O SS Ayrfield é hoje a única floresta no meio do mar que existe no planeta / Imagem gerada por IA/DL
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À primeira vista, o cenário parece cena de filme pós-apocalíptico: em uma baía urbana de Sydney, na Austrália, um casco de navio enferrujado surge coberto por uma copa verde densa, como se uma pequena floresta tivesse brotado sobre o aço. É o SS Ayrfield, cargueiro centenário que, depois de aposentado, acabou transformado em um dos naufrágios mais curiosos do mundo — a chamada “floresta flutuante” de Homebush Bay.
O navio foi construído em 1911, no Reino Unido, inicialmente com o nome de SS Corrimal. Serviu por décadas como cargueiro de carvão e, durante a Segunda Guerra Mundial, foi requisitado para transportar suprimentos para tropas norte-americanas no Pacífico. Ao fim da vida útil, já nos anos 1970, acabou desativado e levado para Homebush Bay, área que funcionava como espécie de cemitério e desmanche de embarcações antigas.
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Enquanto outros cascos foram desmontados, o SS Ayrfield permaneceu ali, encalhado em águas rasas, próximo à margem. Com o tempo, o aço foi sendo tomado pela ferrugem e pela ação da maré. O que ninguém imaginava é que o destino do navio seria bem diferente de simplesmente desaparecer sob a água turva da baía industrial.
Ao redor do casco existe um manguezal ativo. Sementes de mangue-cinzento começaram a se acumular ali dentro, presas em frestas e acúmulos de sedimento. Aos poucos, germinaram e cresceram, transformando o interior do navio em solo improvisado. Décadas depois, o que se vê é uma massa compacta de árvores que ocupa praticamente toda a estrutura, dando a impressão de que a copa flutua sozinha sobre a água. É essa imagem que rendeu ao SS Ayrfield o apelido de “floating forest”, a floresta flutuante de Sydney.
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Hoje, a embarcação é vizinha de condomínios residenciais e do parque olímpico da cidade. Quem caminha pelas trilhas à beira de Homebush Bay consegue avistar de perto o casco recortado, com a vegetação saindo por janelas e fendas. Em certos horários, especialmente no pôr do sol, a silhueta da “ilha verde de ferro” em contraste com a água calma virou parada obrigatória para fotógrafos e turistas que buscam ângulos diferentes de Sydney.
O que já foi sucata hoje é tratado como ponto de interesse histórico e ambiental. O SS Ayrfield figura em listas de naufrágios protegidos e é usado como exemplo de como a natureza pode se apropriar de estruturas humanas abandonadas e criar novos micro-ecossistemas. Entre o passado de guerra, o trabalho pesado como cargueiro e o presente como floresta flutuante em plena área urbana, o navio acabou se tornando um lembrete visível de que, mesmo sobre aço e ferrugem, a vida encontra espaço para recomeçar.