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Papo de domingo: “O Comitê Gestor é um fracasso”

Em entrevista exclusiva ao Diário do Litoral, ex-presidente do Santos Marcelo Teixeira não poupa críticas ao Comitê Gestor do Santos, pede esclarecimentos e garante que não pensa em voltar

Publicado em 09/02/2014 às 11:40

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Já são quatro anos longe da administração do Santos Futebol Clube após uma década como presidente. Mesmo assim, Marcelo Teixeira se mostra preocupado com os rumos que o alvinegro praiano está levando e critica atitudes incompatíveis com as propostas oferecidas pela chapa liderada por Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro em campanha eleitoral, em 2009.

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Confira a entrevista completa:

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Diário do Litoral (DL) - Um Comitê Gestor é o ideal para uma administração de clube de futebol?

Marcelo Teixeira - Eu acho que, dentro do futebol principalmente, pela cultura do nosso país, eu acho que o regime ideal seja o presidencialista. Até porque o presidente, de uma forma democrática, pode compor o seu grupo e se cercar de profissionais que venham a dar o devido respaldo para sua administração. Essa é a forma ideal para administração de um clube. E você tem, obviamente na figura do presidente, a responsabilidade das decisões. Desse jeito (que é hoje), você tem uma morosidade e naturalmente você perde as boas opções de mercado e as que sobram custam mais caro para o Santos. Por quê? Por causa da demora nas decisões. E principalmente na área do futebol, que exige uma antecipação.

DL - Nesse ponto, fazer apenas uma reunião semanal, como o Comitê Gestor faz, atrapalha muito?

MT - Impossível que haja um bom resultado com esse tipo de ação. Quando eu assumi (a presidência), em 2000, era de fato uma situação diferente estatutariamente. O Santos não permitia que você contasse com profissionais. Eu poderia ter diretores, assessores e treinadores. Quando nós mudamos o estatuto em 2001, e a razão principal não era por causa das reeleições, e muito mais por causa da exigência da mudança estatutária para essa realidade profissional, foi quando nós começamos realmente a montar uma estrutura diferenciada. Essa estrutura o Santos possuía já a partir de 2002 e foi vigente até o ano de 2009, quando nós saímos.

É a melhor estrutura e melhor opção administrativa para o futebol. Moderna, rápida, profissional, onde você mantém um nível salarial compatível com os profissionais que você tenha no mercado e você consegue resultados práticos unindo o quê? Principalmente profissionais que tenham capacidade e vínculo com o clube, que tenha um passado no clube que permita que as atitudes e ações sejam mais respeitadas do que a de profissionais vindos de fora. Então, eu acho que essa é o principal motivo do sucesso do Santos, pois o Santos hoje tem o melhor trabalho de base do Brasil. E não foi fruto de um acaso, foi fruto de um planejamento, de um programa. E independente do Comitê Gestor, independente do presidente, essa estrutura está montada. Agora, obviamente, você precisa cotar com profissionais que venham a dar continuidade para esta estrutura. Se você não colocar profissionais capacitados, a estrutura pode até suprir por um tempo, como estão suprindo com Gabigol, Geuvânio, são todos nossos, sãos todos de origem da minha estrutura, da nossa administração, que ainda estão despontando como frutos da nossa estrutura. Isso é um orgulho, porque eu fui, não como dirigente, mas como educador . Eu transformei o Santos no clube que é formador de uma maneira diferenciada.

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DL - Existe um gosto especial ao assistir estes garotos brilhando no profissional hoje?

MT - É um orgulho, eu me sinto um pai desses meninos, sabe aquela coisa que você acompanha desde menino? São meninos que foram realmente preparados não só no aspecto do futebol, nós antecipamos fases desses meninos para eles amadurecerem mais rápido.

