06 de Outubro de 2024 • 03:38
O paratleta santista Paulo Cesar dos Santos, apelidado carinhosamente por Jatobá / Divulgação
Ele já foi Pentacampeão pela Seleção Brasileira de Basquete, participou de 6 Mundiais, 3 Paralimpíadas e 5 Pan-Americanos. Com mais de 30 anos de carreira, o paratleta santista Paulo Cesar dos Santos, apelidado carinhosamente por Jatobá, carrega uma trajetória de superação e vitórias.
Sua história começa 1983, quando tinha apenas 10 anos. Era uma tarde comum, onde ele estava ouvindo uma partida entre Santos e Palmeiras. Nisso, ele ouve a porta da cozinha bater. Ao chegar no local, viu que seu irmão fugiu assustado ao ver a arma que seu primo iria mostrar para ele. "Ela acidentalmente disparou em mim. De imediato perdi a força das pernas e fui levado para a Santa Casa de Santos", recorda Jatobá.
Foi constatado que ele estava com uma hemorragia interna, que gerou bastante preocupação a todos. O procedimento cirúrgico durou quase 24 horas, pois a bala ficou alojada entre uma vértebra e a outra. Por conta do calor do projétil, ele acabou perdendo os movimentos das penas. Foi neste cenário que a sua vida começou a mudar.
Sem poder estudar, sua rotina se resumia em sessões de fisioterapia, mesmo ciente que não iria mais andar. Neste período, seu amigo Renato Sabino o colocou a possibilidade de praticar atividades físicas como natação. "Ele [Renato] viu uma reportagem na televisão sobre uma reunião da ANDEF [Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos] no Sesc, para conversar sobre o assunto da pessoa com deficiência e desenvolver várias modalidades".
Jatobá continuou os treinos de natação, até o local passar a oferecer a modalidade de basquete. Em seguida, conseguiu adquirir a cadeira profissional e passou a realizar as duas atividades em conjunto.
Em 1989 recebeu sua primeira pré-convocação para a Seleção Paraolímpica de Basquete, que iria disputar as pré-paralimpíadas no México, em 1992, onde recebeu sua primeira medalha de bronze. Nesse processo, Jatobá realizou uma série de treinos pesados na ANDEF, no Rio de Janeiro.
Durante um período de seis meses, as atividades aconteciam durante 20 dias ininterruptos, com um descanso de 10 dias, depois voltavam para a rotina pesada. "Tive uma grande dificuldade neste tempo, pois estava sem clube e muitas vezes, treinava sozinho para não perder o ritmo que havia conseguido".
Depois de muito treinamento e foco no decorrer dos anos, no ano de 2004 Jatobá viajou oficialmente para a sua primeira Paralimpíada, que aconteceu em Atenas. "Não se falava muito sobre as Paralimpíadas, pois na época a população não tinha conhecimento, mas a nossa dedicação era imensa. Só não nos dedicamos mais, pois não havia recursos financeiros".
Naquele mesmo ano começaram a ser televisionadas algumas modalidades, mas sem o cuidado que as Olimpíadas possuem. "Para nós chegou a ser muito ruim, pois era um quadro onde as pessoas não acreditavam muito. Parecia que tinham mais piedade de nós ", recorda Jatobá, que ressalta o fato de nos dias atuais a situação ser totalmente a oposta. "Hoje as pessoas vibram, consideram atleta como atleta, e não só por ser uma pessoa deficiente que superou seus limites".
Naquela mesma edição, ele presenciou uma situação que o marcou até hoje. Ao pegar a fila para almoçar no refeitório, ele se deparou com dois chineses que não tinham os braços. Sem aceitar a ajuda de ninguém, eles colocaram na boca a bandeja e foram se sentar em uma mesa, de frente para o outro. "Um pegava a colher e colocava na boca do outro. Tenho até hoje essa imagem guardada, pois serviu como um grande exemplo de vida e valorização".
Como na vida nem tudo são flores, uma das maiores dificuldades da seleção durante as viagens, era a falta de recursos financeiros para conseguir se deslocar entre os países e cidades onde aconteceriam os jogos. Segundo Jatobá, a própria confederação não tinha verba suficiente para conseguir suprir os gastos do translado e tinham de procurar patrocinadores. Neste cenário, viagens para o Takeuchi, no Japão (cujo tempo é quase 36 horas), se tornavam uma tortura. "Claro que tivemos oportunidades de viajar na primeira classe, mas em algumas situações não havia escolha", recorda.
O paratleta ainda participou das edições de 2008 (Pequim) e 2016 (Rio de Janeiro). Neste último ele teve a maior emoção de sua carreira. "Foi marcante entrar em um estádio nas Paralimpíadas do Rio e ver as pessoas gritando seu nome. Surreal".
Após os jogos do Parapan em 2019, em Lima, no Peru, o paratleta pendurou sua camisa e se aposentou da Seleção. Embora tenha recebido uma pré-convocação para a edição de 2023, em Santiago, no Chile, ele viu a oportunidade como uma ajuda e colaboração aos atletas que estavam na disputa.
Como ainda nutre sua paixão pelo basquete, nos últimos anos ele participa da equipe do Clube Amigos dos Deficientes (CAD), em Indianópolis, pela qual ele fundou em 24 de março de 2004.
Diário Mais
Veja os principais acidentes que aconteceram na Garganta do Diabo, no litoral de SP
Segunda mulher desaparecida em naufrágio no Litoral de SP é encontrada
Conheça a 'Garganta do Diabo', lugar onde lancha naufragou no litoral de SP
Cotidiano
O evento busca atualizar os agentes sobre legislações que impactam suas atividades, com foco em Direitos Humanos e comunicação eficaz
Variedades
Vencedora do Oscar voltará a interpretar Mia Thermopolis após 20 anos