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Problemas judiciais e ambientais impedem que qualquer coisa possa ser feita antes do tempo e da natureza engolirem o lugar
Mansão do apresentador é aos poucos engolida pela natureza / Foto ilustrativa / Imagem criada por IA/Google Gemini
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De longe, a mansão que Clodovil Hernandes ergueu no litoral norte de São Paulo ainda parece guardar o “glamour de novela” que um dia encantou quem o conhecia. De perto, o cenário é outro: estrutura exposta ao tempo, sinais de degradação total e um silêncio interrompido, vez ou outra, por curiosos que tentam transformar ruína em atração.
Dezesseis anos após a morte do estilista e apresentador, em 2009, a propriedade continua presa num nó que mistura disputa judicial, questionamentos ambientais e a dificuldade prática de decidir o que fazer com um imóvel que ficou parado enquanto o mato avançava e a natureza o saboreia.
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Nos registros mais recentes, a casa, avaliada em R$ 1,6 milhão, aparece tomada pela vegetação e com marcas claras de abandono. É o tipo de lugar que vira lenda urbana com facilidade: gente que entra para “explorar”, vídeos que circulam nas redes e a aura de mistério que nasce quando um endereço famoso perde dono, perde manutenção e vira uma casca. A mansão, que já foi vitrine de um estilo de vida extravagante e também cenário de ensaios e gravações, hoje é descrita como destruída, sem cuidados e engolida pela mata ao redor, num retrato que se repete ano após ano.
Em 2024, um capítulo importante mexeu com a história do imóvel: o Tribunal de Justiça de São Paulo negou o pedido do Ministério Público para a demolição total da construção. O caso foi analisado pelo Grupo Especial de Câmaras de Direito Ambiental e a decisão apontou que, mesmo havendo discussão sobre delimitação de área e novos argumentos do MP, não caberia reabrir a instrução depois do trânsito em julgado. Na prática, isso não significou “salvação” da mansão, mas travou a tentativa de derrubar tudo de uma vez e manteve o futuro no modo “indefinido”. A própria cronologia mostra como o assunto se arrasta: parte da estrutura já havia sido demolida por ordem judicial em 2021, e o MP tentou ampliar a demolição com base em novas alegações.
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O impasse não é só ambiental. Existe também a novela do papel passado. A mansão foi colocada em leilão judicial para quitar dívidas deixadas por Clodovil, acabou arrematada por R$ 750 mil, mas a transferência e o uso efetivo viraram outro campo de batalha. A compradora alegou ter sido enganada, afirmando que teria adquirido apenas um “direito de uso” e não exatamente a propriedade como imaginava, e o caso acumulou idas e vindas. Reportagens apontam que, mesmo anos após o leilão, ela não chegou a usufruir do imóvel e a situação seguiu travada em disputas e decisões judiciais, num limbo que, na vida real, costuma ter um efeito bem concreto: sem dono plenamente instalado, sem obra, sem manutenção e sem destino claro, a deterioração continua trabalhando em silêncio, dia após dia.
Em outubro de 2025, a história voltou ao radar com uma reportagem de TV que resumiu o que o lugar se tornou: um patrimônio cercado de dúvidas, preso a impasses jurídicos e ambientais, e que parece envelhecer mais rápido do que os processos andam. A Record também relembrou que, antes mesmo desse abandono se cristalizar, Clodovil já havia enfrentado problemas ligados ao tema ambiental, o que adiciona mais uma camada ao debate sobre o futuro da área.
Enquanto isso, o entorno não é um detalhe: a mansão está associada a uma região de Mata Atlântica e unidades de conservação no município, o que torna qualquer solução mais sensível e burocrática, seja para recuperar, regularizar, limitar acesso ou remover estruturas. Resultado: por ora, a “mansão do Clodovil” segue como um daqueles lugares que o litoral conhece bem, onde a paisagem é linda, a história é grande, e o destino ainda está preso numa gaveta cheia de carimbos.
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Fato é que, se tudo continuar como está, a tão aclamada super residência vai desaparecer entre árvores, galhos e vegetação. Tudo o que o apresentador não queria.
Com informações do Domingo Espetacular, Terra e G1.