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Oceano sem segredos: novo habitat subaquático promete revolucionar a pesquisa marinha

Estrutura será o primeiro habitat submerso construído em quase 40 anos e promete ampliar drasticamente o tempo de pesquisa no fundo do mar

Júlia Morgado

Publicado em 17/11/2025 às 11:40

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O Vanguard, novo habitat subaquático da DEEP, foi projetado para operar a 50 metros de profundidade e permitir que cientistas vivam e pesquisem no fundo do mar por até uma semana seguida / Divulgação/Deep

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Com bancos longos e cinza que se transformam em beliches, um micro-ondas discretamente embutido sob o balcão e uma pia de aço funcional, acompanhada por uma prensa francesa e louças dispostas na parte superior. Esses são algum dos itens da "casa oceânica" da empresa britânica DEEP, uma cápsula de aço projetada para operar a 50 metros de profundidade. 

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Batizado de Vanguard, o novo habitat subaquático deve ser instalado no início do próximo ano no Santuário Marinho Nacional de Florida Keys, nos Estados Unidos (EUA). Quando for finalmente selado e fixado ao fundo do oceano, será o primeiro habitat submerso da nova geração — e o primeiro desse tipo construído em quase quatro décadas.

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A expectativa é que a estrutura abra uma nova era para a ciência marinha: equipes de quatro pesquisadores viverão e trabalharão no leito marinho por uma semana inteira, entrando e saindo como mergulhadores autônomos por longas horas todos os dias, sem as limitações impostas por mergulhos tradicionais.

Veja algumas imagens da moradia debaixo d'água: 

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Interior do Vanguard mostra os beliches e a área de descanso onde os aquanautas viverão durante as missões no fundo do mar/ Divulgação/Deep
Interior do Vanguard mostra os beliches e a área de descanso onde os aquanautas viverão durante as missões no fundo do mar/ Divulgação/Deep
Espaço comum do habitat, equipado com mesa e assentos, onde os pesquisadores poderão trabalhar, fazer refeições e planejar mergulhos prolongados/ Divulgação/Deep
Espaço comum do habitat, equipado com mesa e assentos, onde os pesquisadores poderão trabalhar, fazer refeições e planejar mergulhos prolongados/ Divulgação/Deep
Estrutura externa do Vanguard, construída em aço e preparada para suportar pressões elevadas e tempestades extremas/ Divulgação/Deep
Estrutura externa do Vanguard, construída em aço e preparada para suportar pressões elevadas e tempestades extremas/ Divulgação/Deep
Centro de mergulho do habitat, com sistemas de suporte à vida e a "piscina lunar", usada para entrada e saída de mergulhadores/ Divulgação/Deep
Centro de mergulho do habitat, com sistemas de suporte à vida e a "piscina lunar", usada para entrada e saída de mergulhadores/ Divulgação/Deep

Como funciona o Vanguard

Com 12,1 metros de comprimento e 3,7 metros de largura, o Vanguard conta com áreas de convivência, beliches individuais, cozinha, banheiro e estação de trabalho. Um dos módulos, chamado informalmente de “varanda molhada” (wet porch), possui uma abertura permanente no piso — a chamada “piscina lunar” — que permanece seca graças ao equilíbrio entre a pressão interna do habitat e a pressão da água ao redor.

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Essa pressurização é o que torna o Vanguard tão eficiente. Em mergulhos tradicionais, uma descida a 50 metros permite apenas alguns minutos no fundo, seguida de longas paradas de descompressão. Já dentro do habitat, como a pressão interna é igual à da água, os aquanautas só precisam descomprimir uma única vez, ao final da missão.

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Na prática, isso significa várias horas de mergulho por dia, durante vários dias seguidos — algo inédito em missões de pesquisa à profundidade. Veja como isso funciona: 

Uma nova fronteira para a ciência submersa

Com mais tempo no fundo do mar, as equipes poderão realizar pesquisas antes impossíveis, como:

  • Restauração de recifes de coral;
  • Levantamentos complexos de espécies;
  • Arqueologia subaquática;
  • Monitoramento climático;
  • Treinamento de astronautas, já que o ambiente pressurizado simula condições extremas.

“Mais tempo no oceano abre um mundo de possibilidades, acelerando descobertas, inspiração, soluções”, afirmou Kristen Tertoole, diretora de operações da DEEP, durante apresentação do projeto em Miami (EUA). “O oceano é o sistema de suporte de vida da Terra. Ele regula o nosso clima, sustenta a vida e guarda mistérios que apenas começamos a explorar, mas permanece 95% inexplorado.”

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Estrutura segura e projetada para tempestades extremas

O habitat recebe ar, água, energia, internet via Starlink e remoção de resíduos por meio de um cabo conectado a uma boia de superfície, chamada “surface expression”. A boia conta com um gerador a diesel e tanques de armazenamento.

A DEEP afirma que o sistema foi modelado para resistir aos piores furacões previstos para os próximos 20 anos. Caso o cabo seja rompido, o Vanguard tem suprimentos suficientes para manter a tripulação por 72 horas.

O projeto será ainda o primeiro habitat submerso classificado pela Det Norske Veritas (DNV), agência internacional que certifica embarcações e equipamentos marítimos. A classificação garante padrões rigorosos de segurança e viabiliza seguro comercial. 

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“Isso significa que você tem de lidar com as regras e todas as coisas desafiadoras e frustrantes que vêm junto, mas significa que, em um nível fundamental, ele será seguro”, disse Patrick Lahey, fundador da Triton Submarines.

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Missões começam em breve

O Vanguard está passando pelos testes finais na Flórida e deve receber seus primeiros cientistas poucos meses após ser instalado em seu local definitivo.

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“O oceano não é apenas nosso recurso; é nossa responsabilidade”, diz Tertoole. “A Deep é mais do que um único habitat. Estamos construindo uma capacidade full-stack para a presença humana no oceano.” Com mais tempo útil no fundo do mar, o Vanguard pode ajudar a solucionar mistérios que a humanidade observa há séculos — mas que, até agora, só podia tocar por alguns minutos.

O Vanguard é só o começo

Além do Vanguard, a empresa desenvolve outro projeto ambicioso: o Sentinel, uma base modular descrita como um verdadeiro “hotel subaquático”, projetada para operar a 200 metros de profundidade na costa do País de Gales — ampliando ainda mais as fronteiras da vida submersa.

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