Mas neste momento eu acho que deveriam dar continuidade ao Claudinei (Foto: Luiz Torres/DL)

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Então, se você for avaliar a administração e aquilo que foi propagado em campanha eleitoral, o presidente está afastado, todos do Comitê Gestor original ou foram afastados, ou se demitiram ou foram demitidos, então por ai você já nota que é um fracasso, as pessoas ficaram pelo caminho, ninguém permanece trabalhando e dando continuidade ao projeto que eles prometeram, grande parte do que eles prometeram não foi cumprido. Então, eu acho que o associado confiou numa política de trabalho e após quatro anos nitidamente nota uma política que não deu resultado. É uma política que foi tentada no sentido de inovar, de trazer o que é feito numa empresa para um time de futebol, mas fracassou.

DL - Muito se fala que clube de futebol é diferente de uma empresa no que se refere a administração. Você concorda?

MT - Um clube de futebol não é diferente de uma empresa. As finalidades devem ser iguais, você deve profissionalizar, você deve ter resultados práticos, você tem que ter o controle financeiro, administrativo, para que o clube não tenha prejuízos, mas o problema é que muito se falou na teoria e na prática não deu resultado, isso nitidamente não deu resultado.

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DL - Você acredita na possibilidade do Comitê Gestor renunciar?

MT - Isso é secundário. Porque existem muitas coisas pendentes, muitos assuntos mal esclarecidos. Eu estou entendendo que o próprio Conselho (Deliberativo), que é o órgão fiscalizador, deve tomar algumas atitudes.

A gente nota o quê? Existe um grupo no próprio Conselho, da própria situação, que gostaria de criar uma alternativa para preservar a imagem do presidente (Luis Álvaro). Eu não sou contrario a isso, mas eu não concordo. Eu acho que tem que ser de uma forma democrática, que seja votado, que seja colocado em discussão. Agora, não de uma maneira a criar uma alternativa, o presidente se licencia, se ausenta, se fasta, praticamente fica fora durante uma gestão na qual ele é o responsável, o vice assumindo e se responsabilizando pelas ações...tudo isso deve ser apurado, deve ser esclarecido porque o associado e o torcedor, que são os nossos patrimônios, ficam em dúvida.

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Por mais que você conheça, eu tenho uma certa experiência, mas existe uma série de questões, envolvendo negociações, contratos, envolvendo as próprias despesas desse Comitê Gestor, são coisas muito estranhas, eu acho que devem ser esclarecidas. O Santos não pode ficar tanto tempo com assuntos em aberto e não dar uma solução prática que venha a dar uma resposta ao associado.

DL - Você acredita que o afastamento do Luis Álvaro foi um golpe político, como muitos acreditam dentro do Conselho?

MT - Eu não sei se o termo correto seria um golpe ‘político’. É uma maneira de você não adotar uma medida que talvez fosse uma medida mais drástica, caso o assunto fosse votado.

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Agora, eu não vejo problema no vice ter assumido, já que o presidente está afastado. Mas eu vejo sim que o vice, independe de estar em outro grupo, conduzisse as coisas de uma forma transparente, que é o que eles tanto pregaram, muito. Eu acho que nesses últimos anos não houve de uma maneira clara e objetiva, muitos desses tópicos e questões, não foram esclarecidas.

DL - Você sente a falta de uma atitude mais firme do Santos no ‘caso Neymar’?

MT - Eu acho que o Barcelona adotou sua postura, o pai do Neymar eu não esperava outra coisa, de uma forma muito corajosa, ele veio a publico e esclareceu a parte do atleta: ‘recebi uma carta em 2011 assinada pelo presidente’. Então, em 2011, o que tem o jogador a fazer se ele recebe uma carta que lhe dá o direito de negociar? Ele vai negociar.

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Marcelo Teixeira não poupou críticas ao Comitê Gestor do Santos Futebol Clube (Foto: Luiz Torres/DL)

DL - O Santos reclama que não foi comunicado.

MT - Isso não é avisado, isso não existe no futebol, o Santos oficialmente entregou a ele (uma carta) dizendo: ‘pode negociar’. Se o atleta recebe essa carta, ele vai ao mercado. Se o Santos não tem interesse em negociar: ‘Pai do Neymar, eu não tenho interesse que você venha negociar neste momento’.

