Relação entre Trump e Epstein volta ao centro do debate após protesto no Reino Unido / Domínio Público
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Na noite da última terça-feira (16), quatro pessoas foram presas após projetarem, em forma de protesto, imagens no Castelo de Windsor, no Reino Unido. As projeções mostravam o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao lado do criminoso sexual Jeffrey Epstein.
A manifestação ocorreu durante a visita oficial de Trump ao país, onde ele se encontrou com figuras importantes, como o primeiro-ministro Keir Starmer, o rei Charles III e a rainha Camilla. A viagem, que termina hoje (18), tem sido marcada por protestos contra o presidente.
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Entre as imagens exibidas estavam fotos de Trump com Epstein, registros dos dois acompanhados pela primeira-dama Melania e, ainda, uma mensagem obscena que Trump teria supostamente enviado a Epstein em 2003, publicada em um livro comemorativo do 50º aniversário do financista. Veja o vídeo do protesto, publicado pela revista Time:
A dúvida que ressurge é: quem foi Jeffrey Epstein? E qual sua relação com o presidente dos Estados Unidos?
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Nascido em janeiro de 1953, no distrito do Brooklyn, em Nova York, Jeffrey Edward Epstein foi um financista americano que construiu uma carreira meteórica, apesar de não ter concluído a universidade. No início dos anos 1970, atuou como professor de matemática no conceituado colégio Dalton, em Manhattan, onde fez conexões importantes que o levariam ao mercado financeiro.
Em 1976, ingressou no banco de investimentos Bear Stearns e, poucos anos depois, saiu para fundar sua própria empresa de gestão de recursos, a J. Epstein & Co., em 1982.
A firma operava de forma sigilosa, aceitando apenas investidores bilionários. Com os lucros dessa operação obscura, Epstein acumulou grande patrimônio, incluindo uma mansão de sete andares em Manhattan, uma cobertura em Paris, uma vasta propriedade no Novo México, uma mansão em Palm Beach (Flórida) e até duas ilhas privadas no Caribe.
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Em 1998, ele comprou a ilha Little St. James, nas Ilhas Virgens Americanas, local que mais tarde seria apelidado de “Ilha da Pedofilia”, em alusão aos crimes cometidos ali.
Epstein cultivava a imagem de filantropo e membro da elite. Em 2003, por exemplo, doou US$ 30 milhões à Universidade Harvard para pesquisa científica, ato que lhe rendeu elogios públicos de figuras renomadas.
Ao longo de sua ascensão, circulou entre celebridades e poderosos, contando entre seus contatos próximos nomes como o príncipe Andrew (Reino Unido), o ex-presidente Bill Clinton e o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
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Apesar de seu status na elite, Epstein tornou-se infame por um esquema sistemático de abuso sexual de menores. Em 2005, autoridades da Flórida abriram uma investigação após denúncias de que garotas de 14 a 17 anos eram aliciadas para realizar “massagens” pagas em sua mansão em Palm Beach, onde sofriam abusos.
A apuração identificou dezenas de vítimas e revelou uma rede de aliciamento, em que Epstein pagava menores para abusar delas e, em seguida, oferecia dinheiro para que recrutassem outras meninas.
Em 2008, Epstein fechou um acordo secreto com promotores. Declarou-se culpado de duas acusações menores de prostituição envolvendo adolescentes e escapou de acusações federais mais graves. Graças a esse acordo, negociado pelo então procurador Alexander Acosta, Epstein cumpriu apenas 13 meses de prisão, com direito a sair da cadeia seis dias por semana para trabalhar, e registrou-se como agressor sexual.
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Em troca, recebeu imunidade contra quaisquer processos federais que o envolvessem, a ele ou a “possíveis co-conspiradores”. O pacto permaneceu oculto por anos e, quando revelado pela imprensa em 2018, gerou revolta e críticas de favorecimento indevido.
Em julho de 2019, Epstein foi preso novamente em Nova York, acusado de tráfico sexual de menores em âmbito federal. Promotores alegaram que ele explorou dezenas de garotas entre 2002 e 2005 em propriedades de sua posse, incluindo em Manhattan e Palm Beach.
Desta vez, o juiz negou fiança, classificando Epstein como risco à comunidade e de fuga. Enquanto aguardava julgamento, Epstein foi encontrado morto em sua cela, em agosto de 2019, aos 66 anos.
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A morte foi oficialmente declarada suicídio por enforcamento, encerrando o processo criminal. As circunstâncias da morte alimentaram teorias conspiratórias, mas investigações federais concluíram não haver indícios de homicídio.
A sócia de longa data, Ghislaine Maxwell, foi julgada e condenada em 2021 por conspirar no tráfico sexual, recebendo pena de 20 anos de prisão. Em 2023 e 2024, documentos judiciais tornados públicos listaram mais de 150 nomes associados a Epstein.
Embora não indiquem envolvimento criminal direto de outras figuras públicas, como Bill Clinton, Donald Trump e o príncipe Andrew, a divulgação da lista ganhou relevância por outro motivo.
