A dúvida sobre se "posso usar pneus de marcas ou modelos diferentes no mesmo eixo ou entre eixos" é comum entre motoristas / Magda Ehlers/Pexels
A dúvida sobre se "posso usar pneus de marcas ou modelos diferentes no mesmo eixo ou entre eixos" é comum entre motoristas, seja por questões de custo, disponibilidade de um modelo específico no momento da troca ou simplesmente por desconhecimento.
Embora possa parecer uma solução prática em certas situações, a mistura de pneus com características distintas pode acarretar implicações significativas para a segurança, o desempenho e a durabilidade do veículo e seus componentes.
Continua depois da publicidade
Este guia detalhado explora os aspectos técnicos envolvidos, os riscos potenciais e as melhores práticas recomendadas por especialistas e pela legislação.
Entendendo as especificações dos pneus e a sua importância
Antes de discutir a mistura de pneus, é fundamental compreender que cada pneu possui um conjunto de especificações técnicas que definem seu comportamento e adequação a um determinado veículo e condição de uso. Ignorar essas especificações é o primeiro passo para comprometer a segurança. As principais são:
Continua depois da publicidade
- Medidas: Indicadas por uma sequência como "205/55 R16", representam respectivamente a largura da seção transversal do pneu em milímetros (205), a relação percentual entre a altura do flanco e a largura da seção (55%), o tipo de construção (R para Radial) e o diâmetro do aro em polegadas (16). Pneus no mesmo eixo devem, obrigatoriamente, ter as mesmas medidas.
- Índice de Carga: Um número que indica a carga máxima que cada pneu pode suportar (ex: 91 = 615 kg). Deve ser igual ou superior ao especificado pelo fabricante do veículo.
- Símbolo de Velocidade: Uma letra que indica a velocidade máxima à qual o pneu pode ser submetido com segurança (ex: H = 210 km/h). Também deve ser igual ou superior ao original.
- Tipo de Construção: Predominantemente Radial (R) em veículos de passeio modernos. Pneus de construção diferente (ex: Radial e Diagonal) nunca devem ser misturados no mesmo veículo, e obrigatoriamente devem ser do mesmo tipo no mesmo eixo.
- Desenho da Banda de Rodagem: Pode ser simétrico, assimétrico ou direcional. Cada desenho influencia a aderência em piso seco e molhado, o escoamento de água, o nível de ruído e a estabilidade direcional. Pneus com desenhos muito diferentes no mesmo eixo podem causar comportamentos anormais.
- Marca e Modelo: Fabricantes desenvolvem compostos de borracha e estruturas internas específicas para cada modelo de pneu, resultando em variações de aderência, durabilidade, resistência ao rolamento e conforto.
Riscos e implicações ao misturar pneus diferentes
A utilização de pneus com características divergentes, especialmente no mesmo eixo, introduz uma série de riscos e pode comprometer seriamente a dinâmica veicular.
- Mistura de pneus no mesmo eixo (dianteiro ou traseiro):
- Esta é a prática mais desaconselhável e perigosa. Mesmo que as medidas, índice de carga e símbolo de velocidade sejam idênticos, diferenças de marca, modelo ou estado de conservação podem levar a:
- Desequilíbrio dinâmico: Pneus com diferentes níveis de aderência (grip) podem fazer o veículo "puxar" para um lado durante acelerações ou frenagens, ou apresentar instabilidade em curvas.
- Comportamento imprevisível em frenagens: Um pneu pode travar antes do outro, aumentando a distância de parada e podendo causar a perda de controle, especialmente em situações de emergência.
- Interferência nos sistemas de segurança: Sistemas como o ABS (Anti-lock Braking System) e o ESP (Electronic Stability Program) dependem de leituras precisas da velocidade de rotação de cada roda. Diferenças significativas no diâmetro efetivo (mesmo com a mesma medida nominal, o desgaste ou a construção podem variar) ou na aderência podem confundir esses sistemas, reduzindo sua eficácia ou causando atuações inesperadas.
- Desgaste irregular: O pneu com menor aderência ou composto mais macio pode se desgastar mais rapidamente. Além disso, a suspensão pode sofrer esforços desiguais, levando ao desgaste prematuro de seus componentes.
- Risco de aquaplanagem aumentado: Se um pneu tiver menor capacidade de escoar água devido ao desenho da banda de rodagem ou profundidade dos sulcos, esse lado do eixo perderá contato com o solo mais facilmente em piso molhado.
