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Papo de Domingo: jovem cadeirante vira símbolo de luta

Com síndrome rara, Ronald dos Santos, de 16 anos, vê no jornalismo a chance de lutar por acessibilidade nos estádios pelo Brasil

Publicado em 05/06/2016 às 10:30

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"Mesmo que ninguém acredite, preciso acreditar. Somos do tamanho dos nossos sonhos." / Arquivo Pessoal

As dificuldades impostas pela vida não impediram Ronald dos Santos, de 16 anos, de correr atrás dos seus sonhos. Portador da Síndrome de Marfan, deficiência que afeta sistema esquelético, além de olhos e pele, o jovem Capita, como é chamado pelos amigos, trava batalha incessante contra a doença e hoje é símbolo na luta de muitos cadeirantes pela acessibilidade nos estádios.

Mesmo andando em cadeira de rodas e com grandes dificuldades para locomoção, Ronald, que ainda cursa o 3º ano do Ensino Médio, em São Paulo, se desdobra para acompanhar o mundo do esporte. Ele tem o sonho de se tornar um jornalista e se apega a essa paixão para ajudar e servir de inspiração àqueles, que, assim como ele, sofrem com a falta de apoio no Brasil.

De acordo com levantamento realizado pelo Ministério do Esporte, em janeiro de 2016, apenas 13 de 155 estádios particulares espalhados pelo Brasil possuem conforto, segurança, acessibilidade e condições sanitárias e de higiene para receber portadores de deficiência física.

Principal estádio da Baixada Santista, a Vila Belmiro esteve bem distante de nota máxima exigida  pelo Governo Federal. O clube alvinegro ganhou classificação de “duas bolas”, uma espécie de “estrela” como acontece com hotéis. Os estádios podem receber de “uma a cinco bolas”.

Entre as histórias de luta contra a doença e o sonho de servir como símbolo de acessibilidade nos estádios, Ronald Capita contou à Reportagem do Diário do Litoral um pouco mais sobre a sua emocionante história de vida. Confira:

Diário do Litoral - Quando e como teve início a sua deficiência?
Ronald dos Santos -
Nasci de seis meses, com uma meningite no cérebro. Comecei a fazer tratamento, e com um ano e meio descobriram  que eu tinha a Síndrome de Marfan e, por consequência, uma escoliose. Desde então faço tratamento na AACD.  Por conta da doença, tive que ser submetido a aproximadamente 10 cirurgias.

Diário do Litoral – A luta contra a doença é incessante? De que forma ele atinge o seu dia a dia?
Ronald
– Eu andava normalmente, levava uma vida normal. Após iniciar o tratamento, no entanto, já não era a mesma coisa. Andava, mas com dificuldades e meio agachado. Com o tempo, fiquei debilitado. Em uma das cirurgias realizadas, mexeram na medula e não consegui mais andar. Por conta disso, os nervos foram encurtando.  Mas não perdi as esperanças de andar novamente, não.

Diário do Litoral – Você se apega em algo para seguir com a cabeça erguida nessa batalha?
Ronald
– Me apego ao jornalismo, sem ­dúvidas. Deva Pascovicci, hoje na FOX Sports, e ­Mário Marra, comentarista da CBN e dos canais ESPN, tiveram grande parcela nisso. Quando estive internado após as cirurgias de risco, me apeguei ao rádio para esquecer as dores.  E eles eram os meus preferidos para acompanhar aos jogos. Tenho contato próximo com ambos. Converso, peço dicas, conselhos...

Diário do Litoral –  Tem o sonho de seguir na profissão?
Ronald
- Com certeza! Trabalhar como jornalista esportivo é um dos meus maiores sonhos, bem como voltar a andar novamente. Mas um passo de cada vez. Com humildade, espero chegar lá e realizar os meus sonhos. No futuro, espero também ajudar outras pessoas, que, assim como eu, sofrem com a falta de acessibilidade nos estádios. Levo isso comigo na vida...

Diário do Litoral – Você falou de acessibilidade nos estádios. Pode ser um símbolo nesta nova batalha na sua vida?
Ronald
- Desde o ano passado eu tenho tentado mudar essa história, com matérias no site esportivo “Torcedores.com” e no “Onda.News”, que fala sobre causas sociais. Mas não sei o que acontecerá.  Infelizmente, não tenho conseguido muita divulgação sobre o assunto em grandes mídias. Em contrapartida, muitos atletas têm se engajado e apoiado a campanha, como o atacante Gabriel e o meia atacante Lucas Lima, do Santos.

Diário do Litoral – Mesmo com o apoio, ainda vê como um sonho muito distante?
Ronald –
Cadeirantes sofrem bastante, principalmente em estádio menores. Já sofri descaso por conta disso, inclusive. Mas precisamos correr atrás dos nossos sonhos. Cara, tive meningite e chegaram a me dar apenas 24 horas de vida. Sempre deixo um recado para aqueles que não acreditam em seus sonhos: seja forte, persista, lute... Mesmo que nem todo mundo acredite, nós precisamos acreditar. Somos do tamanho dos nossos sonhos.

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