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Montanhas de sal, praias selvagens, manguezais e o ritmo lento de uma vila isolada fazem deste um dos destinos mais surpreendentes e autênticos do Rio Grande do Norte
Galinhos, no litoral norte do RN, encanta com paisagens únicas que misturam dunas, manguezais, salinas e um mar de águas cristalinas / Lucas Czapski Simoni/Wikimedia Commons
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Galinhos, pequena vila situada na península do litoral norte do Rio Grande do Norte, a 170 km de Natal e próxima de Guamaré e Caiçara do Norte, ganhou fama como “a vila das dunas de neve”. O apelido vem das impressionantes montanhas de sal que brilham intensamente sob o sol e, de longe, parecem verdadeiros montes nevados em pleno clima tropical. Cercada por águas cristalinas, acessível apenas por barco pelos manguezais e marcada por um ritmo de vida tranquilo, Galinhos é um paraíso escondido onde o tempo desacelera.
O fenômeno que dá nome ao lugar é visual e quase surreal: as salinas locais formam gigantes montes brancos de sal marinho, que sob a luz intensa do Nordeste parecem verdadeiras dunas cobertas de neve. Essa paisagem é resultado da tradicional atividade de extração de sal, que sustenta a economia da região.
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Durante o processo de evaporação da água do mar, o sal se cristaliza e é acumulado em pilhas que podem alcançar vários metros de altura. Quando iluminadas pelo sol forte e contrastadas com o céu azul, essas montanhas criam uma cena única — uma espécie de inverno tropical em pleno semiárido potiguar.
A Praia do Farol impressiona pela preservação e pelo cenário ainda selvagem. No extremo da península, o visitante encontra águas cristalinas e o Farol de Galinhos, construído em 1931 e mantido com seu estilo original. A caminhada de 750 metros a partir do centro da vila revela dunas, mar aberto e um horizonte perfeito para assistir ao pôr do sol com o som das ondas quebrando ao fundo.
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Já a Praia de Galinhos, no centro da vila, tem águas calmas perfeitas para famílias. A faixa de areia fina abriga piscinas naturais durante a maré baixa, além de restaurantes simples que servem frutos-do-mar fresquíssimos. A partir do segundo semestre, os ventos constantes tornam o local um dos preferidos de praticantes de windsurf e kitesurf — especialmente turistas europeus que buscam condições perfeitas para os esportes aquáticos.
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As Dunas do André figuram entre os cartões-postais mais icônicos da região. Suas montanhas de areia branca atingem alturas notáveis e mudam constantemente de forma devido aos ventos que podem chegar a 40 km/h. No fim da tarde, o local se transforma em um mirante natural, ideal para contemplar um dos pores do sol mais espetaculares do litoral norte — cenário onde os mesmos ventos que modelam as dunas impulsionam a geração de energia eólica da vila.
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As famosas Dunas de Sal surpreendem por criar o efeito de montanhas brancas que lembram neve em pleno Nordeste. Formadas pela Salina de Galinhos, as pilhas de sal acumulado compõem uma paisagem única, especialmente visível durante os passeios de barco. A produção de sal, tradição econômica da região, atrai navios que chegam para carregar o produto brilhando sob o sol intenso.
O passeio de barco pelo manguezal é uma das experiências mais marcantes. Pelas gamboas — canais estreitos formados entre as raízes dos mangues — surgem garças-azuis, garças-brancas, caranguejos e ostras frescas colhidas diretamente pelos barqueiros. Quem opta pelo tour gastronômico com Junior Tubarão vive uma experiência exclusiva, com ceviche, sashimi e ostras preparados ali mesmo, em meio ao manguezal.
Galinhos preserva a essência de uma vila de pescadores: ruas de areia, charretes puxadas por jegues apelidadas de “Uber-Jegue” e um cotidiano que gira em torno do mar.
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A gastronomia privilegia peixes e frutos-do-mar preparados de forma simples e saborosa — destaque para o Nativus Bar, na beira-mar. No caminho para o farol, a Cooperativa de Artesanato reúne rendas e bordados feitos por artesãs locais, mantendo vivas tradições passadas por gerações.
O lema da vila é claro: desacelerar para ser feliz. Não há vida noturna agitada, e o clima é de contemplação. As festas religiosas, principalmente a de Nossa Senhora dos Navegantes, reforçam a conexão entre fé e mar.
Mesmo com o aumento do interesse turístico, Galinhos permanece praticamente intocada. Em 15 anos, poucas mudanças ocorreram — pequenos trechos de calçamento e melhorias básicas, sempre respeitando o ambiente natural.
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O isolamento geográfico também protege o ecossistema. Como o acesso é feito por barco, dunas móveis e manguezais funcionam como barreiras naturais contra o turismo de massa. A região abriga espécies ameaçadas, como cavalos-marinhos e caranguejos azuis.
Entre dezembro e março, durante as luas cheias, ocorre a “andada dos caranguejos”: milhares de fêmeas deixam o manguezal e caminham até o mar para desovar. Muitas se perdem nas dunas e acabam expostas ao sol forte.
Para protegê-las, os moradores criaram um projeto comunitário de resgate. Turistas podem participar da ação, devolvendo os caranguejos ao habitat natural e ajudando a preservar a cadeia ecológica que sustenta todo o manguezal. O fenômeno atrai pesquisadores e reforça a importância ambiental da área.
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Dica de leitura: A maior praia do mundo está no Brasil, pode ser vista do espaço e tem registro no Guinness Book.
A aventura começa antes mesmo de desembarcar na vila. O visitante deve ir até o porto de Pratagil, onde há estacionamento gratuito e vigiado 24 horas. De lá, a travessia de barco dura cerca de 15 minutos.
Transfers privados, passeios organizados ou roteiros de buggy saindo de Touros e São Miguel do Gostoso também são opções — estes últimos cruzam dunas e praias desertas, em um trajeto cheio de adrenalina.
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A dificuldade de acesso é justamente o que mantém Galinhos tão preservada e tranquila.
Entre dunas douradas, montanhas de sal que brilham como neve e um mar que parece desenhado, Galinhos oferece uma experiência rara: a de viver alguns dias no ritmo lento de uma vila onde a natureza dita o tempo.
Desconecte-se, experimente os frutos-do-mar frescos, percorra as charretes pelas ruas de areia e descubra por que esse pedaço do Rio Grande do Norte parece ter parado no tempo — preservando um dos cenários mais únicos do Nordeste.
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