Cris Negão comandou a prostituição de travestis no centro de SP / Reprodução/Youtube
Continua depois da publicidade
Cris Negão estava em frente ao bar Elenice, no Centro de SP, quando recebeu três tiros no rosto de um cara de menos de meio metro de altura que usava bermuda e chinelo. Cumpria-se a lenda de que ela só poderia ser morta se fosse atingida no rosto, já que tinha o corpo fechado do pescoço para baixo e 7 vidas.
Cristiane Jordan, conhecida como a barraqueira Cris Negão, faleceu na noite de 6 de setembro de 2007, para o alívio de muitos, e a tristeza dos poucos amigos que tinha. De temperamento difícil, violenta e viciada em álcool, ela comandou o centro de SP por muitos anos e era temida inclusive por autoridades.
Continua depois da publicidade
Cris Negão mandava e desmandava na rua Amaral Gurgel e redondezas. Era dela todos os pontos de prostituição das travestis, que pagavam taxas para ficar ali e tinha que contar com a sorte de encontrar com ela de bom humor, já que novas tarifas eram impostas simplesmente se Cris não gostasse de algo nelas. Até o jeito de falar.
Michês, traficantes, trombadinhas, ladrões e travestis circulavam pelo local sob a intensa supervisão e controle de Cris. Se houvesse alguma divergência, ela estava ali, pronta para resolver com as próprias mãos, já que não andava armada. Ela gostava de resolver no bom e velho soco, e deu surra em muita gente. Cris era verdadeiramente temida por todos.
Continua depois da publicidade
Cris também tinha o hábito de tomar, literalmente, das travestis, algo que ela visse e gostasse em suas vestes. Se alguma delas chegasse com uma peruca que Cris gostasse, ela dizia: "Minha peruca ficou muito linda na sua cabeça". A pessoa já entendia o recado e entregava o adereço para ela. Se não entendesse, ela resolvia na pancadaria. Simples assim.
Arquivo Pessoal
Continua depois da publicidade
Mas não eram todos que queriam que Cris sumisse como uma chuva de verão. Muitas travestis que trabalharam com ela diziam que não sofriam assaltos, xingamentos e espancamentos de clientes ou demais homens que passavam pelo centro, pois Cris, ao saber dos delitos, ia tirar satisfação e... advinha só: nos socos, chutes e pontapés expurgava os baderneiros para bem longe.
Cris tinha do pescoço para baixo mais de 50 hematomas e/ou marcas e cicatrizes das dezenas de tentativas de homicídio que sofreu. Em uma das ocasiões, segundo uma amiga próxima disse ao Uol, ela levou mais de 20 facadas e sequer ficou internada.
Em cima disso criou-se um mito de que ela tinha o corpo fechado, e só poderia ser morta se fosse atingida no rosto. O que aconteceu, conforme contamos anteriormente.
Continua depois da publicidade
Desde a morte de Cris fechou-se o ciclo das grandes travestis que eram cafetinas no centro de SP, e os abusos e crimes contra essas profissionais aumentaram muito, já que ela consegui impor respeito há quilômetros de distância.
Quando foi morta, na frente do bar, gritos como se fosse um gol do Brasil em final de Copa do Mundo foram ouvidos por longos minutos. Era a comemoração pela morte dessa guardiã mitológica que marcou história na região central de uma das principais cidades do Brasil.