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Você não pode entregar, ainda mais com o perfil e o que representa o Neymar para o clube e o patrimônio, porque o que você conseguiu fazendo isso? Você conseguiu depreciar seu patrimônio ao dizer ‘pode negociar’. A outra (postura), como sempre existiu com esses grandes talentos é dizer: ‘eu não negocio, eu não quero que o menino saia daqui. Quer? Está interessado? Vem e paga a multa contratual e acabou’. Essa é a postura de um clube que tem um jogador do nível de um Neymar.

Agora, você antecipa o contrato dele de 2015 para 2014 e dá uma carta para ele negociar? Alguma coisa está errada.

DL - Se você fosse o presidente, você venderia ou seguraria o Neymar?

MT - Eu não concordo é com a postura que o Santos adotou. Não só com o Neymar, foi assim com o Paulo Henrique (Ganso), com o repatriamento do Elano, do Ibson, do Henrique. O Santos paga demais, não valoriza bem seu patrimônio e depois vende mal. Essa é uma característica que tem sido realizada nessas negociações. Eu não concordo, isso está depreciando o patrimônio do clube. Quando o Neymar consegue receber algo, é de direito dele. O Santos é que permitiu que fosse feito assim.

DL - O que você achou do ‘sumiço’ da carta assinada pelo Luis Álvaro, posteriormente divulgada por Neymar?

MT - É muito estranho, um documento oficial, é estranho, não é comum. Isso também pode ter acontecido com essa coisa do presidente sair, o vice assume, mudam as pessoas do Comitê e ninguém sabe onde pode ter ido parar essa carta. Isso acontece porque o Santos hoje está muito dividido, a própria situação está muito fragmentada.

Veja o seguinte, de 2000 a 2009, existia uma situação, existia uma oposição. Facilmente você notava quem era o líder da situação.
Quem assume aqui? É o presidente? O Comitê Gestor? Onde está o presidente hoje? Onde está a origem do Comitê Gestor? Você não sabe. Quem vai responder por essas ações? É o presidente? É o vice? É o Comitê Gestor? É o Conselho? Quem?

Mais uma vez, o Santos vai ficar numa situação na qual eu me preocupo com isso. Eu me preocupo com o lado político.

Não noto esperançosamente que exista uma liderança jovem, com foi a minha em 2000, surgindo, aglutinando. Não vejo, tomara que surja, que venha a tentar unir esses grupos hoje existentes, você também não nota isso na oposição, de gente que venha e diga: ‘A minha proposta é esta’. Existem grupos que contestam, que criticam.

DL - A oposição está muito dividida?

MT - A oposição está muito dividida e com propostas parecidas. Na minha época também era assim, a oposição não tinha propostas consistentes, tanto que eu ganhei cinco eleições de dois em dois anos, em todas as urnas, em todas as urnas. O que significa isso? Uma oposição fraca, uma oposição sem consistência.

Hoje, na parte oposicionista, muitos grupos, sem uma proposta que não seja aquela coisa rancorosa, no sentido de vingança. Hoje é o que você nota, a não ser em raras oportunidades. Hoje você só vê ataques a este ou àquele grupo. E isso é ruim para um clube de futebol, você não tem propostas que realmente mudem alguma coisa, é uma coisa muito mais pessoal, vingativa, de rancor, de ódio.

DL - Você pensa em voltar à presidência?

