O peixe-leão é um predador invasor que avança rapidamente nas águas brasileiras / Tommaso Giarrizzo / Labomar-UFC
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Nas últimas décadas, um visitante inesperado passou a ocupar as águas tropicais brasileiras: o peixe-leão, um predador colorido, venenoso e extremamente eficiente na caça.
Chamativo à primeira vista e perigoso à segunda, ele tem se espalhado com tanta rapidez que já virou motivo de preocupação nacional, inclusive dentro de áreas oficialmente protegidas, onde teoricamente a biodiversidade deveria estar mais segura.
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Uma investigação recente, conduzida por especialistas brasileiros e divulgada na revista Marine Environmental Research, reuniu dados coletados ao longo de quatro anos para medir a dimensão desse avanço.
O levantamento identificou o peixe-leão desde o Amapá até o sul da Bahia, e aponta que ele já alcançou pelo menos 18 unidades de conservação.
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Os pesquisadores alertam que o número real pode estar acima disso e que, se nada mudar, mais da metade das áreas marinhas protegidas do país poderão ser invadidas em apenas uma década.
Os modelos utilizados no estudo projetam que, até 2034, o animal deve atingir o Sudeste e ocupar cerca de 60% das unidades de conservação costeiras.
A projeção não surpreende os especialistas: o peixe-leão encontra no litoral brasileiro alimento abundante, temperaturas adequadas e praticamente nenhum inimigo natural capaz de conter sua expansão.
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O peixe-leão vem de longe. Ele é originário do Indo-Pacífico, cruzou o Caribe e acabou encontrando no Brasil um cenário extremamente favorável. No Norte e no Nordeste, onde sua presença já é forte, o impacto sobre o ecossistema começa a se tornar visível.
O professor Marcelo Soares, da Universidade Federal do Ceará, um dos autores do estudo, explica que o predador é capaz de consumir uma grande variedade de peixes nativos, chegando a 29 espécies diferentes, o que afeta diretamente a diversidade local e também a pesca artesanal, responsável pelo sustento de muitas famílias.
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O trabalho coordenado por Soares e sua equipe analisou em quais categorias de áreas protegidas o invasor já entrou. A resposta impressiona: ele está aparecendo em APAs, reservas biológicas e parques nacionais.
Só Fernando de Noronha mantém, de forma contínua, ações de captura, mas o esforço ainda é pequeno frente ao ritmo de expansão.
A chegada do peixe-leão ao Brasil desencadeou um fenômeno curioso: ele está crescendo mais rápido e ficando maior aqui do que em muitas regiões de origem.
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Enquanto os indivíduos dessa espécie costumam medir pouco menos de 40 centímetros, já foram registrados exemplares com quase 50 centímetros no arquipélago de Noronha.
Além disso, as fêmeas estão se reproduzindo cedo e liberando grande quantidade de ovos, sinais de que o ambiente está favorecendo a invasão.
A temperatura elevada e a salinidade das águas brasileiras aceleram ainda mais essa expansão. No Ceará, o animal já foi encontrado até dentro de manguezais, colocando em risco pescadores e marisqueiras, que podem ser feridos pelos espinhos venenosos do peixe. As toxinas podem provocar reações graves, como febre, náuseas e alterações cardíacas.
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