Embora imperceptível no cotidiano, a rotação da Terra perde velocidade de forma contínua, o que pode tornar os dias mais longos no futuro / Gerado por IA/Gemini
Continua depois da publicidade
Se há algo que aprendemos desde a infância, é que um dia tem 24 horas. Esse número parece imutável, mas não é. Você talvez já tenha ouvido que a Terra “em breve” passará a ter dias de 25 horas. E é justamente aí que mora o detalhe: o que significa, afinal, esse “em breve”?
Os cientistas, de fato, esperam que a rotação do planeta continue desacelerando. No entanto, esse processo ocorre de forma extremamente lenta, tão gradual que passa completamente despercebido no cotidiano.
Continua depois da publicidade
Ainda assim, a ideia não é mito. Ela se explica por um verdadeiro cabo de guerra entre a Terra e a Lua. As mesmas forças gravitacionais que movimentam as marés dos oceanos também funcionam como um freio quase imperceptível na rotação do planeta, acrescentando tempo ao dia em frações mínimas ao longo de milhões de anos.
Partindo do entendimento global de que um dia tem 24 horas, é com base nesse padrão que organizamos horários escolares, turnos de trabalho e até o despertador. Esse intervalo, que vai do amanhecer ao anoitecer, é conhecido como dia solar e, na Terra, tem em média cerca de 24 horas. No entanto, como explica o Space Place da NASA, essa duração não é absolutamente fixa.
Continua depois da publicidade
Isso acontece porque a órbita terrestre é elíptica, e não um círculo perfeito, o que faz com que alguns dias solares sejam ligeiramente mais longos e outros um pouco mais curtos. Na prática, a duração média do dia na Terra é de aproximadamente 23,934 horas.
Pode te interessar: planeta em formato de limão é descoberto e surpreende a NASA com chuvas de diamante.
Existe ainda outra forma de medir o tempo: o dia sideral, que corresponde ao período que o planeta leva para completar uma rotação inteira em torno do próprio eixo, tendo como referência estrelas distantes, e não o Sol. Nesse caso, a Terra leva cerca de 23 horas e 56 minutos para concluir esse movimento.
Continua depois da publicidade
Essa diferença não representa um erro, mas apenas duas maneiras distintas de medir o movimento do planeta. Enquanto gira sobre si mesma, a Terra também avança em sua órbita ao redor do Sol, o que faz com que precise girar um pouco mais para que o astro volte a aparecer no mesmo ponto do céu.
O ponto central é que mesmo o chamado dia solar de 24 horas não é perfeitamente constante. Ele sofre pequenas oscilações e, ao longo de períodos extremamente longos, tende a se tornar gradualmente mais longo.
A principal responsável pela lenta desaceleração da rotação da Terra é a Lua. A força gravitacional do satélite natural exerce uma atração constante sobre os oceanos do planeta, formando grandes saliências de água conhecidas como marés, que sobem e descem conforme a Terra gira em torno de seu próprio eixo.
Continua depois da publicidade
Essas saliências não ficam perfeitamente alinhadas com a posição da Lua. Isso acontece porque os oceanos não se movem livremente. O atrito com o fundo do mar, os continentes e até com as próprias correntes oceânicas cria uma resistência ao movimento da água. Esse atrito atua como um freio sutil, mas contínuo, retirando uma pequena quantidade da energia de rotação da Terra.
Leia mais: explosão distante envia mensagem de 13 bilhões de anos à Terra.
De acordo com explicações oficiais da NASA sobre eclipses e a rotação terrestre, esse processo provoca uma troca de energia no sistema Terra Lua. Enquanto a Terra perde velocidade e passa a girar cada vez mais devagar, a Lua ganha essa energia e se afasta gradualmente do planeta, cerca de alguns centímetros por ano.
