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Seis meses após Olimpíada, medalhistas são demitidos, perdem parceiros e verbas

Arthur Zanetti, por exemplo, estrela da ginástica artística, está em baixa. Suas dez fontes de rendimento antes dos Jogos foram reduzidas para apenas três

Estadão Conteúdo

Publicado em 05/03/2017 às 16:01

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Após a Olimpiada, Arthur Zanetti conta com três fontes de rendimento / Divulgação/COB

Arthur Zanetti, por exemplo, estrela da ginástica artística, está em baixa. Suas dez fontes de rendimento antes dos Jogos foram reduzidas para apenas três

Por Estadão Conteúdo

Seis meses após os Jogos Olímpicos do Rio, medalhistas sofrem com queda nos investimentos federais, dificuldades para atrair novos patrocinadores e até demissão pura e simples, como o técnico da seleção de futebol, Rogério Micale, que perdeu o emprego depois da conquista inédita do ouro.

"Até parece que estamos sendo punidos pelo bom resultado", lamenta Felipe Wu, prata no tiro esportivo e que ficou sem treinador, psicólogo e fisioterapeuta por corte de verbas da confederação.

A lista de decepções - foi essa a palavra que Wu utilizou - engloba várias modalidades. Maicon Andrade, medalha de bronze no tae kwon do, demorou mais de dois meses para receber o prêmio de R$ 12,5 mil pela conquista. De acordo com um de seus técnicos, Reginaldo dos Santos, o próximo ciclo olímpico já está comprometido por causa da demora e do escândalo de corrupção na confederação, que está sendo gerida por um interventor. "Ele perdeu cinco torneios importantes e não temos planos para o segundo semestre."

Até Arthur Zanetti, estrela da ginástica artística, está em baixa. Suas dez fontes de rendimento antes dos Jogos foram reduzidas para apenas três até agora. Bem humorada, Poliana Okimoto - a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha olímpica nos esportes aquáticos - deu um jeito de contornar a crise depois de perder seu maior patrocinador, os Correios. "Ainda bem que meu marido é meu técnico. Assim, ele trabalha de graça", brinca.

Falta de verba esmaga nanicas

Se os atletas de renome estão sofrendo com a crise econômica e a fuga de patrocinadores após os Jogos, a situação é dramática para as modalidades menores, aquelas que convivem com a falta de visibilidade.

O badminton, por exemplo, planeja acabar com a seleção brasileira permanente depois que perdeu 30% dos recursos da Lei Piva, cerca de R$ 500 mil. As alternativas são reduzir pela metade a participação em torneios internacionais ou diminuir o número de atletas da seleção. A modalidade não possui outras fontes de patrocínios públicos ou privados, pois não fazia parte do programa Brasil Medalhas.

"A situação piorou muito", diz José Roberto Santini, superintendente de Gestão Esportiva da Confederação Brasileira de Badminton (CBBd). Torneios como o Campeonato Brasileiro, que está sendo disputado no Esporte Clube Pinheiros, ainda não foram afetados exatamente por causa do apoio dos próprios clubes.

No levantamento de peso, Fernando Reis afirma que a situação virou um "salve-se quem puder". "Caiu tudo. O apoio do Ministério do Esporte e da Petrobras. Perdemos até o plano de saúde dos atletas", explica o quinto colocado na Olimpíada do Rio.

Na mesma situação, Ane Marcelle, que alcançou o melhor resultado do Brasil na história do tiro com arco ao chegar às oitavas, dá aulas da modalidade para complementar o orçamento, cortado pela metade. "Todo mundo esperava que uma Olimpíada no Brasil poderia mudar um pouco a situação da falta de recursos", lamenta a arqueira.

Francisco Arado, técnico da mesa-tenista Bruna Takahashi, identifica uma debandada de atletas para a Europa para diminuir os gastos. "É mais barato ficar três meses na Alemanha do que ir e voltar a cada torneio", diz. Para um atleta, uma diária com transporte, alimentação e inscrição nos torneios gira em torno de 150 euros (R$ 496).

Repasse das lotéricas cai R$ 13 milhões

Uma das razões da pindaíba do esporte brasileiro em 2017 foi a redução da arrecadação. A Lei Agnelo/Piva destina 1,7% do prêmio pago aos apostadores de todas as loterias federais do País ao Comitê Olímpico do Brasil (COB). A arrecadação do ano passado foi 14% menor em relação a 2015. Com isso, a entidade vai repassar R$ 85 milhões diretamente para as confederações, R$ 13 milhões a menos que os R$ 98 milhões do ano olímpico. Todas as confederações foram obrigadas a se adaptar à nova realidade.

Em seu primeiro mês como ministro do Esporte, Leonardo Picciani (PMDB) cancelou um edital de R$ 150 milhões que garantiria projetos para apoio a atletas após os Jogos. O órgão afirma que os critérios eram desconhecidos. "Não houve redução de investimento e sim o cancelamento de um edital, cujos critérios eram desconhecidos pela nova gestão que acabara de entrar. O apoio não vai cessar, porém será embasado em critérios melhor estruturados", diz nota do órgão à reportagem do Estado.

Por outro lado, o Ministério do Esporte garante que não mudará as regras do Bolsa Atleta, o maior programa de patrocínio individual do País. Das 19 medalhas conquistadas pelos brasileiros nos Jogos do Rio, apenas o ouro do futebol masculino não contou com atletas bolsistas.

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