26 de Abril de 2024 • 05:44
Analistas veem risco ao Brasil com Donald Trump, mas também uma oportunidade / Associated Press
Donald Trump foi eleito presidente dos EUA deixando claro que a imprevisibilidade seria uma das marcas de suas ações na Casa Branca, mas dando algumas indicações de como vê as relações do país com o resto do mundo, com foco no protecionismo comercial e na ideia de "América em primeiro lugar".
Ao longo de sua campanha, o Brasil jamais entrou no radar de Trump, que só fez referências à América Latina ao falar do muro que pretende construir na fronteira com o México e questionar os termos de reaproximação diplomática com Cuba.
Para analistas, há riscos claros para o Brasil, sobretudo devido à retórica protecionista, mas também oportunidades, já que o país não entrou na lista de desafetos do novo presidente dos EUA e pode buscar avanços.
Embora a incerteza domine o começo do governo Trump, em termos de política comercial algumas diretrizes parecem claras, como a rejeição a acordos multilaterais no formato da Parceria Transpacífico (TPP), principal iniciativa de comércio internacional do presidente Barack Obama.
Por outro lado, Trump mostrou-se mais inclinado a negociar "acordos bilaterais justos, que tragam empregos e indústrias de volta aos EUA", como disse em seu primeiro pronunciamento oficial após a vitória na eleição.
Isso poderia abrir possibilidades para que o Brasil negocie acordos com os EUA, ainda que
permaneça vago o que Trump quer dizer com "acordos justos".
Seja como for, é um bom momento para o Brasil sair na frente e mostrar que está disposto a explorar oportunidades de cooperação com os EUA, acha Antonio Josino Meirelles, diretor-executivo do Brazil Industries Coalition, que representa empresas brasileiras nos EUA.
"É um momento importante para o Brasil apresentar seus interesses para o novo governo e o Congresso. Ainda não há clareza sobre os objetivos ofensivos da agenda comercial externa dos EUA, mas a história recente do diálogo comercial mostra avanços", diz Josino.
Para Leonardo Freitas, sócio da consultoria Hayman-Wodward, especializada em desenvolvimento de negócios nos EUA, um aspecto negativo nesta transição de poder é a tendência de que haja uma saída de investimentos do Brasil com o viés de alta dos juros nos EUA.
Mas ele concorda que há muitas áreas em que pode haver cooperação, e cita o interesse dos investidores americanos em áreas como energia renovável, educação, desenvolvimento de software e jogos eletrônicos e tecnologia espacial. "Estive com um pessoal do Rio Grande do Sul que está desenvolvendo drones para a Nasa", afirma Freitas.
Desconhecimento
Com a experiência de ter participado pessoalmente de negociações com Trump, Freitas diz que foi difícil lidar com ele, "por sua postura unilateral nos negócios", que sempre quer levar vantagem e não gosta de ser contrariado. "Ele não conhecia nada de Brasil, foi preciso explicar. Achava que o Brasil ainda era uma ditadura."
Além da falta de informações, há um desinteresse pela América Latina em geral, diz Peter Hakim, presidente emérito do centro de estudos Inter-American Dialogue.
Na opinião dele, a única referência ao continente, o muro na fronteira com o México, também é má notícia para o Brasil, já que simboliza uma rejeição à imigração e comércio com o resto da América Latina. "O que ouvimos em relação ao México é motivo de muita preocupação. Sei que [o presidente Michel] Temer sugeriu que o Brasil poderá se beneficiar de um distanciamento entre EUA e o México, mas acho o contrário. Trump já mostrou quais são suas preferências. Quando ele fala de México, não é só o México", diz.
Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás da China, com comércio bilateral de US$ 46 bilhões em 2016. No ano passado, o deficit comercial com os EUA diminuiu quase quatro vezes ante 2015, para US$ 646 milhões, principalmente com a queda de importações brasileiras causada pela crise econômica. Com a inclinação do governo Trump de aumentar exportações, há risco de o deficit voltar a crescer.
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