Consumo de refrigerantes na região chega a cerca de 684 litros anuais por pessoa, um dos maiores índices do planeta / Pexels
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Em San Cristóbal de las Casas, no estado de Chiapas, um fenômeno extremo chama atenção de especialistas: parte da população bebe mais de dois litros de Coca-Cola por dia.
O consumo de refrigerantes na região chega a cerca de 684 litros anuais por pessoa, um dos maiores índices do planeta, e cresce impulsionado pela precariedade no acesso à água potável.
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Em muitos bairros, a água encanada chega apenas alguns dias por semana — e, em vários casos, análises laboratoriais apontam contaminação por coliformes e pesticidas.
Com a dificuldade de acesso e a baixa qualidade da água, inúmeros moradores recorrem ao refrigerante produzido localmente. Sua disponibilidade, preço acessível e forte presença comercial tornam a bebida mais prática do que a própria água.
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Ao mesmo tempo, a planta de engarrafamento operada pela FEMSA, responsável pela Coca-Cola na região, possui permissão federal para extrair entre 1,14 milhão e 1,32 milhão de litros de água por dia — contraste que revolta comunidades que enfrentam racionamento frequente.
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O consumo elevado de bebidas açucaradas contribui para números alarmantes de saúde pública. Em Chiapas, cerca de 3 mil pessoas morrem por ano de doenças relacionadas ao diabetes, hoje a segunda causa mais comum de morte no estado.
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Médicos relatam aumento de casos de obesidade, doenças cardíacas, insuficiência renal e amputações em adultos jovens.
A falta de saneamento básico agrava o quadro. Em regiões com água contaminada, crianças enfrentam desnutrição e diarreias crônicas, ampliando vulnerabilidades.
Apesar de medidas nacionais como o imposto sobre bebidas açucaradas, o consumo segue alto em áreas mais pobres. A Coca-Cola se tornou elemento cultural em festas familiares, celebrações indígenas e até cerimônias tradicionais.
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Em comunidades tzotziles, a bebida é usada em rituais de “purificação espiritual”, evidenciando sua forte integração social.
A combinação de escassez de água, uso intensivo de recursos hídricos pela indústria, desigualdade social e influência cultural fez de San Cristóbal um estudo de caso mundial sobre dependência de bebidas açucaradas.
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Na cidade, a Coca-Cola deixou de ser apenas um hábito — tornou-se resposta a um sistema que falhou em garantir o básico: água limpa e acessível.