A Cayan Tower é considerada um feito de engenharia / Pexels/Timo Volz
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Entre os edifícios que moldam a paisagem futurista de Dubai, um em especial chama atenção por seu formato incomum e proposta arrojada. A Cayan Tower, inaugurada em 2013, foi projetada para ser um ícone da arquitetura contemporânea.
Com 75 andares e 307 metros de altura, a torre se destaca não apenas pela sua imponência, mas também pela estrutura helicoidal que gira 90 graus da base até o topo.
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Avaliada em US$ 1 bilhão, a construção representa uma das mais ousadas tentativas de unir forma e função no cenário urbano mundial.
Mesmo com toda a pompa que marcou sua abertura, mais de uma década depois muitos dos apartamentos da Cayan Tower ainda estão vazios. O prédio, erguido diante da Dubai Marina, símbolo do luxo e da modernidade da cidade, continua enfrentando dificuldades para atingir ocupação total.
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A baixa adesão levanta questionamentos sobre os verdadeiros efeitos da arquitetura de vanguarda no mercado imobiliário, especialmente em um ambiente já saturado por grandes empreendimentos.
A Cayan Tower é considerada um feito de engenharia. Cada andar foi rotacionado exatamente 1,2 grau em relação ao anterior, criando a impressão de torção contínua por toda a extensão da estrutura.
Esse conceito de arranha-céu torcido ainda é relativamente novo e exige soluções sofisticadas para garantir estabilidade e segurança. A torre foi desenvolvida pela mesma firma de arquitetura responsável por outros marcos internacionais, como o Burj Khalifa e o One World Trade Center.
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A estrutura da torre é sustentada por um núcleo central de concreto e colunas periféricas inclinadas, pensadas para suportar tanto o peso do edifício quanto os efeitos da rotação gradual.
Além do apelo visual, o formato ajuda a reduzir a força dos ventos e a minimizar a oscilação, um fator essencial para prédios com mais de 300 metros de altura.
Localizada em uma das áreas mais valorizadas de Dubai, a Cayan Tower abriga 495 unidades residenciais e oferece uma série de amenidades de alto padrão.
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Os moradores têm acesso a piscinas com vista panorâmica, academia moderna, estacionamento subterrâneo com mais de 600 vagas, salas de reunião, áreas gourmet e spas exclusivos.
A fachada em alumínio dourado e vidro espelhado reflete o entorno urbano e cria efeitos visuais únicos ao longo do dia.
O projeto segue padrões internacionais de segurança sísmica, térmica e estrutural, conforme o Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH).
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Na época de seu lançamento, a torre foi apresentada como símbolo máximo da arquitetura futurista. Dubai, que já abrigava o prédio mais alto do mundo, buscava destacar-se também pelo design.
O projeto foi anunciado em eventos de prestígio e rapidamente se tornou uma referência visual da cidade. A expectativa era de ocupação total em menos de dois anos, impulsionada pelo interesse de investidores do Oriente Médio, da China e da Rússia.
No entanto, os dados do mercado mostram que o edifício nunca alcançou ocupação superior a 65%. Entre os principais motivos para isso estão o excesso de oferta de imóveis residenciais em Dubai, especialmente após o boom da construção entre 2006 e 2015, que criou um número de unidades superior à demanda real.
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Além disso, os preços dos apartamentos na Cayan Tower variam entre US$ 700 mil e US$ 2,5 milhões, o que afasta compradores que buscam imóveis para moradia.
Outro fator importante foi o perfil especulativo de muitos investidores, que compraram unidades como forma de investimento, sem intenção de ocupá-las ou alugá-las.
O custo elevado de manutenção também pesa: edifícios com estruturas únicas demandam cuidados especializados, e os custos condominiais podem ser até 30% maiores que os de prédios convencionais.
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Essas dificuldades explicam por que, mesmo com reconhecimento global, a torre ainda convive com diversos andares vazios, especialmente nas unidades mais altas e exclusivas. O prédio é parte de um cenário mais amplo que inclui outros projetos ambiciosos em Dubai, como o Burj Khalifa, o Museum of the Future e o Dubai Frame.
Apesar da grandiosidade, cresce o debate sobre a real funcionalidade desses empreendimentos e se eles representam de fato um modelo viável de urbanismo.
Nos últimos anos, autoridades locais vêm incentivando projetos com foco em eficiência, menor consumo de energia e integração urbana.
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O Dubai Land Department, responsável por regulamentar o setor, busca soluções que reduzam os custos operacionais e favoreçam o uso inteligente do espaço urbano. Iniciativas como a Dubai Creek Tower e a Wasl Tower já seguem essa nova abordagem.
A pandemia de COVID-19 intensificou os desafios enfrentados pela Cayan Tower. Com o declínio do turismo e o impacto econômico entre 2020 e 2021, muitos investidores desistiram de comprar ou alugar propriedades de alto padrão. Isso resultou em mais unidades desocupadas e diminuição da liquidez para os proprietários.
A consolidação do home office e a preferência por áreas mais afastadas e acessíveis também desviaram a demanda para bairros suburbanos, com imóveis maiores e infraestrutura mais adequada ao cotidiano familiar.
Apesar das dificuldades, a torre continua a atrair visitantes, arquitetos e cineastas que buscam capturar sua estética singular.
Além disso, o conceito de arranha-céu torcido não se limita a Dubai. Cidades como Xangai, Malmö e Nova York também adotaram esse tipo de estrutura, com diferentes graus de sucesso. O equilíbrio entre estética e funcionalidade é determinante para a viabilidade de tais projetos.
A Cayan Tower permanece como símbolo da ambição arquitetônica e da ousadia que caracterizam os empreendimentos de luxo em Dubai. Seu design inovador representa um avanço da engenharia e uma aposta no visual como diferencial urbano.
No entanto, a taxa de ocupação abaixo do esperado e os altos custos de operação revelam os riscos de colocar o apelo estético à frente das necessidades práticas do mercado.
Enquanto o horizonte de Dubai continua a se transformar com novas construções, a Cayan Tower serve como um lembrete: o futuro da arquitetura não depende apenas de formas impressionantes, mas também da capacidade de ser útil, sustentável e economicamente viável.