MT - Não. Não digo nunca mais, eu não posso afirmar isso. Mas eu saí muito recentemente, há quatro anos, depois que saí, eu me afastei politicamente do clube e esse afastamento foi muito traumático pra mim e para minha família porque foi um afastamento que eu sofri muitas acusações, muitas inverdades. Óbvio, isso não me afastou e não me afastará definitivamente do Santos porque meu amor pelo Santos é muito maior. Eu até respeito essa opção do quadro associativo e, quando sou chamado, eu vou, converso, faço o que for possível pelo Santos dentro daquilo que for da minha alçada, independente de ser A, B ou C, pra mim não importa, eu estou ajudando o Santos. Agora, essa separação foi muito recente. Se você me perguntar: ‘Você tem vontade de voltar ao Santos?’. Hoje eu não tenho. Porque não é vontade, não é o orgulho de ser presidente do Santos. Eu quero ter o prazer e hoje eu não tenho. Porque eu fiquei muito tempo, 10 anos como presidente é muito tempo. Então, esse desgaste continua.

DL - O que você acha da Teisa (Terceira Estrela Investimentos)?

MT - Você tem que separar a parte do clube e de um grupo investidor. Ninguém está discriminando a ajuda de um grupo de investimento hoje, mas separadamente. Este é o grupo gestor, este é o grupo de investimento, esta é a diretoria, este é o conselho. Sem a interferência do Comitê Gestor, eu não sei quem é o Comitê Gestor, quem é a Teisa. Agora, a Teisa já está fazendo trabalho para outros clubes de futebol, então, aquela proposta de apoio ao clube já é proposta para apoio a outros clubes também.

DL - Você acha que o sócio do Santos foi enganado?

MT - Há uma decepção clara por todos os objetivos que não foram alcançados. Obviamente a gente nota que há uma reprovação por parte do associado e do torcedor. Claro que existem coisas positivas, como a questão do marketing, houve uma ampliação muito forte nesse sentido, apesar que todos os clubes conseguiram isso também, há uma diferença muito grande de como era em 2009 para hoje, mas muitas coisas, infelizmente, não deram resultados práticos, tanto que as pessoas que queriam implantar, hoje se afastaram ou estão fora dessa realidade, dessa estrutura.

DL - O que você achou da contratação de Leandro Damião através de um grupo de investimento por R$ 42 milhões? E o fato do clube ter a obrigação de devolver esse dinheiro corrigido no máximo em cinco anos?

"Você tem que separar a parte do clube e de um grupo investidor" (Foto: Luiz Torres/DL)

MT - O Santos contabilizou ao longo desses anos várias negociações que não deram certo. A tendência, o histórico dessa administração não é tão positivo. Se você notar, com vários talentos como Alan Patrick, Rafael, Paulo Henrique (Ganso), Neymar, vários jovens talentos que o Santos negociou e nós nunca vamos notar que o Santos tenha alcançado valores tão altos como este.

Com o histórico de jogadores que o Santos negociou, mesmo alcançando títulos, Libertadores, mesmo tendo o principal jogador do Brasil e um dos principais do mundo, em nenhuma nós alcançamos uma grande negociação.

Espero que o Damião venha, faça uma grande campanha, seja o artilheiro, seja o nosso goleador, e que o Santos consiga fazer uma grande negociação. Eu, particularmente, acredito que, com a crise financeira dos clubes, chegar alguém aqui no mercado brasileiro, tirar um jogador do Santos, com o perfil do Leandro Damião, por mais de R$ 42 milhões, eu acho muito difícil. Pode ser que ocorra, é possível pela característica do jogador, goleador. Você pode até alcançar um valor como esse ou parecido com esse, mas obter um valor superior para obter lucro, eu já acho muito difícil. Empatar esse tipo de investimento eu já acho muito difícil, lucro eu acho quase impossível.

E como as eleições acontecem em dezembro, esta dívida ficará para o próximo presidente.

Eu acho que isso, de alguma maneira, pode atrapalhar a ascensão do Gabigol, que é um craque, que entrou e já marcou quatro gols no campeonato (Paulista). Tomara que o Leandro Damião consiga ser um artilheiro e que consiga fazer até com que jovens, como o Gabriel, aproveitem disso para evoluir.

