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A informação está em aditivo contratual da companhia com o Consórcio Cetenco-Acciona-Agis, que registra a nova denominação, segundo o portal Metrô CPTM.
Gabriela Mistral, primeira latino-americana a vencer o Nobel de Literatura, dará nome à nova estação da Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo / Divulgação/Metrô CPTM/Anna Riwkin
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Nesta segunda-feira (17), o Metrô de São Paulo oficializou a substituição do nome “Tiquatira” por “Gabriela Mistral” para a futura estação da Linha 2-Verde na zona leste da cidade. A informação está em aditivo contratual da companhia com o Consórcio Cetenco-Acciona-Agis, que registra a nova denominação, segundo o portal Metrô CPTM.
O nome Gabriela Mistral já aparecia em documentos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), em registros do Governo de São Paulo e até no relatório de empreendimentos da estatal metroviária. Agora, porém, a escolha da nova denominação foi oficialmente confirmada. Mas, quem é Gabriela Mistral?
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Gabriela, na verdade, era o pseudônimo de Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga (1889-1957), poetisa, educadora e diplomata chilena que se tornou uma das figuras mais importantes da cultura latino-americana.
Ela foi, inclusive, a primeira pessoa da América Latina a receber o Prêmio Nobel de Literatura. Nascida em 7 de abril de 1889, em Vicuña, no Norte do Chile, era filha de um professor, descendente de espanhóis e indígenas, e desde cedo revelou interesse tanto pela escrita quanto pela docência.
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A carreira de Mistral começou na educação, quando aos 16 anos, ela decidiu se dedicar à carreira de professora, e passou a atuar em escolas secundárias, chegando a ocupar cargos de professora e diretora. No início de sua vida, mesmo tendo seu direito de estudar negado em 1906 por causa de seus escritos (que eram vistos como contrários aos valores cristãos), ela se preparou de forma autodidata e obteve sua certificação de professora em 1910, aos 21 anos.
Paralelamente à atuação na educação, sua vocação literária ganhava força. Em 1914, aos 25 anos, Lucila Godoy Alcayaga adotou o pseudônimo Gabriela Mistral. O nome foi criado em homenagem aos poetas que ela admirava: o italiano Gabriele D’Annunzio e o francês Frédéric Mistral. Ela também sentia grande amor pelo vento e escolheu "Mistral" — o nome de um vento poderoso na Provença — como um símbolo de força espiritual.
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Nesse mesmo ano, venceu os Juegos Florales de Santiago com os “Sonetos de la Muerte”, escritos sob o impacto do suicídio de seu namorado em 1909, episódio que marcaria profundamente sua obra.
Seu primeiro livro, Desolación, foi publicado em 1922, seguido de Ternura (1924), dedicado à infância, que pretendia ser uma poesia escolar mais delicada e profunda. Mais tarde, viriam obras fundamentais como Tala (1938) e Lagar (1954).
A poesia de Gabriela Mistral é descrita como única, mística e repleta de lirismo e imagens singulares. Seus temas centrais abrangem:
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Em 1922, Mistral foi convidada a trabalhar no Ministério da Educação do México, onde se tornou uma referência na pedagogia. Lá, ajudou a estruturar o sistema educacional, fundou escolas e organizou bibliotecas públicas. Também contribuiu para o desenvolvimento de modelos de escolas públicas no Chile e no México. Posteriormente, lecionou literatura espanhola em universidades dos Estados Unidos, como Columbia, Middlebury College e Vassar College.
A crescente notoriedade levou Mistral a deixar o ensino para assumir cargos diplomáticos na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina. Em 1926, passou a atuar como secretária do Instituto de Cooperação Intelectual da Sociedade das Nações e, ao longo dos anos, foi nomeada cônsulesa do Chile em diversas cidades. Em 1935, recebeu o título de cônsul vitalícia. Em todos esses espaços, defendeu causas como os direitos de crianças, mulheres, povos indígenas e pessoas pobres, além da promoção da paz.
O ponto alto de sua trajetória ocorreu em 1945, quando recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, tornando-se a primeira pessoa latino-americana a conquistar a distinção.
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A relação de Gabriela Mistral com o Brasil se manifesta em diferentes dimensões. Como cônsulesa do Chile, ela representou seu país no Rio de Janeiro e vivia em Petrópolis quando recebeu a notícia do Nobel. Logo ao chegar ao Brasil, estreitou laços com a poetisa Cecília Meireles — juntas, chegaram a lançar um livro de poemas. Também manteve amizades com Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Assis Chateaubriand e, especialmente, Vinícius de Moraes. Mistral conheceu Mário de Andrade por meio de Cecília.
Durante sua estadia, colaborou com o Jornal do Brasil. A passagem pelo país, porém, também foi marcada por perdas dolorosas: o suicídio do casal judeu Stefan Zweig em 1942, seus amigos próximos, e a morte de seu sobrinho adotivo, Juan Miguel, em Petrópolis, episódio que a abalou profundamente e contribuiu para sua partida.
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A consagração com o Nobel, recebida enquanto residia no Brasil, consolidou sua figura como um ícone da literatura latino-americana ainda nos anos 30 e 40. No discurso de aceitação, definiu-se como se apresentou como "a voz direta dos poetas da minha raça e a voz indireta das nobres línguas espanhola e portuguesa", reforçando seu papel como ponte cultural e representante das aspirações do mundo latino-americano.