As voluntárias Cláudia, Denise, Maria da Conceição, Maria Luzinete, Norma e Maria Lúcia / Júlia Morgado/Diário do Litoral
Continua depois da publicidade
Na comunidade espírita, um dos lemas mais conhecidos é: “Fora da caridade não há salvação”, frase de Allan Kardec que destaca a caridade como a virtude essencial, importante para progresso espiritual.
No bairro do Marapé, em Santos, existe o setor de costura do Centro Espírita “Chico Xavier”, que se dedica à confecção de enxovais para bebês. Neste espaço, voluntárias se encontram para a produção que atende, em média, 15 gestantes mensalmente.
Continua depois da publicidade
Para atender à demanda, o grupo mantém um estoque com cerca de dez kits de enxoval prontos para doação. Quando há sobras, as peças são encaminhadas a hospitais ou outras instituições.
A produção é constante, feita tanto nas dependências do centro quanto nas casas das voluntárias, e os materiais são obtidos por meio de doações ou comprados com recursos arrecadados.
Continua depois da publicidade
Como o tema desta reportagem é solidariedade, conheça a história da artesã que inova e reforma bonecas do lixo para doar às crianças no litoral de SP.
Maria Lúcia Araújo, já fazia trabalho voluntário antes mesmo de se mudar para Santos. No centro, encontrou uma nova missão: costurar para gestantes. “Toda semana eu me emociono. As mãezinhas são carinhosas, têm histórias comoventes. Outro dia, uma delas veio buscar o enxoval e disse que ia direto pra maternidade ter seu sexto filho”, relembra.
Para ela, a costura é uma forma de retribuir: “Segunda-feira é sagrado, não marco médico nem nada. Isso aqui é um compromisso com Deus”.
Continua depois da publicidade
Por indicação do filho, Maria da Conceição da Silva Vergara chegou ao Centro Chico Xavier. Espírita de longa data, encontrou no trabalho de costura uma forma de continuar contribuindo após a aposentadoria.
“Eu era muito nervosa, ansiosa. Aqui eu aprendi a ser calma, a escutar mais. Comecei a me dar melhor com a minha família”, conta. Hoje, confecciona as peças com carinho no próprio centro e celebra o impacto do projeto: “As mãezinhas saem felizes. É muito satisfatório”.
Sem saber costurar, Norma Santos Cunha Rossi aprendeu o ofício ao ingressar no projeto. “Não sabia nem segurar uma agulha”, admite. Aprendeu tudo ali, com a ajuda das colegas, e hoje costura de casa com sua máquina, devido a distância de sua moradia ao centro.
Continua depois da publicidade
Além de produzir peças, as vizinhas souberam do projeto pela mesma e auxiliam com materiais ou costurando. Conta de uma senhora de 95 anos que faz sapatinhos e toucas para os enxovais. “Esse trabalho dá paz de espírito. Eu não preciso de psicólogo nem de remédio. Se todo mundo soubesse como é bom ser bom, todo mundo faria isso”, afirma.
Espírita desde a infância Cláudia Persick Frazão, encontrou no projeto um alívio pessoal, encontrou sentido em ajudar outras famílias. “O que a gente faz aqui é uma obra de Deus. O mínimo que a gente faz já muda muito. É um alívio pra cabeça, você não pensa nas coisas ruins”, comenta. Ela costura tanto no centro quanto em casa e acredita que o trabalho transforma não só a vida das gestantes, mas também a das voluntárias.
Pelo trabalho voluntário Denise de Fátima Gimenez Camargo encontrou uma forma de ressignificar a aposentadoria. Incentivada por uma amiga, passou a frequentar o centro e, inicialmente, levava as costuras para que sua irmã fizesse em casa. No entanto, acabou assumindo a atividade por completo e descobriu na costura uma nova paixão.
Continua depois da publicidade
“No começo, pensei que o trabalho era para outra pessoa. Depois percebi que era para mim mesma”, conta. Para Denise, costurar é mais do que uma tarefa manual: é um exercício de cura. “Esse trabalho me ajudou muito com a depressão. Hoje, eu costuro principalmente em casa e reservo as tardes de segunda para me dedicar ao centro. É gratificante sentir o carinho que a gente recebe e perceber o quanto isso transforma vidas, inclusive a nossa.”.
Denise hoje é responsável por organizar doações e encaminhar materiais, e destaca a gratidão que sente: “A gente joga pro universo, e as coisas começam a aparecer de todos os lados”.
Após um período difícil Maria Luzinete Almeida procurava algo que desse sentido ao seu dia a dia. “Eu me descobri com ansiedade e não sabia o que fazer. Foi aí que encontrei o Centro Chico Xavier no Google”, conta.
Continua depois da publicidade
Com experiência anterior em confecções de roupas adultas, ela teve que reaprender: “Aqui aprendi a costurar para bebês. Cada peça finalizada me traz gratidão”. Luzinete também reforça a importância do convívio com as outras voluntárias: “A energia aqui é boa, o ambiente acolhe. A gente se fortalece juntas”.
Ela divide sua rotina entre o centro e as costuras feitas em casa, e define o projeto como um divisor de águas: “O bem que fazemos às mães retorna pra gente em forma de paz”. A mesma relata que o trabalho a ajudou muito, “Quando começo, me acalmo, me concentro. Volto leve pra casa. É um bem que você faz pros outros, mas principalmente pra si mesma”.
O centro também disponibiliza palestras realizadas em seu canal do youtube:
Continua depois da publicidade
Se para as voluntárias o ato de costurar representa caridade e transformação pessoal, para as gestantes atendidas o gesto é recebido com gratidão. Gisele Welina Silva ficou sabendo da iniciativa por meio de outras mulheres que frequentam o curso de gestantes em sua região.
Mesmo morando longe, decidiu ir até o centro após saber da possibilidade de receber ajuda. “Não é fácil. Onde tem alguém ajudando, eu tô indo atrás”, afirmou. Para ela, o esforço da viagem é compensado pela solidariedade encontrada: “As mulheres aqui são super acolhedoras”.
Continua depois da publicidade
Indicada pela cunhada, que também foi beneficiada pelo projeto, Luiza dos Santos, grávida de sete meses, viu na iniciativa uma forma concreta de apoio.
“Hoje em dia as coisas estão difíceis, né? Achei muito legal. Tem muita gente que não tem condições, e isso ajuda bastante”, disse. Mesmo não tendo vínculo religioso com o espiritismo, ela se sentiu bem acolhida.
Já Bianca Maria da Silva, de São Vicente, veio trazer a filha mais velha Ana Beatriz Paulino da Silva para uma consulta médica e no caminho parou no centro para buscar um enxoval para o menino em sua barriga.
Descobriram o projeto graças a uma colega da filha, a mesma havia postado nos status que havia recebido um enxoval no centro, e elas decidiram buscar o auxílio. “É uma ajuda, né? Nem todas têm condições de montar um enxoval”, comentou Bianca. Apesar da distância, ressaltaram a importância do atendimento e do carinho recebido.
E antes de terminar conheça mais sobre a ONG Cabelegria que eleva autoestima de pacientes oncológicas em Santos.