Elisa Murgel vai lançar o livro "Devaneios" no dia 15, no Museu Conceição, no centro em Itanhaém / Nayara Martins/DL
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A artista Elisa Murgel, de 64 anos, revela no livro “Devaneios” como decidiu publicar a sua trajetória de vida. Ao fazer a transição de gênero em 2020, ela enfrentou diversos desafios na vida profissional e pessoal, após mais de 50 anos vividos em silêncio. Formada em engenharia mecânica, em São Paulo, hoje, ela atua como engenheira ambiental.
Atualmente, Elisa se sente mais realizada e livre. E mora em uma casa da família em Itanhaém. Ela tem se dedicado às artes, à pintura e à fotografia artística.
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O livro será lançado dia 15 deste mês, no horário das 15 às 18 horas, no Museu Conceição de Itanhaém, no centro histórico.
Confira a entrevista a seguir:
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O livro será lançado, em primeira mão, em Itanhaém, no dia 15 deste mês / Nayara Martins/DL Elisa Murgel – O livro será lançado, em primeira mão, em Itanhaém, no dia 15 deste mês, a partir das 15 horas, no Museu Conceição de Itanhaém (antiga Câmara de Cadeia) no centro. E pode ser vista a exposição “Janelas do Olhar” e, ainda, a nova exposição “Devaneios” que mostra as aquarelas em torno das fotografias publicadas no livro.
Elisa – Tenho três livros publicados, mas são técnicos na área de engenharia ambiental que escrevi na década de 1980. O livro “Devaneios” é o primeiro livro pessoal e foi escrito pelo coração.
Elisa – Devaneios podem significar pensamentos, o que teremos muitos no livro, mas significam também sonhos, os quais me mantiveram viva nesses anos todos, ou utopia como acreditei serem meus sonhos.
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Mas podem significar também imaginação, faz de conta, invenções ou fantasia, o mundo em que tive de sobreviver por mais de 50 anos, pois a realidade a mim destinada era muito dolorosa por não poder sonhar com a minha utopia, que agora se tornou realidade.
Elisa – Não sou escritora, embora tenha atuado na engenharia com relatórios técnicos. Fiz minha transição de gênero aos 59 anos, em 2020, e pertencia a um grupo social privilegiado. Fui um homem profissional, heterossexual, casado e com filhos. Tive uma vida privilegiada, pude estudar, viajar e vivia em um círculo de relacionamento na elite paulista, que eram pessoas mais conservadoras.
Ao fazer minha transição de gênero, antigos amigos de colégio me apoiaram e me incentivaram a contar a minha história. Isso me ajudou bastante e me deu muita luz.
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Um dos colegas de ginásio foi a primeira pessoa a me aconselhar sobre a importância de escrever um livro da minha vida. Ele falou “todo mundo tem uma Elisa dentro de si, pode ser uma profissão que não seguiu, uma arte que não desenvolveu, um amor que não foi atrás e até um modo de vida que não realizou”.
Elisa – O livro tem três objetivos. Um deles é voltado às pessoas que têm conflito de identidade de gênero e está tentando se encontrar em algumas histórias.
Outro objetivo é ajudar as pessoas que não têm um conflito de gênero, mas que convivem ou não com alguém e que têm ideias preconceituosas e geram segregações nas relações.
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A grande mensagem do livro é mostrar que sou uma mulher como as outras. Atuei por 40 anos como engenheira e hoje atuo na engenharia ambiental. Após os 60 anos, dei uma guinada na vida profissional e me tornei artista, com dedicação à arte. Tenho dois filhos e vou ser avó.
Além de mostrar que as pessoas transgênero existem e isso não muda a vida de ninguém.
Elisa – As primeiras lembranças foram na infância, aos 3 anos de idade já sabia que era uma menina. Tive uma irmã mais velha que ia para a escola. Acreditava que quando começasse a ir à escola a fada iria me transformar em uma menina.
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E que todos eram como a borboleta, que nascia lagarta e virava borboleta. Ainda criança descobri que não havia fada para fazer isso.
Segui minha vida e passei a adolescência na década de 1970, em uma sociedade conservadora e preconceituosa. Na época, a identidade de gênero era pouco conhecida e não havia a cirurgia. Ou seguiria a vida à margem da sociedade ou me guardava. Não tive a coragem de abrir mão de ter uma família e uma carreira profissional.
Me casei e tive dois filhos. Tenho uma família que amo e fui provedor dessa família.
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Em 20219 estava em estado de desespero, mas já havia conversado sobre o assunto com a minha esposa. Comecei a ter problemas de saúde, como palpitações e fui ao cardiologista, além de ter cálculo renal. Consultei uma psiquiatra e recomecei a terapia.
Tive a certeza de que o único caminho para me estabilizar emocionalmente era fazer a transição de gênero, mas teria que largar tudo, a carreira profissional, a família e os amigos.
No início de janeiro de 2020, fui internada devido a uma tromboembolia pulmonar. O médico disse que não sabia como havia sobrevivido. Decidi não me permitir morrer sem experimentar viver. Só fui efetivar minha transição de gênero em setembro de 2020, devido à pandemia.
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Tive uma grande rejeição no núcleo familiar e as pessoas mais próximas se afastaram de mim. Meu sócio me deu total apoio. Na área profissional, tive uma aceitação de forma fantástica e até melhorou minha relação com os clientes.
Elisa - Com a mudança me tornei uma pessoa melhor, mais sociável e extremamente mais sensível. Para ser feliz e se sentir plena temos que ser verdadeiros.
Meu sócio assumiu a empresa de engenharia em São Paulo, mas continuo atuando de forma remota na engenharia ambiental.
Hoje me dedico às artes, como na fotografia, na pintura e na música. A arte é a minha atividade principal.
Moro no bairro Suarão, em Itanhaém, em uma casa centenária da família. Tenho uma vida mais tranquila e mais econômica. Além de ter a praia, os amigos e um sentimento de pertencimento à cidade. Sou mais feliz vivendo desse jeito.
Elisa – Pessoas interessadas em adquirir o livro podem entrar no site da Noz Editoria ou irem ao lançamento do livro dia 15, no Museu Conceição, em Itanhaém. Ou entrar no site da Uiclap. E ficará à disposição pelo E-book, na Amazon. E no Instagram @elisamurgel.
Dia 22 deste mês, o livro será lançado no bairro de Pinheiros, na Capital. E ainda dia 29, haverá uma exposição de arte e a tarde de autógrafos no shopping West Plaza, em São Paulo.