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Ele tem coloração branca e amarela, está sempre pronto para fugir e, para isso, corre ligeiro até se esconder em sua toca
O Garoçá também é conhecido como Maria Farinha / Márcio Ribeiro/Diário do Litoral
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Você sabe o que são aqueles buracos que aparecem nas praias mais preservadas do Brasil e, principalmente, de quem são eles? Eles são tocas do Garoçá (Ocypode quadrata), também conhecido como caranguejo-fantasma. Geralmente, esse animal deixa diversos rastros em volta do seu refúgio, mostrando as inúmeras saídas e entradas que faz durante o dia. Se você ainda não conhece, fique por aqui e descubra mais.
Conhecido também como Maria Farinha, esse caranguejo tem coloração branca e amarela, tons que se confundem com a areia da praia — especialmente em dias de sol, quando ele fica bem camuflado. Está sempre pronto para fugir e, para isso, corre ligeiro até se esconder em sua toca.
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A doutora Jéssica Colavite, do Museu de Zoologia da USP, explicou que essa espécie é encontrada em praias arenosas do litoral, tanto na parte mais afastada do mar quanto nas áreas mais próximas da água, onde as tocas são inundadas durante as marés altas.
Esses animais constroem suas tocas em toda a extensão da praia, que servem como abrigo e proteção. A largura dos buracos corresponde ao tamanho do indivíduo. Eles têm importância ecológica tanto pela plasticidade alimentar quanto pelos hábitos de escavação, que contribuem para a ciclagem de nutrientes do solo.
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A especialista contou que essa espécie, em especial, vive em média de dois a três anos em toda a América, do Norte ao Sul:
“Caranguejos-fantasma são encontrados por todo o planeta, mas a espécie que ocorre no litoral paulista tem ampla distribuição, ocorrendo desde os EUA (Massachusetts) até o Rio Grande do Sul. Vivem por volta de dois a três anos e, assim como outros crustáceos, fazem mudas ao crescer. A alimentação desse animal é muito variada, sendo considerados oportunistas e, apesar de se alimentarem majoritariamente de insetos e outros crustáceos menores, podem até consumir filhotes de tartaruga e animais em decomposição”, disse.
Ainda sobre caranguejos, recentemente, milhares de caranguejos invadiram uma praia do Litoral de SP após enchentes.
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Os garoçás são sensíveis a diversos fatores, tanto naturais quanto antrópicos, e por isso são considerados ótimos bioindicadores da qualidade das praias, sendo mais facilmente encontrados em áreas menos urbanizadas. Se você não os vê na praia que costuma frequentar, pode ser que estejam bem camuflados — ou que o local não seja tão limpo quanto parece.
A respeito da urbanização das praias, a pesquisadora e doutora do Instituto do Mar da Unifesp, Fernanda Ramos Fernandes de Oliveira, comentou:
“A urbanização das praias gera um efeito negativo tanto para os caranguejos-fantasma quanto para outros animais que habitam a faixa de areia. A construção de estruturas artificiais para beneficiar o acesso das pessoas, a remoção de vegetação nativa, a retirada da areia da praia ou mesmo a limpeza realizada com tratores podem alterar as características do sedimento, afetando diretamente a macrofauna que vive nesse ecossistema.”
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Esse novo cenário, modificado pelas mãos do homem, também atrai animais urbanos como corujas-buraqueiras, gaviões, pombos e até mesmo cães, que podem agir como predadores de diversas espécies da fauna litorânea. Outro problema apontado pelas pesquisadoras é a presença de lixo nas praias — uma questão amplamente documentada em diversos estudos e que afeta diretamente o garoçá.
“O hábito alimentar variado dessa espécie, que inclui detritos, muitas vezes leva ao consumo de resíduos urbanos deixados nas praias, como plásticos. Além disso, a presença de lixo na areia faz com que esses animais utilizem esses materiais em suas tocas”, finalizou Fernanda.
E você? Já viu um deles por aí? Conhece a espécie?
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