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Fundada em 1595, a propriedade em Itu preserva construções coloniais, maquinários do século 19 e tradições que atravessaram o ciclo do café, a escravidão e a era dos bandeirantes
Fazenda Concórdia, em Itu, preserva a arquitetura colonial e mais de quatro séculos de história / São Paulo state film commission
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Há 90 km de São Paulo é possível passear pela história com uma das fazendas mais antigas do Brasil. Na cidade de Itu (SP), se encontra a Fazenda Concórdia, fundada em 1595, a propriedade atravessou todos os ciclos econômicos do Brasil e já serviu de cenário para filmes e novelas de época, como "Escrava Isaura".
Atualmente, dedica-se principalmente ao turismo rural. Os proprietários, Rose e Francisco Nunes, recebem os visitantes com refeições preparadas no fogão a lenha e bebidas artesanais produzidas na própria fazenda. Veja imagens do local:
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A sede da fazenda, construída em taipa de pilão e barro batido, preserva traços originais do século 16. No salão principal, ainda é possível observar as duas fases da construção: a primeira, com o telhado arredondado, e a segunda, erguida com a chegada dos escravizados africanos, marcada pelo aumento do pé-direito e pelas telhas moldadas nas coxas das mulheres negras da época. As antigas senzalas e tulhas de café permanecem de pé, que mostram o passado que ajuda a compreender a formação do Brasil.
Com a chegada dos imigrantes italianos, a Concórdia incorporou inovações que transformaram sua produção. Eles construíram casas de tijolos e trouxeram maquinários movidos a água, como moinhos de fubá, esteiras, conchas e uma turbina que gerava eletricidade, algo inédito na época.
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O terreiro de café foi calçado com tijolos para facilitar a secagem dos grãos, e parte desses equipamentos ainda funciona, utilizados hoje para beneficiar um café especial, produzido exclusivamente para os visitantes.
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O passeio pela propriedade é uma verdadeira aula de história. Depois de um café da manhã com bolos de fubá e de milho, pudim de café e sucos naturais servidos nas antigas tulhas, Francisco conduz os turistas por trilhas que atravessam o cafezal e os leva a diferentes momentos da fazenda.
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“Naquele tempo era muito difícil ter notícias de outros lugares. Então, eram as bandeiras que informavam as novas da corte. A mesa era farta, porque quanto mais comida, mais tempo de conversa e mais notícias. A fazenda era um ponto de apoio aos bandeirantes. Eles se abasteciam aqui para continuar a viagem. Levavam matulas de frango e bolos de milho, dois pratos que ainda servimos para manter viva a história do local”, conta Francisco em matéria para a Secretaria de Turismo e Viagens de São Paulo.
Carlos e Geisa mostram em seu canal, 'Lugares da Nossa Região', mostram sua visita a fazenda:
Além da história, o café é outro símbolo da fazenda. O café gourmet Rasma, marca exclusiva da Concórdia, foi desenvolvido pelo agrônomo Ademar Nunes, pai de Francisco. “Foi a maneira que encontramos de agregar valor ao turismo. O nosso é o único no mundo porque foi desenvolvido pela mistura das diferentes espécies de café tipo arábica existentes no Brasil. Só que meu pai faleceu em 1979, sem ter chegado a plantar”, conta o proprietário.
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“Em 2000, descobrimos o viveiro perdido no cafezal; em 2014, limpamos e revitalizamos as sementes; e, em 2016, tivemos a primeira safra, que ganhou vários prêmios nacionais e internacionais de aroma e sabor”, afirma.
Produzido sob rigorosos critérios de qualidade, o Rasma tem baixa acidez, apenas 2%, contra os 12% dos cafés convencionais, é também cultivado em pequena escala: são cerca de 5 mil pés dedicados ao cultivo gourmet. O café é vendido na fazenda.
Hoje, a Fazenda Concórdia é um destino imperdível para quem busca conhecer o patrimônio histórico e saborear a vida no campo. Entre um gole de café e uma viagem pela história brasileira, o visitante descobre que, mais do que uma fazenda, a Concórdia é um retrato vivo da formação paulistana.
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