- Mistura de pneus entre eixos (par dianteiro diferente do par traseiro):
- Embora menos crítico do que a mistura no mesmo eixo, ainda requer atenção:
- Alteração do equilíbrio do veículo: Fabricantes projetam veículos com um comportamento dinâmico específico (subesterçante, neutro ou sobresterçante). Pneus com níveis de aderência muito diferentes entre os eixos podem alterar esse equilíbrio. Por exemplo, pneus com muito mais aderência na dianteira do que na traseira podem tornar o veículo excessivamente sobresterçante (traseira "escapa" mais facilmente).
- Recomendação geral: Para veículos de tração dianteira ou traseira, é comum a recomendação de instalar os pneus novos ou com maior profundidade de sulco no eixo traseiro. Isso ajuda a prevenir a perda de controle da traseira (sobresterço), que é geralmente mais difícil de corrigir do que a perda de controle da dianteira (subesterço).
- Veículos com tração integral (AWD/4x4): Estes sistemas são particularmente sensíveis a diferenças no diâmetro dos pneus entre os eixos ou até mesmo entre os pneus do mesmo eixo. Diferenças na circunferência podem forçar o sistema de transmissão (diferenciais, caixa de transferência), causando superaquecimento e danos caros. Nestes casos, é crucial seguir as recomendações do manual do proprietário, que frequentemente exigem pneus idênticos ou com desgaste muito similar em todas as quatro posições.
Recomendações, legislação e o que priorizar
A segurança e o desempenho ideal de um veículo dependem da uniformidade e adequação dos seus pneus.
- O cenário ideal: Utilizar sempre quatro pneus idênticos: mesma marca, modelo, medidas, índices de carga e velocidade, e com níveis de desgaste semelhantes. Ao substituir apenas dois pneus, o ideal é que sejam da mesma marca e modelo dos que permanecerão no veículo, ou, no mínimo, com características técnicas e de desempenho muito próximas, instalados sempre aos pares no mesmo eixo.
- Legislação Brasileira: O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e as resoluções do CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito) não proíbem explicitamente o uso de pneus de marcas ou modelos diferentes no mesmo veículo, desde que respeitadas as especificações de tamanho, tipo de construção (radiais com radiais, por exemplo, no mesmo eixo) e que estejam em bom estado de conservação, com profundidade mínima dos sulcos de 1,6 mm (indicador TWI). A Resolução CONTRAN nº 913/2022, por exemplo, foca na adequação das dimensões, capacidade de carga, índice de velocidade e estado de conservação. Contudo, a ausência de uma proibição explícita sobre marcas não significa que a prática seja segura ou recomendada. A responsabilidade pela segurança do veículo é do proprietário.
- Situações de emergência: O pneu estepe, especialmente o de uso temporário (mais fino), é uma exceção projetada para rodar por curtas distâncias e em velocidade reduzida até que o pneu principal seja reparado ou substituído. Não deve ser usado como solução permanente.
- O que priorizar ao misturar (se inevitável e apenas entre eixos):
- Mesmas medidas, índice de carga e símbolo de velocidade: Inegociável.
- Mesmo tipo de pneu: Por exemplo, todos para uso em asfalto (on-road), ou todos para uso misto (se for o caso), evitando misturar um pneu esportivo de alta performance com um pneu focado em durabilidade e conforto, pois terão comportamentos muito distintos.
- Profundidade dos sulcos: Tente manter os pneus de um mesmo eixo com profundidades de sulco próximas e, como mencionado, os mais novos/melhores no eixo traseiro para a maioria dos carros.
- Consulta ao manual do proprietário: Verifique sempre as recomendações específicas do fabricante do seu veículo, especialmente para modelos esportivos, de alta performance ou com tração integral.
A decisão de usar pneus de marcas ou modelos diferentes deve ser ponderada com base nos riscos envolvidos. A economia inicial pode não compensar os potenciais problemas de segurança, desgaste prematuro de componentes ou, no pior dos casos, um acidente.
Continua depois da publicidade
A uniformidade dos pneus, especialmente no mesmo eixo, é um fator crítico para garantir a dirigibilidade, a estabilidade e a eficácia dos sistemas de segurança do veículo.
Ao trocar pneus, priorize sempre a instalação de conjuntos idênticos ou o mais compatíveis possível, seguindo as especificações do fabricante e, se necessário, consultando um profissional especializado.