Você vê hoje o Santos, com a estrutura que o Oswaldo (de Oliveira) montou, diga-se de passagem, feita pelo Claudinei Oliveira, quando corríamos um risco danado, quando perdemos o Neymar e no meio de um campeonato tão importante como o Brasileiro, ele sabia com quem estava contando, corrigiu o momento, o Santos lançou os meninos e ai surgiu a ascensão da equipe. Naquele momento, quem ia imaginar que o Santos fosse acabar em sétimo no campeonato? Ninguém, nem o torcedor mais esperançoso. Quando todos diziam: ‘vai cair’, o Santos superou a adversidade e terminou o campeonato bem.

Então, o Oswaldo não é mágico. Isso é mérito do Claudinei Oliveira, mérito para a comissão técnica. Obviamente, alguma coisa já é fruto do trabalho do Oswaldo e da atual comissão técnica. Tomara que a entrada de um jogador tão caro como esse (Damião) seja uma forma de manter esse tipo de trabalho que está sendo feito, mas eu fico muito, muito preocupado com o resultado financeiro dessa operação que foi feita com o Damião.

DL - Você achou acertada a decisão de demitir o Claudinei de Oliveira?

MT - Nada contra o atual técnico, que até teve uma passagem com a nossa administração, Mas neste momento eu acho que deveriam dar continuidade ao Claudinei, eu daria continuidade ao Claudinei, mas eu não sei como as coisas funcionavam administrativamente.

DL - Por que Oswaldo de Oliveira não deu certo como técnico do Santos em 2005?

MT - Naquela época aconteceu algo que eu estou notando que está acontecendo de novo. O Oswaldo fica muito influenciado com a parte externa, com a imprensa, com o torcedor e eu acho que isso atrapalha o trabalho, eu acho que ele tem que se concentrar no trabalho. Ele tem um potencial muito bom e acho que ele amadureceu, apesar que em algumas atitudes (desse ano) eu lembrei de 2005.

Se o torcedor está ali no alambrado falando, se existem 20 mil, ele paga o ingresso, ele está ali para apoiar, para torcer, pra criticar. Então, eu acho que ele, como treinador de ponta, que confia no seu trabalho, estes são problemas secundários, isso é que eu acho que naquele momento atrapalhou bastante.

Em um momento ele se desconcentrou do trabalho, o grupo começou a ter uma série de problemas internos, brigas de jogadores, discussões internas, não brigas de fato, mas problemas que a gente via que não estavam sendo contornados e resolvidos. E houve um momento, até a contragosto, porque não queríamos ter esse tipo de atitude, principalmente pelo homem que ele é e pelo potencial que ele tem, mas não havia outra alternativa, não tínhamos outro caminho que não fosse a saída. E 2005 foi um ano conturbado no clube porque estava saindo àquela geração campeã em 2002 e 2004 e a retomada de um novo grupo a partir de 2005.

Nessa saída de uma geração, em 2005, nós não conseguimos com o Oswaldo o que o Claudinei conseguiu agora após a saída do Ganso, do Neymar. O que todos imaginavam que seria um prejuízo enorme, veio um treinador que conseguiu concentrar o trabalho e resolver.

DL - Você é a favor da construção de um novo estádio em outra cidade ou acredita que o Santos deva priorizar a Vila Belmiro?

MT - O Santos tinha um projeto para construir um novo estádio fora da cidade de Santos. O projeto para construção do estádio em Diadema é nosso, feito durante a nossa administração. E quando ele deveria ser entregue? Exatamente agora, como todos os estádios estão sendo, devido aos benefícios da Copa do Mundo.
Por exemplo, o Internacional foi escolhido para ser sede da Copa do Mundo. Não impediu que o Grêmio fizesse a sua Arena. A empresa que estava negociando com a gente para fazer o estádio do Santos foi o grupo que fez o estádio do Grêmio.

Então, o Santos perdeu essa oportunidade, não deu continuidade as negociações que nós deixamos em aberto para o estádio em Diadema, onde o grupo queria que fosse. Porque em Diadema é perto para o pessoal que mora em São Paulo e facilita para o torcedor que mora em Santos, porque você não precisa entrar em São Paulo, pegar aquele trânsito. O estádio ficaria muito próximo da rodovia dos Imigrantes, teria capacidade para 40 mil torcedores, padrão Fifa.

