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Carreira do apresentador começou e terminou do mesmo jeito; despedida foi considerada emocionante e historicamente preciosa
O nome 'Jornal Internacional' foi criado a partir do sucesso do 'Jornal Nacional' / Reprodução/Memória Globo
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O Jornal Nacional é hoje um dos principais telejornais da televisão brasileira e também um dos mais longevos. Recentemente, o programa fez uma mudança história ao anunciar que Willian Bonner vai sair da bancada e será substituído por Cesar Tralli.
O novo apresentador será responsável por continuar um legado que começou em 1969, com Hilton Gomes (1924 - 1999) e Cid Moreira (1927 - 2024), o último sendo um dos jornalistas que ficaram por mais tempo na bancada, atrás apenas de Willian Bonner.
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Anos após a estreia do Jornal Nacional, em 1972 o programa ganhou um "irmão" chamado "Jornal Internacional". Sempre às 22h30, o então novo programa tinha a missão de trazer ao público brasileiro as principais notícias do mundo.
A ideia partiu de uma necessidade logística: se hoje acompanhamos ao vivo qualquer acontecimento no planeta, é bom lembrar que nos anos 70 isso era bem diferente. Em um tempo sem internet, sem satélites e sem a agilidade tecnológica, as fitas das agências internacionais chegavam à redação com vários dias de atraso.
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Dessa forma, o jeito era improvisar e foi nesse contexto que nasceu o Jornal Internacional (JI), exibido pela Rede Globo entre 1972 e 1975. O noticiário foi uma ousadia da época: colocar no ar, diariamente, um resumo das principais notícias do mundo, com um toque nacional.
A abertura do telejornal hoje pode ser vista como simples, mas certamente era bastante sofisticada para época, como é possível ver abaixo, no vídeo do canal do You Tube Dalmo Pereira:
O apresentador do telejornal, Heron Domingues, lia as notas ao vivo e alguns mapas apareciam na tela. Assim, o jornal ia ao ar com toda a elegância possível, mesmo usando as informações de alguns dias antes.
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Inicialmente com 15 minutos no ar (e depois 20 até que voltou a ter 15 minutos), o noticiário misturava política, economia e grandes acontecimentos do mundo. Era o “olhar brasileiro para o mundo” numa época em que a TV ainda tateava os caminhos do jornalismo internacional.
Domingues, inclusive, era muito famoso na época por ter sido a voz do histórico e icônico Repórter Esso na TV e no rádio. A equipe de redação tinha nomes que depois se tornariam grandes referências no jornalismo, como Jorge Pontual (hoje correspondente em Nova York) e Sandra Passarinho.
Mas, o Jornal Internacional, além de fazer parte da trajetória da televisão brasileira por causa do seu formato, também é responsável por um triste capítulo dessa história.
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Pouca gente sabe, mas o último trabalho de Domingues foi justamente no Jornal Internacional. Quando a notícia da renúncia do presidente norte-americano Richard Nixon chegou em solo brasileiro, o jornalista estava de férias e mesmo assim ele pediu o adiamento do descanso justamente para noticiar o fato ao vivo.
Após o programa, ele foi jantar com Armando Nogueira, um dos fundadores do telejornalismo da TV Globo, e no dia seguinte faleceu vítima de um infarto fulminante enquanto dormia, fechando seu ciclo histórico no mundo das notícias de forma poética.
Em depoimento ao livro "Jornal Nacional - A notícia faz história" (Jorge Zahar Editor), Nogueira, que faleceu em 2010 em decorrência de um câncer cerebral, afirmou que considera o momento uma preciosidade da trajetória do telejornalismo brasileiro.
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"Eu não tenho a menor dúvida de que o Heron morreu de emoção, causada por aquele jornal especial que ele fez. Ele viveu uma noite realmente gloriosa da sua carreira. Morreu como, eu imagino, ele gostaria de morrer: depois de uma performance extraordinária", disse.
Com a morte de Heron, o JI passou a ser apresentado em rodízio por Sérgio Chapelin, que depois se consagrou no Jornal Nacional, e Carlos Campbell. O programa foi extinto em 2 de maio de 1975 e, no lugar, a Globo lançou o telejornal Amanhã, que trouxe uma linguagem mais moderna e descontraída.
Domingues foi o primeiro apresentador de televisão. Em 1961, ele ingressou na TV Tupi do Rio de Janeiro, em 1961. Depois, ele trabalhou na TV Continental até 1970 e entrou na Globo em 1972, onde ficou até a morte, em 1974.
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Ele foi o primeiro a noticiar vários fatos históricos em seus 33 anos de carreira no rádio e na televisão: do lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima em 1945 à chegada do Homem à Lua em 1969, passando pelo suicídio de Getúlio Vargas (1954), a morte da cantora Carmen Miranda (1955) e a renúncia do presidente da República Jânio Quadros em 1961,
Sua carreira começou de forma inusitada. Aos 16 anos tentou a carreira de cantor participando de um concurso de calouros na Rádio Gaúcha, em Porto Alegre.
O evento aconteceu no dia 7 de dezembro de 1941, dia escolhido pelos japoneses para o bombardeio de Pearl Harbour, nos Estados Unidos. Entretanto, não havia um locutor na rádio e Domingues foi lançado às pressas aos microfones para dar a notícia em primeira mão.
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Isso fez com que sua carreira começasse e terminasse praticamente do mesmo jeito: anunciando um grande evento mundial. Em um vídeo do canal Dalmo Pereira, é possível ver um dos primeiros momentos do apresentador e também conferir um trecho do seu momento derradeiro: