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Muito longe de Oz e bem antes de Cristo: saiba como surgiu o chapéu das bruxas

Entre rituais, perseguições e a cultura pop, objeto hoje ligado à magia e rebeldia tem origem diversa

Luna Almeida

Publicado em 01/12/2025 às 20:56

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Esse adereço, hoje tão associado à feitiçaria, tem um percurso complexo e surpreendente / Divulgação/Universal Pictures

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Quando se fala em bruxas, a mente costuma viajar imediatamente para certos objetos emblemáticos: a vassoura ligada à heresia desde o caso de Alice Kyteler, no século 14; o caldeirão de Shakespeare, eternizado no feitiço de Macbeth; ou o chapéu cônico que marcou gerações no cinema e nas histórias infantis. 

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Mas esse adereço, hoje tão associado à feitiçaria, tem um percurso complexo e surpreendente.

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Muito antes de aparecer no clássico O Maravilhoso Mágico de Oz, publicado por Frank L. Baum, ou na interpretação de Margaret Hamilton como a Bruxa Má do Oeste em 1939, versões do chapéu pontudo já existiam na Idade do Bronze. 

Exemplares dourados, decorados com símbolos astronômicos, eram usados por sacerdotes considerados detentores de conhecimento divino. 

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Mais tarde, múmias chinesas dos séculos 4 a 2 a.C., apelidadas de “Bruxas de Subeshi”, também foram encontradas usando o modelo.

A história do chapéu, no entanto, passa por momentos mais sombrios. Em diferentes períodos, autoridades exigiram que grupos perseguidos utilizassem chapéus cônicos como forma de identificação. 

Homens judeus, no século 13, foram obrigados pela Igreja Católica a usar os chamados chapéus judeus. 

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Na Inquisição Espanhola, iniciada em 1478, acusados de heresia e feitiçaria eram forçados a usar capirotes altos e pontiagudos — elementos que depois influenciariam artistas como Francisco Goya. 

Em O Voo das Bruxas (1798), ele retrata feiticeiras com chapéus cônicos ao lado de um burro, símbolo da ignorância, numa crítica à superstição que dominava a época.

Enquanto isso, a arqueologia da moda revela outro cenário. Pinturas do século 17 mostram mulheres como a retratada por John Michael Wright, ou em obras como o Retrato de Esther Inglis, usando chapéus altos como parte da indumentária comum da época. Nada ali sugeria bruxaria. 

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Historiadores, como Laura Kounine, argumentam inclusive que as supostas bruxas do início da Idade Moderna não usavam chapéu algum: eram retratadas com o cabelo solto, símbolo de rebeldia e desvio moral, como nas gravuras de Albrecht Dürer ou Hans Baldung Grien.

Há ainda as alewives, mulheres cervejeiras da Idade Média, que usavam chapéus pontiagudos para se destacarem nas feiras. 

Seus caldeirões e ervas medicinais reforçaram a associação posterior entre esses objetos e a feitiçaria, ainda que, como lembra a professora Kounine, essa conexão tenha sido construída mais pelo mito do que pelos registros históricos.

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O primeiro vínculo explícito entre chapéu cônico e bruxa aparece no livro As Maravilhas do Mundo Invisível (1693), de Cotton Mather, com a imagem de uma feiticeira montada em uma vassoura. 

A partir daí, contos de fadas, xilogravuras e pinturas reforçaram a estética pontuda. A literatura infantil fez o resto: O Maravilhoso Mágico de Oz transformou o chapéu em ícone definitivo, potencializado pela adaptação cinematográfica de 1939.

No século 20, a cultura pop continuou moldando essa figura. Samantha em A Feiticeira, as irmãs Prue, Piper, Phoebe e Paige em Charmed e, mais recentemente, Elphaba em Wicked — vivida no cinema por Cynthia Erivo e estilizada por Paul Tazewell — ajudaram a reinterpretar o chapéu sob novas perspectivas. 

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O acessório deixou de carregar apenas a aura sombria da Bruxa Má do Oeste e passou a dialogar com temas como autonomia feminina, espiritualidade e resistência. 

“Somos as filhas das bruxas que vocês não conseguiram queimar” se tornou frase de empoderamento, ecoando o revisionismo feminista em torno da figura da bruxa.

Do ritual pagão ao item mais buscado no Google para o Halloween de 2021, o chapéu pontudo segue como objeto mutável. 

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Sua trajetória atravessa perseguições religiosas, moda europeia, arte iluminista e superproduções modernas, sempre reinventado por quem o usa e por quem o interpreta.

Em séculos de história, ele nunca teve um único significado. Foi símbolo de poder, estigma imposto, fantasia infantil e marca de personagens icônicos como Elphaba – provando que, assim como a própria bruxa, o chapéu continua vivo, múltiplo e em constante transformação.

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