Esportes

Ultramaratonista do litoral de SP conclui 2ª Volta ao Mundo e entra para a história

A jornada começou no dia 31 de março, nas Pirâmides de Gizé, no Egito

Igor de Paiva

Publicado em 14/07/2025 às 15:50

Atualizado em 14/07/2025 às 18:10

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Durante os 102 dias do desafio / Arquivo Pessoal

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No última sábado, o ultramaratonista do litoral de São Paulo Alexandre Sartorato concluiu um dos maiores feitos da história do esporte mundial: sua segunda Volta ao Mundo, correndo uma ultramaratona por dia.

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A jornada começou no dia 31 de março, nas Pirâmides de Gizé, no Egito – único monumento ainda existente entre as sete maravilhas do mundo antigo – e durou exatos 102 dias, com trechos diários de corrida que variaram entre 12 e 18 horas.

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Sartorato percorreu 27 países em cinco continentes: Egito, Grécia, Albânia, Macedônia, Sérvia, Kosovo, Montenegro, Bósnia, Croácia, Itália, Vaticano, San Marino, Áustria, Liechtenstein, Suíça, Alemanha, França, Luxemburgo, Bélgica, Holanda, Inglaterra, País de Gales, Brasil, Uruguai, Argentina, Japão e Nova Zelândia. Foram milhares de quilômetros corridos, inúmeros desafios enfrentados e uma única certeza: “Acredito que com mais este Desafio, reafirmo minha condição de um dos homens mais resistentes e determinados da História”, afirma o atleta.

Do deserto á neve

Durante o percurso, Sartorato enfrentou temperaturas que variaram de quase 40°C próximo ao deserto do Egito, com sensação térmica e temperatura do asfalto a mais de 50º C, até 10°C negativos nos Alpes Suíços. Enfrentou granizo, neve, altitudes superiores a 2.380 metros e dias de mudanças térmicas bruscas, o que prejudica muito a imunidade e o condicionamento físico.

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Além disso, o desafio exigiu dele adaptação a diferentes fusos horários, culturas, alimentações e rotinas. “A maioria das pessoas não tem ideia de como é difícil sair de um avião após inúmeras horas de voo e imediatamente retomar uma ultramaratona. O corpo incha, formiga. É uma sensação péssima”, conta.

A realidade por trás da resistência

Durante os 102 dias do desafio, Alexandre Sartorato consumiu mais de 800 mil calorias — um volume gigantesco de energia, mas ainda insuficiente diante da exigência física diária. “Parece muita coisa, mas, infelizmente, a alimentação ficou muito abaixo do razoável. Por diversos fatores, em vários dias fiquei sem comer por muitas e muitas horas. Isso prejudicou bastante”, relata.

A escassez de alimentos foi provocada, em grande parte, pela falta de estrutura em regiões remotas e pela dificuldade de acesso a refeições completas em alguns trechos do trajeto. Em vários momentos, o ultramaratonista correu longas distâncias sem sequer ingerir algo sólido e água.

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O descanso também foi um capítulo à parte. Em muitos países, sem acesso a pousadas ou hotéis, Sartorato dormiu em uma pequena barraca de camping, montada no chão. “Minha meta era estabelecer mais uma marca histórica. A gente precisa estar preparado para encarar o pior quando quer fazer algo grande.”

A preparação para esse tipo de situação começou ainda em casa. “Durante alguns meses antes de correr o mundo, dormi muitas noites numa barraca montada na sala da minha casa. Sabia que enfrentaria dificuldades e me preparei para isso.”

Marcas do corpo e da alma

Durante a travessia, Sartorato desenvolveu assaduras, bolhas, microlesões musculares por esforço repetitivo e chegou a sofrer o descolamento das unhas dos dedões dos pés – uma das consequências mais dolorosas de sua jornada.
As condições do percurso também exigiram adaptações. Em muitos países, correr por rodovias não é permitido, o que levou o atleta a seguir por estradas de barro, areia, pedras, vegetação e terrenos irregulares. . Em algumas regiões, o declive lateral da pista também contribuiu para o desgaste físico. “Corri por muitos dias e horas em estradas com inclinação de cerca de 15%. Isso gera dores nas pernas, nas costas e machuca os joelhos”, relata.

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Ainda assim, completou o desafio distribuindo energia e camisetas: foram mais de 100 peças entregues ao fim de cada jornada diária. “Cada camiseta teve um significado. Representava uma pessoa, uma entidade, um lugar. Cada dia teve uma história diferente. Todas essas histórias serão parte de um documentário e um livro: Minha família chamada mundo.”

Foram usados 60 pares de meias, 8 calças de lycra e 26 pares de tênis – estes, inclusive, feitos com material reciclado. “Quero ajudar a desenvolver calçados de alta performance com preço acessível para a população.”

Causas sociais

Além da façanha esportiva, quase inimaginável, Sartorato reforçou o propósito social da expedição. A volta ao mundo teve como bandeira o combate à fome, ao racismo, à miséria e a outras injustiças sociais.
“Todos somos irmãos nesta grande família chamada mundo. É inadmissível aceitar que coisas ruins ainda aconteçam com tantas pessoas. Eu tive uma infância difícil, sei o quanto dói uma mãe não poder alimentar o filho”, desabafa.

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Filme, estudos científicos e próximos desafios

Ao longo da jornada, cenas foram gravadas para um filme sobre a vida e os feitos de Sartorato. Além disso, a expedição serviu como base para um estudo sobre os limites do corpo humano. Exames médicos foram realizados antes do início e após o término da corrida. Além disso, durante toda a jornada foram monitorados indicadores como frequência cardíaca e glicemia.


 “Vamos ver se existe algo diferente no meu organismo ou se é apenas fé em Deus, disciplina e muita determinação”, diz o atleta.

E ele não pretende parar. Entre os próximos planos estão: uma Volta ao Mundo em 80 dias, uma nova jornada com número ainda maior de países – passando inclusive pela Antártida – e o objetivo de estabelecer uma marca mundial de quilômetros percorridos em um único ano.

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De Cubatão para o mundo

Natural de Cubatão (SP), onde é embaixador oficial, Sartorato carrega o nome da cidade como símbolo de resistência, inspiração e superação.

Em 2003, ele percorreu o Brasil do Oiapoque ao Chuí em apoio ao Instituto Nacional de Câncer. Em 2007, tornou-se o primeiro homem a concluir uma Volta ao Mundo correndo uma ultramaratona por dia, em prol da organização SOS Kinderdorf International.

“Tenho certeza de que honrei o nome de Cubatão, do Brasil e de todas as pessoas que me acompanham. Passei por dificuldades inimagináveis e segui até o fim. Estou muito orgulhoso do que fiz.”

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