A ovelha com 4 chifres mexe com o popular e a imaginação das pessoas / Imagem gerada por IA/DL
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Numa colina isolada do interior britânico, há quem jure que já viu, de relance, uma sombra estranha recortada contra o nevoeiro. Não é lobo, nem cão, nem cabra. É algo que se move devagar, em silêncio, com um contorno que parece errado à distância: o corpo pequeno, malhado de preto e branco, e uma coroa de chifres que se multiplica na penumbra, como se a cabeça abrigasse mais de um animal.
Os moradores mais antigos dizem que, quando o vento sopra do norte, é possível ouvir o tilintar seco dos chifres se tocando, como madeira contra pedra. Alguns cruzam a estrada apressados ao cair da tarde, evitando olhar para os campos. Outros fazem o contrário: param, encostam na cerca e ficam observando. Procuram, entre dezenas de ovelhas comuns, aquela figura que parece deslocada do rebanho – a Jacob, a ovelha de quatro chifres, que muitos insistem em chamar, meio em brincadeira, meio em respeito, de “a bíblica”.
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À luz do dia, ela é só um animal magro, de olhos escuros e atentos, lã manchada em blocos irregulares. Mas basta o céu ficar cinza para as manchas se misturarem à sombra, e os chifres – dois apontando para cima, dois abrindo para os lados – ganharem um desenho quase ritualístico. Não é difícil entender por que, em volta dela, nasceram tantas histórias. Há quem diga que ela nunca se perde, que sempre encontra o caminho de volta mesmo em tempestades. Outros juram que, quando uma Jacob entra em um rebanho, a noite parece mais inquieta: os cães latem sem motivo, as lanternas falham, e os sonhos dos que vivem por perto ficam mais vívidos.
Em vilarejos de pedra e madeira, as famílias penduram, por tradição, pequenas figuras de ovelhas malhadas nas paredes da sala. Algumas têm quatro chifres, esculpidos com cuidado. Perguntados sobre o motivo, os moradores riem, desconversam, mas repetem, como se recitassem algo que ouviram desde crianças: “É para lembrar que nem tudo o que parece estranho é ameaça. E que algumas criaturas vieram de muito antes de nós”. O tom é leve, mas a superstição persiste — muita gente evita, por exemplo, ficar sozinha no campo quando uma Jacob se separa do grupo e permanece parada, observando, como se estivesse contando as pessoas ao redor.
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No fim, a ovelha de quatro chifres existe numa fronteira curiosa: é, ao mesmo tempo, objeto de estudo de criadores e geneticistas e personagem de histórias sussurradas em cozinhas frias, ao redor do fogão. Entre números, padrões de chifres e cruzamentos controlados, sobra sempre um pedaço que escapa à explicação – aquele instante em que alguém cruza a estrada, sente um arrepio, olha para o campo vazio e, por um segundo, tem certeza de ter visto, bem ali, uma pequena figura malhada desaparecendo no nevoeiro com seus quatro chifres desenhados contra o céu.