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Símbolo universal de partilha e nutrição, o pão tem uma trajetória milenar que atravessa civilizações e continua impulsionando padarias e confeitarias em Santos e região
O Dia Mundial do Pão destaca a importância cultural e econômica do setor de panificação na Baixada Santista / KamranAydinov/Freepik
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Nesta quinta-feira (16) é celebrado o Dia Mundial do Pão. A homenagem ao alimento repleto de valor histórico e cultural não é à toa, já que, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip), apenas no ano de 2024 o setor de panificação faturou R$ 153,36 bilhões.
Instituído em 2000, em Nova York, pela União dos Padeiros e Confeiteiros, o dia é celebrado na mesma data da criação da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A ideia dessa celebração é simples: valorizar o pão como símbolo universal de nutrição e partilha.
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Na Baixada Santista, o Sindicato Patronal de Panificadores (Sinaspan) indica que a cidade de Santos conta com 70 padarias, e o número tende a aumentar, já que a tendência na região e no setor de panificação em todo o Brasil é de expansão.
Em todo o litoral sul, a abertura de novas empresas cresceu 18,4% no primeiro semestre de 2025, e o setor de panificação como um todo registrou crescimento no faturamento e na abertura de novos negócios no país.
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Santos também conta com uma padaria centenária: a Padaria Nova Seara é um ícone de tradição e qualidade desde 1920. O Diário já falou mais sobre ela e outras quatro padarias tradicionais da cidade do pão de cará.
Uma curiosidade é que o bairro Pompéia, criado em 1998, em Santos, leva o mesmo nome da antiga cidade romana, reconhecida por uma grande erupção vulcânica no Monte Vesúvio, em 79 d.C., que, por estar nas proximidades, ficou completamente coberta por detritos vulcânicos.
Nas escavações que revelaram essa tragédia, arqueólogos descobriram um forno cheio de pães queimados, mas bem preservados, em uma padaria local. Esses eram redondos, divididos em oito partes iguais e traziam até a identificação do fabricante.
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Quer um pão sempre macio? A ciência para evitar o mofo e o pão duro.
Você sabia que o macio, adocicado e com uma casquinha brilhante pão de cará é patrimônio imaterial da cidade? Ele foi reconhecido em 7 de junho de 2022 pela Lei nº 4.032? Conheça mais na matéria especial do Diário sobre o carboidrato ícone de Santos.
A Baixada também se destacou com 14 padarias aparecendo na 2ª edição do Guia Turístico das Padarias do Estado de São Paulo, lançado em 2024. São duas padarias no Guarujá e em São Vicente, uma em Itanhaém, três em Praia Grande e sete em Santos. Conheça-as na galeria:
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Segundo o especialista e historiador sobre pão, Augusto Cezar de Almeida, o primeiro documento que narra um brasileiro consumindo pão foi a carta de Pero Vaz de Caminha, quando os portugueses chegaram ao território brasileiro, trazendo pães. Os indígenas então provaram, pela primeira vez, o pão — e a reação não foi muito favorável.
Isso provavelmente ocorreu porque não estavam habituados a consumir aquele tipo de produto. Sua dieta era composta por produtos derivados da mandioca e outros típicos da região.
Outro fator que também pode ter influenciado a reação negativa é que os pães provados por eles eram muito rústicos e, pela longa viagem, provavelmente estavam duros também.
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A primeira história que se tem da plantação de trigo no Brasil é de 1534, graças ao militar Martim Afonso de Souza, que trouxe sementes de trigo para o país.
Além disso, as regiões árabes contribuíram para a introdução de técnicas relacionadas à panificação no Brasil, pela proximidade de Martim Afonso com a região, graças à sua posição como governador da Índia.
Veja também, qual é a melhor maneira de armazenar pão.
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O alimento teria surgido há mais de 6 mil anos, quando os egípcios descobriram a fermentação do trigo. Ali, ele era considerado um alimento básico e um símbolo de poder.
Os pães preparados com trigo de qualidade superior eram destinados apenas aos ricos. Os egípcios se dedicavam tanto ao pão que se tornaram conhecidos como “comedores de pão”.
Entre 1857 e 1876, quando o homem começou, graças ao cientista Louis Pasteur, a controlar o processo de fermentação, a técnica de fazer pão se aprimorou e se espalhou pelo mundo.
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Parte do nosso dia a dia, a Abip registrou que 47,5 milhões de pessoas visitam as padarias brasileiras todos os dias. Isso indica que 22,1% da população passa por padarias e confeitarias diariamente, e a cidade de Santos é parte disso.
A chefe de cozinha Paola Carosella ensina a fazer “um bom pão simples”:
Descubra como fazer pão de frigideira com três ingredientes e rico em proteínas.
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Arqueólogos descobriram evidências de pães feitos há 14 mil anos no deserto da Jordânia. Migalhas carbonizadas analisadas em laboratório revelaram uma combinação de cereais e tubérculos moídos, misturados com água para produzir a massa, que foi assada nas cinzas ou sobre uma pedra quente.
Os egípcios antigos empregavam pão com mofo como uma solução para tratar queimaduras infectadas, aproveitando os efeitos antibióticos dos fungos.
Contudo, Alexander Fleming estudou esses efeitos cientificamente somente em 1928, o que levou à descoberta da penicilina, que passou a ser usada como medicamento em si.
O fermento biológico é composto por uma única levedura, o Saccharomyces cerevisiae, fundamental na produção de pães, onde consome açúcares e libera dióxido de carbono, fazendo com que a massa cresça.
A mesma levedura utilizada no pão possui um papel crucial na produção de cerveja, vinho e até na pesquisa genética, devido à sua fácil manipulação, que possibilita a geração e análise de mutantes e genoma.
Além de estabelecer limitações ao poder do rei, a Magna Carta assinada na Inglaterra em 1215, pelo Rei João, incluiu um conjunto de leis chamado “Assize of Bread”, que estabelecia preços acessíveis para os pobres, variando com base na abundância da colheita. Essas leis vigoraram até o século XIX.
Confira a padaria mais antiga do Brasil , está em São Paulo e preserva tradições há 153 anos.
A expansão marítima no século XVI levou o pão para o resto do mundo, já que os alimentos nos navios consistiam em carne salgada e “biscoitos” de navio. Estes eram basicamente um tipo de pão chato de farinha, água e sal, e muito secos. O exemplo mais antigo encontrado é de 1784. Esses eram duros, porém com grande durabilidade.
Em 1928, Otto Frederick Rohwedder inventou o pão fatiado nos Estados Unidos. A criação revolucionou a indústria do pão, tornando-o mais conveniente e prático para os consumidores, ao mesmo tempo em que impulsionou a popularidade do sanduíche.
O primeiro do tipo “de forma” entrou no mercado por uma marca famosa, e desde então, o pão fatiado se tornou um padrão na dieta do país norte-americano.
Mais do que um alimento, o pão representa uma herança cultural viva — um elo entre o passado e o presente que se renova a cada fornada. Seja o cará santista, o francês da manhã ou o artesanal das novas padarias, cada receita carrega consigo uma história de dedicação, sabor e memória. No Dia Mundial do Pão, celebrar esse alimento é também valorizar o trabalho de quem o transforma diariamente em símbolo de união e identidade cultural.