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Para a população, a lista simboliza a necessidade de transparência e alimenta a cobrança por investigações sérias. Também reforça a pressão para que pessoas poderosas que mantiveram relações com Epstein ofereçam explicações claras e respondam a questionamentos.
Veja também: Para o The New York Times, Brasil dá exemplo de democracia aos Estados Unidos.
Jeffrey Epstein e Donald Trump se conheceram nos anos 1980 e mantiveram convivência social por mais de uma década. Na época, Trump era apenas um magnata do mercado imobiliário e figura do jet set nova-iorquino, grupo de pessoas com alto poder aquisitivo que viajam frequentemente em aviões a jato.
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Em 2002, chegou a se referir a Epstein como um “cara fantástico” em entrevista à New York Magazine, afirmando que o conhecia havia 15 anos e destacando que ele “gosta de mulheres tão bonitas quanto eu, e muitas delas são do lado mais jovem”.
Durante os anos 1990, os dois frequentemente apareciam juntos em eventos e festas. Em novembro de 1992, por exemplo, Trump organizou uma festa em Mar-a-Lago, sua propriedade na Flórida, com modelos e líderes de torcida da NFL.
Imagens de arquivo divulgadas pela NBC mostram Trump e Epstein conversando e rindo juntos nessa ocasião. Em 1997, Epstein esteve presente em uma festa promovida pela Victoria’s Secret em Nova York, onde foi fotografado ao lado de Trump, cercado pelas modelos conhecidas como angels da marca.
Além da vida social, registros judiciais indicam que Trump viajou algumas vezes no jato particular de Epstein. Logs de voo apontam sua presença em sete viagens entre 1993 e 1997, em rotas entre Palm Beach e Nova York, com escala em Washington, D.C.
Em pelo menos um desses voos estavam familiares de Trump, como sua então esposa Marla Maples e a filha do casal. O presidente reconheceu que utilizou o avião de Epstein nessas poucas viagens, mas negou visitar a ilha particular de Epstein, Little St. James, ou presenciar qualquer atividade ilícita.
Não há registros de parcerias profissionais ou negócios entre os dois, o que sugere que a relação se restringiu ao convívio social.
A ruptura da amizade ocorreu em meados dos anos 2000. Em 2004, Trump e Epstein entraram em conflito ao disputar, em um leilão, a compra de uma mansão em Palm Beach.
O imóvel, uma propriedade de luxo chamada Maison de L’Amitié, acabou arrematado por Trump por cerca de 41 milhões de dólares. Após essa concorrência, os dois se afastaram.
Em 2019, já como presidente, Trump declarou que “não era fã” de Epstein, afirmando que há 15 anos não falava com ele em decorrência da briga. Desde meados dos anos 2000, não há registros de novas aparições públicas conjuntas de Trump e Epstein.
Apesar de especulações na mídia e entre adversários políticos, não foram apresentadas provas concretas de envolvimento de Trump nos crimes de Epstein. Seu nome apareceu em documentos, como listas de contatos e diários de voo, mas nunca resultou em acusações formais.
Um detalhe frequentemente lembrado é que Virginia Giuffre, uma das principais acusadoras de Epstein, trabalhava como funcionária no clube Mar-a-Lago, de propriedade de Trump, quando foi recrutada em 2000, aos 16 anos, por Ghislaine Maxwell para entrar no círculo de Epstein. Não há indícios de que Trump soubesse do aliciamento, mas o caso mostra como seus círculos sociais se cruzavam.
O escândalo Epstein teve repercussões indiretas no governo Trump. Em 2019, após a nova prisão do financista, veio à tona o papel de Alex Acosta, então secretário do Trabalho de Trump, na concessão do acordo indulgente de 2008.
Diante da pressão pública, Acosta renunciou ao cargo em julho de 2019, após críticas de que teria sido permissivo com Epstein no caso da Flórida. Trump lamentou a saída do assessor, mas afirmou que “odiaria ver isso acontecer” e aceitou a demissão em meio ao clamor pelo acerto de contas sobre o passado de Epstein.
Em 2023, uma nova polêmica trouxe o nome de Trump novamente ao caso. O Wall Street Journal divulgou uma suposta carta de aniversário escrita por ele para Epstein em 2003.
O documento, parte de um livro de mensagens oferecido a Epstein em seu 50º aniversário, trazia um texto em tom irônico, escrito em formato de diálogo, um desenho de uma mulher nua assinado como “Donald” e a frase final: “Feliz aniversário – e que todos os dias sejam outro segredo maravilhoso”.
Trump negou a autenticidade, dizendo que “não desenha mulheres” e alegando que não foi ele quem escreveu tais palavras.
O ex-presidente chegou a acusar o jornal de divulgar fake news e ameaçou processar o WSJ e seu proprietário, Rupert Murdoch, pela história.
Mesmo após a morte de Epstein, qualquer vínculo entre ele e Trump continua sob intensa análise do público. Hoje, Trump busca se desvincular da figura de Epstein, classificando o assunto como “uma farsa” e rejeitando teorias conspiratórias, enquanto insiste não ter qualquer ligação com os crimes do ex-amigo, algo que, pela forma como foi recebido no Reino Unido, ainda representa um desafio.