Continua depois da publicidade
O efeito é extremamente lento e imperceptível no dia a dia, mas cumulativo ao longo de milhões de anos. Aos poucos, os dias ficam ligeiramente mais longos, mesmo que essa diferença seja medida hoje em milissegundos por século.
Para tornar a ideia mais concreta, imagine empurrar uma cadeira giratória enquanto mantém o pé levemente arrastando no chão. A cadeira continua girando, mas perde velocidade aos poucos. É exatamente isso que acontece com a Terra.
Você não consegue perceber a Terra perdendo uma fração mínima de segundo ao longo da vida. Ainda assim, os cientistas sabem que isso acontece porque comparam relógios extremamente precisos, como os atômicos, com observações astronômicas e registros históricos, que incluem anotações antigas de eclipses e outros fenômenos celestes.
Continua depois da publicidade
No Brasil, o acompanhamento oficial do tempo é feito pelo Observatório Nacional, órgão responsável por manter e divulgar a Hora Legal Brasileira. A instituição monitora pequenas diferenças entre o tempo marcado pelos relógios e a rotação real da Terra, sempre em alinhamento com os padrões internacionais.
Essas variações também são acompanhadas por organismos globais, como o International Earth Rotation and Reference Systems Service (IERS), que publica boletins oficiais sobre a orientação do planeta e indica quando ajustes no tempo são necessários.
Quando essas discrepâncias se tornam relevantes, entra em cena o chamado segundo intercalar, um ajuste ocasional usado para manter o tempo civil sincronizado com a rotação da Terra. No Brasil, o Observatório Nacional é responsável por implementar essas correções conforme as decisões internacionais.
Continua depois da publicidade
Veja também: nave alienígena? James Webb revela a verdadeira (e estranha) face do cometa 3I/ATLAS.
É nesse ponto que muitas manchetes acabam induzindo ao erro. Não existe uma data no calendário que possa ser marcada para a chegada de um dia com 25 horas. As estimativas mais aceitas pela comunidade científica indicam uma escala de tempo da ordem de cerca de 200 milhões de anos, considerando que o sistema Terra Lua continue evoluindo de maneira semelhante à atual.
Uma das linhas de pesquisa que embasam essa projeção é conduzida por cientistas da Universidade de Toronto, conforme destacado em material oficial da Faculdade de Artes e Ciências da instituição. Entre os pesquisadores associados a esses estudos está o astrofísico Norman Murray, que investiga como a duração do dia terrestre mudou ao longo de tempos geológicos profundos.
Continua depois da publicidade
Assim, embora o dia de 25 horas esteja, em termos científicos, no horizonte, ele pertence a um futuro tão distante que não terá qualquer impacto prático sobre a vida humana, a civilização ou a forma como organizamos nossos calendários.
As marés funcionam como um compasso lento e constante, mas não são o único fator a influenciar a rotação do planeta. Pequenos deslocamentos de massa na superfície da Terra, como o derretimento de geleiras, a redistribuição de grandes volumes de água nos oceanos ou mudanças nas reservas subterrâneas, também podem provocar variações sutis na duração do dia.
Essa relação entre mudanças de massa associadas ao clima e a rotação terrestre é abordada em análises da NASA, que mostram como gelo e águas subterrâneas interferem, ainda que de forma mínima, no giro do planeta. Os efeitos são pequenos demais para serem percebidos no cotidiano, mas reforçam a ideia de que o tempo na Terra resulta da ação de múltiplos processos.
Dica de leitura: descoberta mais fascinante da NASA revela fenômeno cósmico com forma humana.
Em teoria, até grandes obras de engenharia poderiam gerar impactos mensuráveis em medições extremamente precisas. O ponto central é que, quando observada com alto grau de precisão, a Terra está longe de ser um pião perfeitamente rígido.
Essas conclusões se apoiam em pesquisas científicas recentes, incluindo um estudo publicado na revista Science Advances, que analisa como diferentes fatores físicos contribuem, ao longo do tempo, para as variações na rotação do planeta.