Após anos ignorando sinais sutis, Unaiza descobriu a Doença Renal Crônica e hoje usa sua experiência para conscientizar outras pessoas / Reprodução Instagram/Freepik
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Na cidade de Calcutá, na Índia, Unaiza Samad recebeu uma notícia surpreendente há aproximadamente seis anos, após uma ida ao médico por causa de um olho direito embaçado. Ela descobriu que estava com Doença Renal Crônica (DRC).
O curioso é que, até aquele ponto, para Unaiza a vida parecia perfeitamente normal. Ela trabalhava duro, lidava com o estresse diário e ignorava as pequenas dores e desconfortos que pareciam parte de uma rotina ocupada, comuns demais para parecerem perigosos.
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Dores de cabeça frequentes? Apenas estresse com os estudos e a carreira. Pele seca? Apenas o clima seco, bastava aplicar hidratante. Confusão e falta de concentração? Considerava atenção curta e exaustão mental. Ansiedade severa e dor no peito? Apenas preocupação com o futuro.
Dores nas pernas e musculares? Excesso de trabalho ou dor pós-treino. Como muitas pessoas, ela nunca imaginou que esses sintomas fossem sinais de DRC.
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A história dela é um alerta para milhares de pessoas que, sem saber, ignoram os primeiros sintomas da doença, permitindo que ela avance silenciosamente até se tornar uma ameaça à vida.
Apesar de hoje Unaiza saber que sempre teve sinais, ela os ignorava, até que, quando já estava próxima dos 30 anos, sua visão no olho direito começou a ficar embaçada. Segundo ela, era algo meio translúcido, e então decidiu procurar um médico.
No início acreditava ser um problema de vista, uma mudança de grau, algo do tipo. Porém, depois de consultar vários médicos e todos a encaminharem para um mais experiente, eventualmente chegou a uma especialista mais sênior, e foi aí que as coisas ficaram sérias.
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A médica ficou visivelmente chocada durante o exame e insistiu em medir sua pressão arterial, que se encontrava em impressionantes 250/150. Segundo Unaiza, a especialista ficou furiosa e disse: “Como você ainda está de pé? Você deveria estar tendo um derrame cerebral agora mesmo!”
Foi exigida uma tomografia de seu cérebro e explicado que os vasos sanguíneos dos olhos estavam completamente danificados, sendo necessária a internação imediata.
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“Naquele momento, comecei a chorar porque tinha acabado de iniciar minha graduação em Educação e não queria faltar às aulas” relata. Mas a médica foi clara: se não fosse internada naquele momento, não sobreviveria.
Unaiza estava com o irmão mais velho, tão chocado quanto ela. Discretamente, ele lhe disse: “Vamos fugir daqui; a médica enlouqueceu!”. Então, saíram do hospital e foram a um clínico geral.
O clínico pediu alguns exames de sangue, incluindo creatinina e ureia. Foi então que descobriram o verdadeiro problema: seus rins estavam danificados, e seu nível de creatinina era de 2,9 mg/dL, sendo que o padrão em mulheres adultas varia de 0,6 a 1,1 mg/dL. A indiana foi imediatamente encaminhada a um urologista, iniciando sua jornada.
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O nefrologista Roberto Galvão conta 6 fatos sobre o transplante renal:
Com a piora da condição, Unaiza conta que começou a aceitar a morte, chegando a decidir que pararia o tratamento de diálise, já que não queria impor ao corpo e à família mais estresse emocional e financeiro.
Porém, um mês após tomar essa decisão, seu irmão saudável e recém-casado faleceu repentinamente de parada cardíaca. Sua partida silenciosa a desestabilizou, já que, para ela, o irmão sempre foi um grande apoio.
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Após esse evento que abalou Unaiza e sua família, ela decidiu voltar ao tratamento. Não muito depois, conseguiu uma nova oportunidade na vida: um transplante de rim.
Atualmente, já com pouco mais de 30 anos, Unaiza completou, em janeiro de 2025, um ano da cirurgia que mudou sua vida. É importante destacar que o transplante não representa a cura da Doença Renal Crônica, mas proporciona uma melhora significativa na qualidade de vida.
Hoje, Unaiza conta sua história nas redes sociais, compartilhando sua experiência, apoiando outras pessoas com DRC e conscientizando sobre a importância de não minimizar mudanças sutis na saúde. Sua mensagem é clara: é preciso escutar o corpo e não ignorar sinais persistentes às vezes, pode ser algo muito mais sério do que se imagina.
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Veja seu vídeo comemorando 1 ano de transplante:
A história de Unaiza demonstra um grande problema: a doença costuma evoluir em silêncio. Médicos chamam a DRC de “assassina silenciosa” porque os rins continuam funcionando parcialmente mesmo quando já estão bastante comprometidos.
Por isso, sintomas graves como inchaço, falta de ar ou fraqueza intensa só aparecem quando mais de 80% da função renal já foi perdida. Antes disso, sinais como cansaço persistente, dor nas costas, alterações na urina, pele seca, inchaço nos tornozelos ou dores musculares são facilmente confundidos com problemas do dia a dia e muitas vezes ignorados.
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No Brasil, estima-se que mais de 10 milhões de pessoas convivam com algum grau de Doença Renal Crônica, embora a maioria não saiba do diagnóstico. A Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE (2019) revelou que apenas 1,5% dos adultos afirmaram já ter recebido diagnóstico médico de insuficiência renal crônica, enquanto estudos clínicos apontam prevalência real próxima de 10% da população, número que chega a 20% entre os idosos.
Os principais fatores de risco são hipertensão arterial e diabetes, doenças que atingem juntas mais de 40 milhões de brasileiros e são as principais responsáveis pela sobrecarga renal. Obesidade, má alimentação, tabagismo e histórico familiar também aumentam o risco.
A boa notícia é que a DRC pode ser detectada cedo por meio de exames simples e gratuitos no SUS, como a dosagem de creatinina no sangue e a pesquisa de albumina na urina. Esses testes permitem identificar alterações iniciais antes de sintomas evidentes e são recomendados especialmente para diabéticos, hipertensos e idosos.
Quando descoberta a tempo, a doença pode ser controlada com tratamento adequado, mudanças de estilo de vida e medicamentos que retardam sua progressão.
Atualmente, cerca de 157 mil brasileiros dependem de diálise regularmente, número que quadruplicou nas últimas duas décadas. O tratamento salva vidas, mas é desgastante, além de custar bilhões de reais ao sistema público de saúde todos os anos.
O transplante renal é a alternativa mais eficaz para devolver qualidade de vida, mas a fila de espera ultrapassa 38 mil pessoas, a maior entre todos os órgãos. Especialistas reforçam que a saída é investir em prevenção e rastreamento precoce.
Campanhas como o Dia Mundial do Rim, celebrado em março, buscam alertar a população para não minimizar sinais persistentes e lembrar que exames simples podem salvar anos de vida saudável.