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Pesquisa inédita da USP liga uso de adoçantes artificiais ao declínio mental antecipado

Pesquisa mostra ligação entre consumo elevado e declínio cognitivo; OMS já não recomenda uso prolongado

Júlia Morgado

Publicado em 08/09/2025 às 13:37

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studo com mais de 12 mil pessoas revela risco de envelhecimento cerebral precoce ligado ao uso diário / fabrikasimf/Freepik

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Cada vez mais presentes na alimentação de quem deseja cortar o açúcar, os adoçantes artificiais costumam ser vendidos como alternativas seguras. No entanto, uma pesquisa conduzida pela Universidade de São Paulo (USP) e publicada na revista Neurology acendeu um sinal de alerta: pessoas que consomem grandes quantidades dessas substâncias podem apresentar um declínio cognitivo até 62% mais rápido.

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O que a pesquisa revelou

O estudo acompanhou 12.772 voluntários durante 8 anos, todos com idade média de 52 anos. Entre os adoçantes analisados estavam o aspartame, a sacarina, o acessulfame-K, o eritritol, o xilitol, o sorbitol e a tagatose, todos encontrados facilmente em refrigerantes, sobremesas e outros ultraprocessados.

Os participantes foram divididos conforme a quantidade ingerida diariamente. O grupo de menor consumo registrava cerca de 20 miligramas por dia, enquanto o de maior consumo chegava a 191 miligramas diários.

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Os resultados foram claros: aqueles que ingeriram mais adoçantes tiveram uma piora cognitiva significativamente mais rápida, equivalente a 1,6 ano extra de envelhecimento cerebral. Entre os participantes com menos de 60 anos, a queda foi especialmente perceptível em áreas como fala e cognição global. Curiosamente, apenas a tagatose não apresentou associação significativa com o declínio cognitivo.

A OMS não recomenda o uso prolongado de adoçantes artificiais como forma de controle de peso ou prevenção de doenças crônicas/ Istock/Getty Images
A OMS não recomenda o uso prolongado de adoçantes artificiais como forma de controle de peso ou prevenção de doenças crônicas/ Istock/Getty Images
Divididos pela quantidade ingerida, grupo de menor consumo registrava cerca de 20 miligramas por dia, enquanto o de maior consumo chegava a 191 miligramas diários/ Marcos Oliveira/Agência Senado/Flickr
Divididos pela quantidade ingerida, grupo de menor consumo registrava cerca de 20 miligramas por dia, enquanto o de maior consumo chegava a 191 miligramas diários/ Marcos Oliveira/Agência Senado/Flickr
O estudo acompanhou 12.772 voluntários durante 8 anos, todos com idade média de 52 anos/ Bill Boch/Getty Images
O estudo acompanhou 12.772 voluntários durante 8 anos, todos com idade média de 52 anos/ Bill Boch/Getty Images
Claudia Suemoto conta que uma das motivações da pesquisa foi pessoal, já que ela consumia muito do produto em refrigerantes zero/ sergiorojoes/Freepik
Claudia Suemoto conta que uma das motivações da pesquisa foi pessoal, já que ela consumia muito do produto em refrigerantes zero/ sergiorojoes/Freepik
Aqueles que ingeriram mais adoçantes tiveram uma piora cognitiva significativamente mais rápida, equivalente a 1,6 ano extra de envelhecimento cerebral/ jcomp/Freepik
Aqueles que ingeriram mais adoçantes tiveram uma piora cognitiva significativamente mais rápida, equivalente a 1,6 ano extra de envelhecimento cerebral/ jcomp/Freepik

Possíveis explicações

Segundo os cientistas, ainda não há respostas definitivas, mas algumas hipóteses foram levantadas:

  • Substâncias liberadas na quebra dos adoçantes podem gerar inflamações ou serem tóxicas para os neurônios.
  • Alterações na microbiota intestinal, provocadas pelo consumo frequente, poderiam afetar a tolerância à glicose e enfraquecer a barreira de proteção do sistema nervoso central.

Outro ponto para ter atenção é que muitos dos maiores consumidores de adoçantes eram pessoas com diabetes, e essa condição, por si só, já é considerada um fator de risco para declínio cognitivo.

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Além disso, a pesquisa não avaliou a sucralose, um dos adoçantes mais usados atualmente, porque seu consumo ainda não era significativo no Brasil quando o acompanhamento começou.

Apesar dos achados, os pesquisadores destacam que o estudo é observacional, e não intervém diretamente com os participantes. Por isso, ele demonstra uma associação, mas não prova causa e efeito. Ainda assim, os resultados são considerados fortes o suficiente para recomendar cautela.

O que dizem os especialistas

Segundo Claudia Kimie Suemoto, autora da pesquisa, os dados sugerem que quem exagera no consumo pode acelerar o declínio cognitivo. Embora frequentemente vistos como substitutos saudáveis do açúcar, os adoçantes de baixa ou nenhuma caloria não são isentos de riscos.

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Levada pela curiosidade e dúvida sobre a relação entre declínio cognitivo após um trabalho sobre ultraprocessados, a Coordenadora do Laboratório de Envelhecimento na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Claudia Suemoto conta que uma das motivações da pesquisa foi pessoal, já que ela consumia muito do produto em refrigerantes zero e em café. A pesquisa de certa forma é uma continuidade do trabalho.

As recomendações da OMS

Em 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia divulgado novas diretrizes sobre os adoçantes. A entidade não recomenda o uso prolongado de adoçantes artificiais como forma de controle de peso ou prevenção de doenças crônicas. Isso porque estudos indicam que os benefícios são limitados e os riscos para a saúde podem ser maiores a longo prazo.

A chefe de cozinha Rita Lobo comenta em seu canal Panelinha sobre a recomendação da OMS: 

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De acordo com a OMS, o ideal é reduzir o consumo tanto de açúcar quanto de adoçantes, priorizando alimentos naturais e integrais para manter uma dieta equilibrada.

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