Marinheiros e cientistas identificaram 41 naufrágios distribuídos por uma extensa área submersa / Divulgação/Rodrigo Pacheco-Ruiz
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O fundo do Mar Negro abriga um dos cenários arqueológicos mais impressionantes já registrados pela ciência: um verdadeiro cemitério de navios, com embarcações preservadas como se o tempo tivesse parado.
A descoberta veio à tona em 2016, quando uma equipe internacional investigava vestígios da relação entre humanos pré-históricos e a elevação do nível do mar na região.
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Durante as expedições, marinheiros e cientistas identificaram 41 naufrágios distribuídos por uma extensa área submersa, alguns a mais de dois mil metros de profundidade.
As embarcações, datadas entre os séculos 9 e 19, algumas até mesmo de mais de dois mil anos, revelaram um panorama raro da navegação comercial e militar ao longo de mais de mil anos de história.
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O que transforma o Mar Negro em um cemitério natural de navios é a sua composição química singular. Abaixo de aproximadamente 150 metros de profundidade, a água é praticamente desprovida de oxigênio.
Essa condição impede a ação de organismos que normalmente degradariam madeira, cordas e outros materiais orgânicos.
Segundo os pesquisadores, esse ambiente anóxico se formou após o fim da última era glacial, quando o Mar Negro deixou de ser um grande lago e passou a receber águas salgadas do Mediterrâneo.
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O resultado foi a criação de camadas distintas, responsáveis por conservar embarcações inteiras, com mastros em pé, lemes no lugar e até marcas de ferramentas visíveis na madeira.
A identificação do cemitério de navios só foi possível graças ao uso de sonares de alta precisão e veículos operados remotamente, conhecidos como ROVs.
A bordo de um navio de pesquisa, os cientistas mapearam formas incomuns no fundo do mar e, posteriormente, registraram imagens em alta resolução, vídeos e medições a laser dos destroços.
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As técnicas permitiram a documentação detalhada dos naufrágios sem qualquer interferência física, preservando o local como um sítio arqueológico subaquático intacto. Muitos dos navios estão tão bem conservados que elementos decorativos esculpidos em madeira permanecem reconhecíveis.
Entre os achados estão navios do período bizantino, embarcações otomanas dos séculos 16 a 18, um navio italiano medieval e diversas embarcações mercantes do século 19.
A maioria transportava cargas como vinho, grãos, metais e madeira, evidenciando a importância comercial do Mar Negro ao longo dos séculos.
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Os arqueólogos conseguem estimar a origem e a idade das embarcações a partir de detalhes como o tipo de âncora, o formato do casco, a disposição dos mastros e os objetos encontrados na carga.
Apesar de algumas hipóteses sobre ataques ou pirataria, as análises indicam que todos os naufrágios foram causados por tempestades.
O cemitério de navios do Mar Negro é considerado hoje um dos maiores e mais bem preservados conjuntos de naufrágios já descobertos. Para a arqueologia marítima, o local funciona como um arquivo natural, capaz de revelar detalhes inéditos sobre tecnologia naval, comércio e rotas marítimas de diferentes civilizações.
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Mesmo anos após a descoberta, o sítio continua despertando o interesse da comunidade científica e do público, reforçando a ideia de que os oceanos ainda guardam capítulos inteiros da história humana, intocados sob a superfície.