Machu Picchu, em Cusco, em uma lista de destinos turísticos mundialmente conhecidos que, apesar da popularidade nas redes sociais como o Instagram, não valem mais a pena ser visitados por causa da superlotação / Isabella Fernandes/DL
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O destino turístico mais famoso do Peru agora é motivo de alerta. O site internacional Travel and Tour World (TTW) incluiu a cidade inca de Machu Picchu, em Cusco, em uma lista de destinos turísticos mundialmente conhecidos que, apesar da popularidade nas redes sociais como o Instagram, não valem mais a pena ser visitados por causa da superlotação, dos altos custos e do impacto negativo no patrimônio cultural e natural. Mas será mesmo?
Confesso que li essa notícia com atenção especial porque estive lá exatamente na época mencionada: viajei ao Peru entre os dias 18 e 22 de abril de 2025, e fui a Machu Picchu no dia 20, no domingo de Páscoa. Ou seja, peguei o auge da temporada. E sim, estava absolutamente lotado.
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Segundo o portal, a situação piora com o colapso no sistema de venda de ingressos, denúncias de corrupção interna, venda ilegal de entradas e pressões políticas para aumentar o número diário de visitantes. O Ministério da Cultura chegou a propor a entrada de até 27 mil turistas por dia, com ingressos a 35 soles e visitas limitadas a uma hora, medida amplamente criticada por especialistas, arqueólogos e representantes do turismo formal.
Em Aguas Calientes, a cidade-base para chegar a Machu Picchu, os preços de hotéis, alimentação e transporte dispararam. O resultado é uma experiência cada vez mais cara, desorganizada e estressante, distante da atmosfera mística e ancestral que se espera do lugar. Turistas locais e estrangeiros reclamam de filas longas, falta de estrutura e serviços sobrecarregados.
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Aproveitando o tema de viagem, veja outras opções de destinos como o Atacama.
A verdade é que o lugar estava bem diferente do que eu imaginava pelas fotos que a gente vê nas redes. Filas enormes, muita gente por todos os lados, serviços confusos, preços inflacionados.
E olha que eu nem peguei tempo bom: choveu no dia da visita. Mesmo assim, o local continuava cheio. Vi trilhas com gente demais, áreas que claramente não estavam sendo respeitadas, grupos passando por rotas com número bem acima do que a estrutura aguenta.
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De acordo com a Controladoria Geral do Peru, há trilhas que chegam a receber até 700 pessoas por dia, quando o máximo recomendado seria 450. Isso não só desgasta o sítio arqueológico, como também prejudica o ecossistema. A Unesco já alertou que, se nada for feito, Machu Picchu pode ser incluído na lista de Patrimônio Mundial em Perigo.
Mesmo com tudo retratado na matéria do Travel and Tour World, eu amei a experiência. Ver Machu Picchu ao vivo, mesmo sob chuva e em meio à multidão, foi mágico pra mim.
É por isso que acredito que a experiência é muito individual. O que é caótico para alguns, pode ser inspirador para outros. Mas uma coisa é certa: os impactos do turismo em massa são reais, o número de visitantes precisa ser reduzido urgentemente. Do contrário, corremos o risco de destruir justamente aquilo que viemos buscar: o encanto e a grandiosidade desse lugar único no mundo.
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Para mim, ainda vale a pena visitar o Peru e Machu Picchu, mas com expectativas ajustadas. Não espere um passeio tranquilo e silencioso. Não vá achando que vai tirar uma foto sozinho com as montanhas ao fundo. E, acima de tudo, vá com respeito ao espaço, à cultura e ao que esse lugar representa.
A inclusão do Peru nessa lista do Travel and Tour World faz parte de um fenômeno global que também afeta destinos em outros seis países, onde o turismo se tornou insustentável. Além de Machu Picchu, veja os outros locais que, segundo o site, “já não valem a pena visitar”:
Com mais de 25 milhões de turistas por ano, a cidade está superlotada. Ruas congestionadas, aluguéis caríssimos e cruzeiros que sobrecarregam a infraestrutura tornaram a visita à cidade difícil de aproveitar. A população local está diminuindo rapidamente.
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O que antes era um paraíso tropical perdeu a tranquilidade. Áreas como Ubud e Canggu enfrentam trânsito intenso, poluição por plástico e excesso de turistas, afetando o equilíbrio ambiental e cultural. O espírito espiritual de Bali foi ofuscado pelo turismo massivo.
A cidade tradicional japonesa sofre para manter sua identidade. No bairro de Gion, moradores já proibiram até tirar fotos, diante do desrespeito de muitos visitantes. Casas de chá históricas hoje priorizam turistas estrangeiros em vez da comunidade local.
O turismo cresceu de forma tão acelerada que os famosos cenários vulcânicos e cachoeiras estão sempre cheios. A pressão sobre a infraestrutura levou à criação de restrições para proteger o meio ambiente.
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Conhecida por suas casinhas brancas e pores do sol deslumbrantes, a ilha recebe até 18 mil turistas de cruzeiros por dia no verão. Os serviços estão saturados, os preços altíssimos e a qualidade de vida dos moradores foi seriamente afetada.