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Guarujá

Programa vai até escolas para falar sobre suicídio com adolescentes

Pesquisa aponta que, entre 2006 e 2015, aumentou em 24% o número de suicídios de jovens brasileiros.

Jeferson Marques

Publicado em 21/09/2019 às 10:03

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Adriana Acarino (voluntária), Maria Letícia Marcondes (psicóloga) e Maria Cristina Pereira (professora) conversaram com os alunos / NAIR BUENO/DIARIO DO LITORAL

Apesar dos índices de suicídio terem diminuído em todo o mundo, no Brasil houve um aumento de 24% entre os adolescentes que vivem em grandes cidades. Foi o que demonstrou uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O estudo foi publicado neste ano na Revista Brasileira de Psiquiatria.

Pensando nesse assunto, a psicóloga Maria Letícia Marcondes Coelho de Oliveira, que também é pesquisadora em intervenções das competências sociais e emocionais, desenvolveu o programa 'Lêvitude Social, Saúde e Leveza Emocional'. A ideia é levar até os adolescentes os conhecimentos necessários para que eles desenvolvam competências pessoais que ajudem no controle de suas emoções.

O projeto já foi desenvolvido em duas escolas de Guarujá e atendeu mais de 600 adolescentes. São dez encontros presenciais com muita conversa, dinâmicas, conscientização e técnicas aplicadas para que todos consigam lidar com a ansiedade, depressão e demais condições psicológicas.

"Trabalhamos desde a compreensão das emoções, a reestruturação cognitiva e uma postura assertiva, que seria uma espécie de autocontrole em determinadas situações, quando o jovem não precisa se calar ou também agredir, encontrando o meio termo (assertividade)", explica.

A psicóloga coloca que o programa ajuda os adolescentes a terem um maior conhecimento de si, melhorando a sua estima, confiança e, também, deixando-os cientes de que todos são capazes de buscar os seus objetivos e que há sentido em suas vidas. Tudo de forma mais leve, participativa, responsável, solidária e feliz.

"Nós falamos da autolesão e também do suicídio. Focamos nisso como um processo de transformação através do conhecimento e do preparo para lidarem com as adversidades. Os jovens muitas vezes encontram dificuldades em lidar com a angústia e, como forma de expressão, acabam descontando essa dor psicológica no corpo", comenta.

Maria Cristina Pereira, professora de Filosofia e Ciências Sociais na Escola Estadual Professora Thereza Silveira de Almeida, de Guarujá, foi quem entrou em contato com Maria Letícia para que ela levasse o seu programa até a escola, tendo em vista o comportamento de muitos alunos.

"Alguns deles estavam nervosos, se automutilando. Então, notamos a necessidade de algum trabalho diferenciado ser desenvolvido aqui. Infelizmente estamos em um ritmo de vida onde todos pagam o preço, com cada vez menos espaços de socialização e o excesso de informação sem orientação, o que tem gerado essa angústia neles", lembra a professora.

Bianca Pereira de Mendonça Moura, de 15 anos, participou do projeto e disse ter ficado muito animada com tudo o que viu, ouviu e aprendeu. "Eu era uma pessoa muito explosiva, sem paciência para as coisas, e através das dinâmicas e das técnicas que a Letícia nos ensinou hoje eu consigo pensar melhor, ter mais calma, me controlar, conversar mais com meus parentes, amigos e colegas. E aos outros jovens peço que vocês simplesmente falem, conversem e se expressem. Não guardem para vocês nenhum sentimento", aconselha.

Ana Vitória dos Reis, também de 15 anos, disse que os exercícios de respiração que ela aprendeu nos encontros ajudaram em sua ansiedade e também no comportamento de forma geral. "Eu ficava nervosa e já descontava nos outros, tinha falta de ar e ficava ofegante. Aprendi a controlar isso, a conversar mais com as pessoas à minha volta e a entender que devemos viver intensamente cada momento da nossa vida", relembra.

"Eu não expressava os meus sentimentos e parecia uma panela de pressão. Depois de participar do projeto, aprendi a conversar mais, a expressar o que eu sinto sem precisar machucar as pessoas", conta Maria Elaine do Carmo de Souza, de 16 anos.

"O pessoal da minha idade, hoje, só se expressa pelo celular e isso as afasta das outras pessoas. A tecnologia tem distanciado muito uns dos outros e, por isso, digo: saiam um pouco do mundo virtual e conversem com aqueles que te amam, que estão ao seu redor ou que param algum tempo para ouvir o que você tem a dizer", finaliza.

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