Mulher cobre espelho durante tempestade com raios / Imagem gerada por IA
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Em diversas regiões do Brasil e do mundo, um costume antigo ainda atravessa gerações: o de cobrir espelhos durante tempestades com raios. Embora pareça apenas uma superstição folclórica, o gesto tem raízes históricas, culturais e até psicológicas que ajudam a explicar por que esse hábito sobrevive, mesmo em tempos de tecnologia e informações científicas acessíveis.
A prática remonta a séculos passados, quando o espelho era visto não apenas como um objeto doméstico, mas como um elemento simbólico e, em alguns contextos, até espiritual. Em comunidades europeias, africanas e indígenas, acreditava-se que espelhos poderiam atrair ou intensificar energias, funcionando como portais ou pontos de concentração de forças invisíveis. Em dias de tempestade, quando o som dos trovões e a luz dos relâmpagos despertavam medo, o reflexo luminoso no vidro era interpretado como um risco adicional — espiritual ou físico.
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No Brasil, o costume ganhou diferentes interpretações ao longo do tempo. Em muitos lares, principalmente em áreas rurais, difundiu-se a crença de que o espelho poderia “puxar” um raio para dentro da casa. A ideia, embora não tenha base científica, se relacionava a um tempo em que a eletricidade não era compreendida e tempestades eram vistas como fenômenos imprevisíveis e ameaçadores. Para alguns grupos religiosos, cobrir o espelho também servia para “proteger a alma” do susto causado pelos clarões, evitando que a imagem refletida fosse “atingida” simbolicamente pela tempestade.
Além do imaginário espiritual, havia outra camada de motivação: o medo do vidro. No passado, espelhos eram muito mais frágeis e podiam estilhaçar com vibrações intensas ou mudanças bruscas de temperatura. Uma forte trovoada podia fazer janelas tremerem e, em consequência, provocar rachaduras. Proteger o espelho com panos ou mantas também era uma forma prática de evitar acidentes num tempo em que os objetos eram caros e difíceis de substituir.
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Hoje, a ciência explica que espelhos não atraem descargas elétricas e não representam risco adicional durante tempestades. Ainda assim, o hábito persiste em muitas famílias — às vezes por tradição, às vezes por respeito às crenças dos mais velhos. Para antropólogos, esse comportamento é um exemplo claro de como rituais domésticos sobrevivem mesmo quando sua função original se perde. Eles se transformam em gestos de conforto, memória e pertencimento cultural.
Em um país marcado pela mistura de tradições, crenças e influências, manter um espelho coberto em dias de raios pode ser menos sobre medo e mais sobre continuidade — uma forma silenciosa de preservar histórias que atravessam o tempo, mesmo quando a razão já oferece explicações mais simples.
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