Mongaguá

Mães denunciam merenda insatisfatória em Mongaguá

Pais relatam falta de proteínas e frutas nas escolas de Mongaguá, enquanto Prefeitura justifica ajustes emergenciais

Carlos Ratton

Publicado em 04/09/2025 às 06:40

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As mães revelam que existe verba municipal e estadual para que sejam servidas refeições decentes / Divulgação

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Arroz com feijão e salada. Não há proteína nem frutas. O café da manhã é com leite e três bolachas contadas. Esse é o relato enviado à Reportagem por um grupo de mães sobre a alimentação servida para estudantes da rede de ensino de Mongaguá, pelo menos nos últimos 15 dias. Algumas participantes ativas em grupos de redes sociais, elas revelam que o problema, apesar de amplamente divulgado e discutido no ambiente virtual, não vem sendo levado a sério pela Prefeitura.

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“Eu não tenho filhos na escola, mas um dia já tive e, como administradora da página Mongaguá na Tela e devido a tantas denúncias que recebemos, estou indignada com o que estão fazendo com as crianças e adolescentes. Muitos têm apenas a refeição da escola no dia e esse direito está sendo tirado”, afirma Eli Valesi. 

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“Eu tenho quatro filhos. Três filhos meus estudam em escola pública aqui de Mongaguá. De uns dias pra cá, meus filhos vêm relatando que falta alimento nas escolas. Hoje (segunda-feira, a minha filha chegou relatando que comeu arroz com farofa na escola de Agenor de Campos. O meu outro filho, que tem oito anos, estuda numa escola no mesmo bairro e é autista. Pedem para a gente chegar com a criança entre 6h40 e 6h50 para o café, que tem três bolachinhas de água e sal ou rosquinhas, com café com leite. Se você chegar às sete horas, a criança não toma mais café, porque eles falam que acabou”, relata Bárbara Mota do Amaral Gonçalves. 

As mães revelam que existe verba municipal e estadual para que sejam servidas refeições decentes às crianças. “Quem não consegue chegar para o café, fica até às 11 horas sem comer. O ‘almocinho’ deles é arroz, feijão e farofa. A situação está muito complicada e não adianta a gente ir lá reclamar porque os profissionais da escola falam que as coisas (dinheiro e alimentos) chegam, mas não à mesa das crianças. Então, ficamos sem entender”, completa.

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Ângela Maria da Silva afirma que a escola de seu filho está há mais de 20 dias sem seguir o cardápio nutricional por falta de produtos. “Também tenho uma filha na rede estadual de ensino, no qual o repasse é feito pelo Estado. A Prefeitura deveria comprar os produtos para a escola. Estão servindo arroz com feijão ou com uma salada, não tem os componentes nutricionais. Nem frutas tem”. 

Gás 

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Segundo Ângela, há 20 dias acabou o gás na escola em que sua filha estuda no período noturno. “Eu entrei em contato com o subprefeito porque a merendeira foi em todas as salas comunicar que não tinha o que dar para eles comerem porque não tinha gás. Coloquei a questão nas redes sociais e providenciaram o gás alegando que a escola não tinha pedido gás, o que é mentira porque eu conheço o procedimento da escola”, completa, acreditando que não iria ter gás para fazer a merenda para as crianças da manhã do dia seguinte, que estudam em período integral, entre as sete da manhã e quatro e meia da tarde. 

Alcione Cristine alerta que, com o novo governo municipal, vieram algumas mudanças nas áreas de recursos humanos e pedagógica, mas não relacionadas à alimentação escolar, apesar das verbas serem carimbadas e estarem sendo repassadas.

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“Onde está o dinheiro? Ninguém dá uma satisfação para a gente que somos pais, que pagamos nossos impostos As crianças deveriam estar na escola alimentadas, educadas, num lugar seguro. Estamos trabalhando e não temos cabeça para saber se o filho está comendo As nossas crianças estão abandonadas dentro da escola, apesar das serventes e professoras fazerem o que podem”, afirma Cristine.

Thiago Ferreira Secundo é pai de dois adolescentes. Ele diz que já há algumas semanas os filhos vêm sendo defasados na merenda escolar, chegando em casa com fome. “Nos últimos dias, tive relatos de servirem arroz e feijão, com uma salada feita de qualquer jeito e até com cheiro ruim. Depois sem proteína. Por dias comendo biscoito e leite. Meus filhos têm condições, mas tem criança que depende exatamente disso (alimentação correta), pois ao contrário atrasa o crescimento, a função cognitiva”, afirma. 

Prefeitura 

Procurada, a Prefeitura de Mongaguá revela que até 27 último a proteína foi servida normalmente nas unidades escolares. O contrato com a fornecedora já foi assinado, já está empenhado e a previsão da empresa é de que até a próxima sexta, 05/09, a situação em relação à proteína esteja solucionada. 

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A respeito do café da manhã, a depender do clima mais frio ou mais quente são servidos iogurte, suco. Conforme o pedido da criança tem achocolatado, café com leite. As bolachas não são contadas. Uma vez por semana tem a distribuição de pães. Depende da vontade da criança. 

Panorama  

A nova Administração explica que entre os problemas mais urgentes identificados ao assumir estava a ausência de contrato vigente e de recursos empenhados para garantir a merenda escolar nas unidades da rede municipal. O fornecimento da alimentação vinha sendo mantido por contratos firmados ainda durante a gestão anterior. 

“O contrato regular teve início em 8 de março de 2024 e encerrou-se em 8 de março de 2025. Na véspera do vencimento, dia 4, foi solicitado um novo processo licitatório, mas o Tribunal de Contas do Estado (TCE) suspendeu o procedimento por falhas no edital, como a inclusão irregular de alimentos in natura e congelados no mesmo lote — prática proibida pela legislação.

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Como alternativa, explica a Prefeitura, foi firmado um contrato emergencial em 21 de fevereiro de 2025, com vigência até 21 de junho de 2025, durante o governo interino. No entanto, esse contrato venceu antes da posse da nova gestão, que assumiu sem nenhuma previsão contratual ou orçamentária para dar continuidade ao fornecimento da merenda escolar.

“Assumimos uma Prefeitura com problemas graves e urgentes. A falta de planejamento e gestão nos contratos da merenda escolar é reflexo de um cenário de calamidade administrativa que estamos enfrentando desde o primeiro dia”, destacou a prefeita Cristina Wiazowski.

Em agosto de 2025, a nova gestão obteve autorização do TCE para retomar o processo licitatório, após as devidas correções exigidas. A equipe técnica trabalhou com agilidade para regularizar o edital e viabilizar a contratação adequada. 

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Paralelamente, foram feitos remanejamentos de recursos internos — com cortes inclusive no gabinete da prefeita e em outras áreas administrativas — para garantir a compra emergencial dos alimentos até a finalização do novo processo.

Apesar das dificuldades herdadas, a Secretaria de Educação assegura que em nenhum momento houve redução da merenda escolar. A distribuição segue sendo realizada pelo sistema per capita, de acordo com o número de alunos matriculados, e o cardápio é elaborado conforme as diretrizes do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), previstas na Resolução CD/FNDE nº 06/2020 e na Lei nº 11.947/2009.

Os serviços de entrega dos alimentos perecíveis foram terceirizados e ajustados para manter a regularidade. Até 27 de agosto, a proteína foi servida normalmente nas unidades escolares; nos dias seguintes, o cardápio passou por ajustes técnicos, com suplementação de outros alimentos ricos em proteína, sempre respeitando as normas do FNDE e garantindo o valor nutricional adequado.

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“A merenda escolar é um serviço essencial. Não podíamos deixar nossas crianças sem alimentação por falhas cometidas por administrações anteriores. Nossa gestão agiu com responsabilidade para resolver o problema e garantir o direito dos alunos”, afirmou a prefeita. 

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