores, professores e leitores se mobilizam para defender o acesso à leitura como um direito fundamental, lembrando que a censura, em qualquer forma, é sempre o prelúdio do esquecimento.
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