Nós estávamos nas últimas tratativas, a ideia era começar a construir em 2010. Então, quando houve as desistências de São Paulo e Rio, os investidores começaram a buscar novos campos, foi quando foram para o Sul e fecharam com o Grêmio.

No meu entendimento, o Santos perdeu a chance. O Santos pode hoje querer, pode sonhar com estádio, não vejo hoje viabilidade para uma construção. Onde vai existir hoje um investidor que venha fazer um estádio para o Santos? De que forma? Com que razão? Qual é o objetivo disso? A não ser satisfazer o interesse do Santos. Não existe, passou a Copa do Mundo, passou a oportunidade.

DL - O Pacaembu não é uma alternativa?

MT - Eu enxergo o Pacaembu não para o Santos participar de uma licitação, de uma administração. O Pacaembu é em uma região central de São Paulo, onde o Santos pode mandar a qualquer momento seus jogos, paga sua cota e tchau. E nenhum momento, no meu entendimento, você vai assumir um elefante branco só para jogar.

O que o Santos vai fazer ali? Vai fazer show? Não pode, porque a região não permite. Vai fazer shopping? Não dá porque não tem espaço. Vai fazer estacionamento? Não tem como. Você não vai ter nada, apenas as incumbências administrativas e um estádio que não é padrão Fifa.

Hoje a Vila Belmiro é a prioridade. O que se pode fazer é continuar modernizando a Vila e possivelmente amplia-la, porque já existe esse projeto.

No pronunciamento do presidente Odílio Rodrigues sobre o caso Neymar, muitos veículos de comunicação foram barrados na Vila Belmiro. Só puderam cobrir a entrevista alguns veículos previamente selecionados pelo próprio clube, o que gerou estranheza e revolta de uma grande parte dos jornalistas e de seu sindicato.

DL - Como você enxerga esse episódio?

MT - Quando eu assumi, eu particularmente dava entrevista em pé e ficavam todos vocês (jornalistas) ou na chuva, ou onde desse. Nós fizemos um centro de imprensa. Porque o Santos tem que estar sempre na vanguarda e tem que dar a possibilidade de sempre deixar uma boa imagem daquilo que faz, daquilo que representa e daquilo que é para o futebol brasileiro.

Quem transmite essa imagem? Quem leva assa mensagem? Quem noticia diariamente? São os órgãos de imprensa. Então, no meu entendimento, uma das prioridades foi ter uma estrutura voltada ao serviço de imprensa.

Você tomar uma atitude como essa de selecionar A, B ou C...não creio que tenha sido uma atitude tomada pelo Odílio (Rodrigues, presidente), não creio. O Odílio é uma pessoa pública, e também não conheço hoje os responsáveis pela assessoria de imprensa. Creio que, pela minha experiência, tenha tido algum tipo de problema envolvendo a assessoria de imprensa, porque não vejo um resultado prático para a diretoria em adotar uma atitude como essa em selecionar os órgãos de imprensa. Porque você (enquanto presidente) quer esclarecer, você quer falar, você quer ser questionado.

Em crises, eu assumia para o meu lado para desviar a atenção, para vocês (jornalistas) me sabatinarem e eu tentar direcionar a crise da maneira que eu pudesse. Quando tem uma crise como essa, o presidente toma uma atitude de querer esclarecer e você seleciona órgão, então você está pondo mais fogo na crise, está pondo mais problema. Você está omitindo e você está escondendo aquilo que você tenha que falar.

Eu acho que isso deve ser um dos grandes problemas dessa parte de restruturação que o clube vem sofrendo diante de alguns profissionais que muitas vezes não tem tanta experiência e adotam medidas como esta que são completamente antidemocráticas, que vão contra os direitos adquiridos, e as pessoas têm de ser respeitadas.

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