Seis 'drone-dragões' amarelos giram em trajetórias que lembram o símbolo do infinito / Divulgação
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À primeira vista, tudo parece normal no fiorde de Hest, um estreito canal entre a pequena ilha de Hestur e Streymoy, a maior das Ilhas Faroé. As pequenas ondulações na superfície da água denunciam o vai e vem do mar, impulsionado pela força das marés — o mesmo movimento que se repete a cada seis horas desde a última Era do Gelo.
Mas, sob a superfície, algo totalmente novo está acontecendo. Seis “drone-dragões” amarelos giram em trajetórias que lembram o símbolo do infinito. Eles parecem aviões submersos, mas aqui é o contrário: é o próprio movimento da água que faz girar as hélices.
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Esses equipamentos foram desenvolvidos pela empresa sueca Minesto, que planeja, nos próximos dois ou três anos, transformar esse sistema em um marco para uma nova forma de energia renovável — a energia das marés.
E o projeto não está sozinho: iniciativas semelhantes estão surgindo no Reino Unido e em outros países, com o mesmo objetivo — extrair eletricidade diretamente do movimento do mar.
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Enquanto isso, em terras brasileiras, a volta do Horário de Verão foi descartada, mas o País investirá em uma energia alternativa.
A ideia de usar as marés para gerar eletricidade é antiga. A força que movimenta bilhões de toneladas de água em ciclos diários parece um recurso natural ideal para a transição energética.
Diferente do sol e do vento, o tide (tidevandet) - ou maré - tem uma vantagem crucial: é totalmente previsível. Mesmo que o clima mude, a gravidade da Lua continuará movendo as águas da Terra com regularidade constante.
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A maré é causada pela atração gravitacional da Lua e do Sol, que cria “inchaços” nos oceanos. À medida que a Terra gira, esses volumes de água se deslocam, produzindo o sobe e desce das marés. Quando Sol, Terra e Lua se alinham, o efeito se intensifica, gerando as chamadas marés de sizígia (ou “marés de primavera”).
No oceano aberto, a diferença entre maré alta e baixa é pequena — cerca de meio metro. Mas, em canais e fiordes estreitos, as correntes são comprimidas, e as forças se multiplicam, chegando a diferenças de até 15 metros entre as marés.
Veja também que uma cidade da Grande SP terá a primeira usina que transforma lixo em energia.
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Estudos mostram que o movimento constante das marés no planeta gera uma potência natural de 3.000 gigawatts. Mesmo que apenas uma fração seja aproveitável, os especialistas calculam que até 400 gigawatts — o equivalente à produção de todas as usinas nucleares do mundo — poderiam ser convertidos em eletricidade.
Isso seria suficiente para abastecer dois bilhões de pessoas.
Hoje, no entanto, o uso da energia das marés ainda é limitado. Apenas dois grandes projetos comerciais operam com sucesso:
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A Minesto aposta em uma abordagem diferente. Em vez de construir barragens, ela desenvolveu turbinas móveis, que “voam” sob a água a cerca de 40 metros de profundidade, movendo-se em trajetórias em forma de oito.
Essas dragens submarinas funcionam como pipas aquáticas: quanto mais rápido se movem, mais energia geram. Em 2020, a empresa instalou o primeiro protótipo, o Dragon 4, nas Ilhas Faroé, que conseguiu fornecer eletricidade à rede local. Em 2024, o modelo maior, Dragon 12, também entrou em operação.
Agora, a meta é instalar seis dragões gigantes no estreito de Hestfjord, cada um pesando 28 toneladas e com capacidade de até 1,75 megawatt. A previsão é que o sistema entre em funcionamento em 2027.
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As Ilhas Faroé planejam se tornar 100% sustentáveis até 2030, e as dragas da Minesto deverão fornecer 40% da eletricidade necessária, com sete parques submersos totalizando 200 MW.
Uma das maiores dificuldades históricas da energia das marés é a corrosão causada pela água salgada, que deteriora as peças metálicas das turbinas e encarece a manutenção. A Minesto resolveu o problema com um design modular que permite desencaixar facilmente os equipamentos para reparo.
Outra empresa, a HydroWing, criou um sistema diferente: turbinas instaladas em módulos fixos no fundo do mar, que podem ser erguidas à superfície por meio de uma estrutura retrátil.
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A primeira grande instalação deve ocorrer em 2027, em Morlais, no País de Gales — uma zona de testes de 35 km² dedicada a tecnologias de energia marinha.
A meta inicial é gerar 20 megawatts, mas o conjunto de projetos da região poderá chegar a 240 MW, o suficiente para alimentar 340 mil residências.
O Reino Unido quer ir ainda mais longe. Em Liverpool, está sendo planejado o Mersey Tidal Power Project, uma enorme barragem com turbinas que deverá gerar 700 megawatts — energia para 1 milhão de lares. Quando concluído, será o maior usina de energia das marés do planeta.
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O objetivo é que Liverpool atinja 100% de eletricidade vinda de fontes renováveis até 2040.
A Lua pode salvar o clima?
Se projetos como os da Minesto, HydroWing e Mersey forem bem-sucedidos, o mundo poderá assistir ao nascimento de uma nova era na produção de energia limpa — uma era em que a força da Lua ajudará a reduzir as emissões e a frear as mudanças climáticas.