Em 1263, um ano antes da instituição da solenidade, o chamado Milagre Eucarístico de Bolsena, na Itália, comoveu a cristandade / Divulgação
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A Solenidade de Corpus Christi, celebrada todos os anos pelos católicos na quinta-feira seguinte à Oitava de Pentecostes, é uma das festas litúrgicas mais marcantes do calendário religioso. No entanto, sua instituição não remonta aos primórdios do cristianismo.
A origem da festa está diretamente ligada a dois acontecimentos extraordinários do século XIII: uma visão mística e um milagre eucarístico. Ambos foram fundamentais para que a Igreja reconhecesse a necessidade de dedicar uma celebração solene ao Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.
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O pedido por essa solenidade veio do próprio Jesus Cristo, que apareceu a Santa Juliana de Liège, uma freira agostiniana da Bélgica. Desde os 16 anos, Juliana teve visões durante suas adorações ao Santíssimo Sacramento. Em uma delas, via a lua cheia atravessada por uma faixa escura.
Cristo revelou a ela que a lua representava a vida da Igreja, e a linha escura simbolizava a ausência de uma festa dedicada exclusivamente à Eucaristia. Juliana então passou a trabalhar pela criação dessa solenidade, com o objetivo de aumentar a fé dos fiéis, promover a prática das virtudes e reparar as ofensas contra o Santíssimo Sacramento.
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Esse apelo encontrou eco no coração de Tiago Pantaleão de Troyes, então arquidiácono de Liège, que mais tarde se tornaria o Papa Urbano IV. Sensibilizado pela mensagem e pelas experiências místicas da religiosa, ele foi o responsável por oficializar a festa de Corpus Christi para toda a Igreja, por meio da bula Transiturus de hoc mundo, publicada em 11 de agosto de 1264.
Mas antes mesmo da bula papal, outro acontecimento reforçou a necessidade dessa celebração. Em 1263, um ano antes da instituição da solenidade, o chamado Milagre Eucarístico de Bolsena, na Itália, comoveu a cristandade. O padre Pedro de Praga, um sacerdote alemão com dúvidas sobre a presença real de Cristo na Eucaristia, celebrou a Missa sobre o túmulo de Santa Cristina.
No momento da consagração, a Hóstia começou a sangrar, manchando suas mãos, o corporal e o altar. Assustado e comovido, o padre interrompeu a celebração e buscou o Papa Urbano IV, que estava em Orvieto. Após confirmar o milagre, o Papa levou a Hóstia e o pano manchado de sangue em procissão até a Catedral da cidade, onde permanecem expostos até hoje.
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Inspirado por esse milagre e pelo testemunho de Santa Juliana, Urbano IV encomendou a Santo Tomás de Aquino a elaboração dos textos litúrgicos da nova solenidade. Dali nasceram alguns dos mais belos hinos da Igreja em louvor à Eucaristia, como o Tantum Ergo e o Lauda Sion, entoados até hoje durante as procissões de Corpus Christi.
A festa, portanto, tem uma razão profunda e atual: reafirmar a presença real de Jesus na Eucaristia e reparar as muitas ofensas feitas ao Santíssimo Sacramento. A fé na presença real tem enfraquecido entre muitos católicos, o que torna Corpus Christi ainda mais necessário. Em tempos de profanações, sacrilégios e indiferença ao mistério eucarístico, esta solenidade surge como um chamado à adoração, à reverência e à gratidão.
É uma data para se viver com o coração cheio de fé e reconhecimento. Um dia para reparar a frieza espiritual, mas também para renovar a alegria diante da certeza de que Cristo se faz presente, vivo e inteiro, em cada Missa. A cada geração, Deus realiza novas obras na Igreja — e, em cada Eucaristia, Ele quer realizar novas graças em nossas almas.
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Que esta festa litúrgica, nascida da fé de uma santa e confirmada por um milagre, nos inspire a amar mais profundamente o Sacramento do Altar e a viver com mais intensidade a nossa fé.