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Moradora que viveu ar tóxico comemora virada de Cubatão: 'Hoje vejo pássaros na janela'

Conheça a jornada do município, que saiu da lista de locais mais poluídos do mundo para se tornar um exemplo global de recuperação

Agência Diário

Publicado em 24/09/2025 às 16:00

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De uma das cidades mais poluídas do mundo, Cubatão se reinventou e hoje é um exemplo de recuperação ambiental / Renan Lousada/DL

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O céu coberto por uma névoa densa, a respiração difícil e os olhos que não paravam de lacrimejar. Nas décadas de 1970 e 1980, esse cenário fez com que a cidade de Cubatão, no litoral de São Paulo, ficasse conhecida como o "Vale da Morte".

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O apelido cruel tinha uma justificativa séria: a Organização das Nações Unidas (ONU) apontou a cidade como o lugar mais poluído do planeta.

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Mais de quatro décadas depois, a mesma organização concedeu a Cubatão o selo verde, um reconhecimento que atesta a recuperação ambiental do município.

Essa transformação monumental é celebrada por quem a viveu de perto, como a moradora Dalva Simões, de 72 anos, que lembra do choque imediato ao se mudar para a cidade em 1970.

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Ela recorda que os efeitos da poluição eram assustadores e imediatos. "Fui até minha vizinha e desabafei: 'Os olhos meus, da minha mãe, dos meus irmãos pequenos, não param de lacrimejar e estão ardendo muito'", conta Dalva. "Foi aí que a vizinha me alertou que era a poluição. Foi uma época muito difícil".

O apelido cruel tinha uma justificativa séria: a Organização das Nações Unidas (ONU) apontou a cidade como o lugar mais poluído do planeta / Fotos: Renan Lousada/DL
O apelido cruel tinha uma justificativa séria: a Organização das Nações Unidas (ONU) apontou a cidade como o lugar mais poluído do planeta / Fotos: Renan Lousada/DL
Mais de quatro décadas depois, a mesma organização concedeu a Cubatão o selo verde, um reconhecimento que atesta a recuperação ambiental do município
Mais de quatro décadas depois, a mesma organização concedeu a Cubatão o selo verde, um reconhecimento que atesta a recuperação ambiental do município
Essa transformação monumental é celebrada por quem a viveu de perto, como a moradora Dalva Simões, de 72 anos, que lembra do choque imediato ao se mudar para a cidade em 1970
Essa transformação monumental é celebrada por quem a viveu de perto, como a moradora Dalva Simões, de 72 anos, que lembra do choque imediato ao se mudar para a cidade em 1970

Do vale da morte à recuperação

A vida era dura. O ar de Cubatão estava saturado por uma névoa e um cheiro constante de produtos químicos. A vegetação, antes abundante na região da Serra do Mar, era quase inexistente. Dalva relembra que a visibilidade era tão baixa pela manhã que "a gente não enxergava nada".

A situação se agravou na extinta Vila Parisi, uma comunidade no coração do polo industrial. Os moradores sofriam com doenças respiratórias, problemas de pele, câncer e casos de anencefalia.

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Ponto de virada: a tragédia e a mudança

O cenário começou a mudar após a trágica explosão de um duto da Petrobras na Vila Socó, que, em 1984 matou 93 pessoas. A partir daí, a pressão da sociedade e a ação de autoridades impulsionaram um grande programa de recuperação ambiental na cidade.

A fiscalização rigorosa da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) sobre as indústrias, combinada com o replantio massivo de árvores e a recuperação de rios, como o Rio Cubatão, foram passos cruciais.

Como a transformação aconteceu

A Cetesb identificou as fontes de poluição, exigindo que as indústrias instalassem equipamentos de controle. Naquela época, as empresas siderúrgicas, petroquímicas e químicas operavam sem qualquer filtro.

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Filtros, lavadores de gases e precipitadores eletrostáticos foram implementados, o que resultou na redução significativa de poluentes.

A Cetesb informa que a qualidade do ar hoje é considerada boa em 96% do tempo, e as reclamações anuais da população caíram de aproximadamente mil na década de 1980 para menos de cinquenta atualmente.

Cubatão hoje é um exemplo

Os esforços de recuperação da Mata Atlântica também renderam a Cubatão o reconhecimento na ECO-92 como "Exemplo Mundial de Recuperação Ambiental". A Serra do Mar, antes devastada e propensa a deslizamentos, teve grande parte reflorestada.

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Hoje, a cidade se destaca pelo retorno de animais como o guará-vermelho aos manguezais, um símbolo de sua renascimento ambiental. Dalva celebra a nova realidade: "Hoje vejo pássaros na minha janela". Ela finaliza, "Teve uma mudança muito grande. Em vista de tudo que vivemos, hoje realmente é outra coisa."

*Texto escrito por Julia Teixeira

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