O Vanguard, novo habitat subaquático da DEEP, foi projetado para operar a 50 metros de profundidade e permitir que cientistas vivam e pesquisem no fundo do mar por até uma semana seguida / Divulgação/Deep
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Com bancos longos e cinza que se transformam em beliches, um micro-ondas discretamente embutido sob o balcão e uma pia de aço funcional, acompanhada por uma prensa francesa e louças dispostas na parte superior. Esses são algum dos itens da "casa oceânica" da empresa britânica DEEP, uma cápsula de aço projetada para operar a 50 metros de profundidade.
Batizado de Vanguard, o novo habitat subaquático deve ser instalado no início do próximo ano no Santuário Marinho Nacional de Florida Keys, nos Estados Unidos (EUA). Quando for finalmente selado e fixado ao fundo do oceano, será o primeiro habitat submerso da nova geração — e o primeiro desse tipo construído em quase quatro décadas.
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A expectativa é que a estrutura abra uma nova era para a ciência marinha: equipes de quatro pesquisadores viverão e trabalharão no leito marinho por uma semana inteira, entrando e saindo como mergulhadores autônomos por longas horas todos os dias, sem as limitações impostas por mergulhos tradicionais.
Veja algumas imagens da moradia debaixo d'água:
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Com 12,1 metros de comprimento e 3,7 metros de largura, o Vanguard conta com áreas de convivência, beliches individuais, cozinha, banheiro e estação de trabalho. Um dos módulos, chamado informalmente de “varanda molhada” (wet porch), possui uma abertura permanente no piso — a chamada “piscina lunar” — que permanece seca graças ao equilíbrio entre a pressão interna do habitat e a pressão da água ao redor.
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Essa pressurização é o que torna o Vanguard tão eficiente. Em mergulhos tradicionais, uma descida a 50 metros permite apenas alguns minutos no fundo, seguida de longas paradas de descompressão. Já dentro do habitat, como a pressão interna é igual à da água, os aquanautas só precisam descomprimir uma única vez, ao final da missão.
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Na prática, isso significa várias horas de mergulho por dia, durante vários dias seguidos — algo inédito em missões de pesquisa à profundidade. Veja como isso funciona:
Com mais tempo no fundo do mar, as equipes poderão realizar pesquisas antes impossíveis, como:
“Mais tempo no oceano abre um mundo de possibilidades, acelerando descobertas, inspiração, soluções”, afirmou Kristen Tertoole, diretora de operações da DEEP, durante apresentação do projeto em Miami (EUA). “O oceano é o sistema de suporte de vida da Terra. Ele regula o nosso clima, sustenta a vida e guarda mistérios que apenas começamos a explorar, mas permanece 95% inexplorado.”
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O habitat recebe ar, água, energia, internet via Starlink e remoção de resíduos por meio de um cabo conectado a uma boia de superfície, chamada “surface expression”. A boia conta com um gerador a diesel e tanques de armazenamento.
A DEEP afirma que o sistema foi modelado para resistir aos piores furacões previstos para os próximos 20 anos. Caso o cabo seja rompido, o Vanguard tem suprimentos suficientes para manter a tripulação por 72 horas.
O projeto será ainda o primeiro habitat submerso classificado pela Det Norske Veritas (DNV), agência internacional que certifica embarcações e equipamentos marítimos. A classificação garante padrões rigorosos de segurança e viabiliza seguro comercial.
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“Isso significa que você tem de lidar com as regras e todas as coisas desafiadoras e frustrantes que vêm junto, mas significa que, em um nível fundamental, ele será seguro”, disse Patrick Lahey, fundador da Triton Submarines.
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O Vanguard está passando pelos testes finais na Flórida e deve receber seus primeiros cientistas poucos meses após ser instalado em seu local definitivo.
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“O oceano não é apenas nosso recurso; é nossa responsabilidade”, diz Tertoole. “A Deep é mais do que um único habitat. Estamos construindo uma capacidade full-stack para a presença humana no oceano.” Com mais tempo útil no fundo do mar, o Vanguard pode ajudar a solucionar mistérios que a humanidade observa há séculos — mas que, até agora, só podia tocar por alguns minutos.
Além do Vanguard, a empresa desenvolve outro projeto ambicioso: o Sentinel, uma base modular descrita como um verdadeiro “hotel subaquático”, projetada para operar a 200 metros de profundidade na costa do País de Gales — ampliando ainda mais as fronteiras da vida submersa.