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Guarujá

Exclusivo: loteamentos e marinas de luxo burlam fiscalização anti-coronavírus em Guarujá

Moradores de loteamentos de luxo e marinas instaladas às margens do Canal de Bertioga usam helicópteros para vir e trazer amigos de São Paulo para o Município

Carlos Ratton

Publicado em 31/03/2020 às 11:59

Atualizado em 31/03/2020 às 16:31

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Loteamentos e marinas de luxo de Guarujá burlam controle contra o Covid-19 em Guarujá / Reprodução

Enquanto o prefeito-médico Valter Suman (PSB) e equipes da Prefeitura promovem barreiras para controlar os acessos rodoviários e também via balsas em Guarujá, moradores de loteamentos de luxo – Iporanga, São Pedro, Tijucopava e Itaguaí- e marinas instaladas às margens do Canal de Bertioga, na área conhecida com Rabo do Dragão, usam helicópteros para vir e trazer amigos de São Paulo (Capital) para o Município. Até Uber está sendo usado para burlar as fiscalização na balsa de Bertioga.

Vale lembrar que Guarujá possui quatro loteamentos e nove marinas, sendo duas tipo condomínios - Marina Guarujá e Marina Del Rey - às margens da Rodovia Ariovaldo de Almeida Viana (SP-61), conhecida como Guarujá-Bertioga, onde trabalham diaristas, caseiros, seguranças, marinheiros, prestadores de serviços de manutenção, reformas de barcos e construção de casas, num contingente de mais de quatro mil pessoas e seus familiares, que estariam expostas ao perigo de contaminação.

Damião dos Santos Machado é pescador artesanal e testemunha do que vem ocorrendo. Segundo ele, há uma semana, vem notando um aumento do número de helicópteros. No último final de semana, transito foi bem intenso. “Estão descendo e subindo em horários noturnos, a partir das 17 horas. Eu pesco próximo à Marina Guarujá e percebo a chegada de grandes grupos e o movimento intenso de esquis aquáticos, cuja navegação à noite é proibida. Também vejo indo helicópteros para os loteamentos”, relata.

Uber

Por conta da pandemia, quem mora e trabalha em Bertioga e Guarujá só pode atravessar a balsa se apresentar comprovante de residência ou da empresa. No entanto, proprietários de imóveis e convidados estão tendo circulação liberada e contato direto com moradores e trabalhadores. Um caiçara, que prefere não ser identificado por ser amigo de vários funcionários dos condomínios, disse que “tem proprietário descendo a serra de Uber até Bertioga e pedindo para o caseiro busca-lo de carro. Assim, ele burla a barreira da Prefeitura que impede veículos com placas de São Paulo. Muitos trazem amigos e funcionários da Capital”, conta.  

Um caseiro entrevistado pela Reportagem que, por razões obvias, pediu para preservar a identidade, mostra o clima: “Todos estão com muito medo. Ninguém sabe por onde os patrões andam e com quem eles se relacionam. Não querem que os caseiros saiam, mas trazem pessoas pra cá. Os loteamentos estão lotados. Fica difícil de evitar o contato”, desabafa.   

Comunidade

A situação vem causando medo em toda a comunidade caiçara do Rabo do Dragão. Segundo o secretário geral da Associação dos Moradores e Amigos da Cachoeira, Sidnei Bibiano Silva dos Santos, famílias de pescadores que vivem as margens do Canal de Bertioga estão preocupadas com o fluxo de turistas. “Muitos frequentam outros países, estão vindo para os loteamentos e marinas e podem ter contraído o Coronavírus. Temos trabalhadoras de todas as regiões do Guarujá, que usam o transporte público. As autoridades precisam ver isso urgente”, afirma.

Regras próprias

Loteamentos e marinas de Guarujá praticamente possuem regras próprias. Somente no ano passado é que a Prefeitura conseguiu fiscalizar o acesso de cidadãos às praias cercadas pelos condomínios após recomendação do Ministério Público Federal (MPF) e em função de uma série de reportagens do Diário alertando sobre as restrições impostas pelos loteamentos. A série foi selecionada em 2012 para a final do 57° Prêmio Esso de Jornalismo, o principal da categoria em todo o País.

Barreiras

A Prefeitura de Guarujá está fazendo sua parte. Organizou barreiras seguindo o decreto municipal 13.569. O texto também oficializou o estado de calamidade pública na Cidade, decorrente das medidas de enfrentamento à pandemia. As barreiras funcionam 24 horas e estão montadas em sete pontos de Guarujá, além das saídas das travessias de balsas de Santos e Bertioga.

Existem, ainda as barreiras sanitárias de fiscalização, únicos acessos à cidade. Todos os bloqueios ficam nos arredores da Rodovia Cônego Domenico Rangoni. O trabalho está a cargo de agentes da Guarda Civil Municipal e das diretorias municipais de Trânsito, de Transporte e de Força Tarefa, todos órgãos ligados à Secretaria Municipal de Defesa e Convivência Social.

O acesso é livre para os veículos cujos ocupantes comprovem domicílio no Município, e não apenas ocupação eventual. Também têm passagem liberada os veículos em comprovado exercício de atividades essenciais como segurança pública, saúde e assistência social, além dos motoristas que estiverem transportando alimentos, combustíveis e outros insumos indispensáveis para o abastecimento local.

Os motoristas que se recusarem a retornar estão sujeitos a terem seus veículos removidos ao pátio municipal, podendo ser conduzidos ao Distrito Policial para lavratura de boletim de ocorrência por violações ao Código Penal e ao Código de Trânsito Brasileiro.

Todas essas medidas seguem as diretrizes das decisões metropolitanas tomadas pelos nove prefeitos da Baixada Santista em reunião por videoconferência, do Governo do Estado, além de recomendações do Ministério Público de São Paulo.

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