São Paulo hoje sofre com chuvas intensas e alagamentos / Marcelo Camargo/Agência Brasil
Continua depois da publicidade
Há décadas, São Paulo era conhecida como a "terra da garoa". Hoje, porém, o cenário é outro: tempestades violentas, alagamentos e recordes de chuva marcam a nova realidade climática da cidade, e os números comprovam essa mudança radical. Mas, afinal, por que a garoa desapareceu?
O climatologista Carlos Nobre, que nasceu na capital em 1951, explica ao G1: "Quando eu era criança, era garoa 200 dias por ano. Às 15h, tinha garoa. Não existe mais".
Continua depois da publicidade
Segundo ele, o calor excessivo da cidade impede a formação da garoa. "A cidade ficou muito quente, então ela não permite que o vapor de água se condense e forme aquelas gotículas".
Com o avanço da urbanização, as áreas verdes deram lugar ao asfalto e concreto, criando ilhas de calor. Nobre destaca: "Quando você tem essa ilha urbana de calor, a onda de calor fica muito mais forte". O resultado? Tempestades cada vez mais intensas e frequentes que fazem muita gente correr para desligar os equipamentos das tomadas.
Continua depois da publicidade
Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) revelam uma escalada preocupante. Entre 1960 e 1990, São Paulo registrou apenas 3 dias com chuvas acima de 100 mm. Já de 1991 a 2020, foram 11 dias nesse patamar – um aumento de 267%. Chuvas acima de 50 mm saltaram de 108 para 152 dias no mesmo período.
"Antes, chuvas acima de 100 mm em 24 horas eram raras. Agora temos quase anualmente", alerta Nobre. O problema é grave: em uma cidade com poucas áreas permeáveis, a água não tem para onde ir, causando enchentes e caos urbano.
A ciência já previa extremos climáticos, mas a realidade surpreendeu. "A temperatura em 2023 estava próxima de 1,5°C mais quente que 1900, o que era esperado para acontecer só em 2030", diz Nobre. Ou seja, o clima está mudando mais rápido do que se imaginava.Tempestades severas, secas prolongadas e ventos fortes tendem a se tornar frequentes. "O clima vai ficando extremo com o passar do tempo", afirma o especialista ao G1. Em São Paulo, o efeito é amplificado pelo calor urbano. Além disso, a "temperatura de bulbo úmido" preocupa por ser um efeito climático que pode fazer vítimas no Brasil em 40 anos.
Continua depois da publicidade
Para Nobre, a resposta está na natureza: "Restaurar a floresta urbana abaixa a temperatura". Ele cita o exemplo do Zoológico de São Paulo, onde a temperatura chega a ser 8°C menor do que em áreas asfaltadas próximas.
"Vegetação em grande escala melhora o clima. Isso é obrigatório", defende. Sem medidas urgentes, a "cidade das tempestades" continuará batendo recordes – e a população sofrerá as consequências.