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Aos 39 anos, e buscando um novo caminho após deixar o negócio de agroenergia, Edgard Corona encontrou a inspiração na sua reabilitação
Conheça a história de Edgard Corona, dono da Bio Ritmo e da Smart Fit / Divulgação
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Um tombo na neve em 1995 mudou radicalmente o destino do engenheiro químico Edgard Corona. O acidente, que rompeu gravemente os ligamentos do seu joelho, o obrigou a passar por uma intensa fisioterapia e, sem querer, o reconectou ao universo das atividades físicas.
Aos 39 anos, e buscando um novo caminho profissional após deixar o negócio de agroenergia da família, Corona encontrou na reabilitação a inspiração para criar o que se tornaria um dos maiores impérios do fitness da América Latina: a Smart Fit.
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Essa história de sucesso, que começou com a fundação da Bio Ritmo e culminou no IPO da Smart Fit, mostra como o acaso pode ser o ponto de partida para grandes empreendimentos.
A trajetória de Corona, um dos destaques da lista Forbes Melhores CEOs do Brasil 2025, é marcada por inovação na gestão, coragem para diversificar e uma visão global, transformando a dor da recuperação em um negócio bilionário que atende milhões de clientes.
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Acompanhe agora os bastidores e as estratégias que moldaram o caminho de Edgard Corona, de ex-jogador de polo aquático a líder do setor de academias.
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Muitos CEOs recorrem a uma figura de linguagem e afirmam que escolheram suas carreiras “por acidente”, e com Edgard Corona a frase é literal. Em dezembro de 1995, esquiando nos Estados Unidos, ele rompeu os ligamentos do joelho, exigindo uma recuperação intensa: “Foram três, quatro horas por dia de exercícios todos os dias, durante seis meses”, relembrou.
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Enquanto se recuperava, Corona já havia investido em uma academia em São Paulo, o embrião da futura Bio Ritmo. Observando o negócio como cliente, ele percebeu o potencial de melhoria em um mercado que, na época, se dividia entre pequenos estúdios e grandes centros esportivos.
Inspirado nesse modelo maior, ele criou a Bio Ritmo, que logo se destacou na Avenida Paulista. “Fomos a primeira academia a contratar um arquiteto conhecido”, disse o executivo, implementando também um modelo de vendas mais consultivo e inspirado nas academias americanas, focado em ouvir o cliente.
Um toque de sorte no amor e nos negócios
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O início da jornada empreendedora na Bio Ritmo não foi fácil. Felizmente, Corona encontrou uma parceria crucial. Durante a fisioterapia, ele conheceu a jornalista Soraya.
A união no lado pessoal rapidamente se estendeu aos negócios. “Estamos juntos há quase 30 anos, ela construiu a empresa comigo”, afirmou. O casal trabalhava lado a lado, com Soraya organizando o financeiro e cuidando da recepção, enquanto Corona geria a operação.
Apesar da dedicação, os resultados iniciais teimavam em não aparecer. Para contornar a situação, a estratégia foi clara: abrir lojas menores em locais menos caros e reduzir a mensalidade. Esse custo menor era compensado por aluguéis e despesas operacionais muito mais baixas.
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Outra grande ruptura de Corona com sua experiência anterior foi na gestão de pessoas. No setor sucroalcooleiro, a dinâmica era de comando e controle, mas no fitness ele inovou.
Em vez de impor soluções, a Bio Ritmo — e depois a Smart Fit — passou a reunir as equipes para perguntar como resolver os problemas. “Isso motiva as pessoas, que se sentem parte do negócio”, explicou Corona.
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Além disso, a empresa implantou métricas de desempenho que comparavam os resultados das unidades, incentivando os gerentes a compartilhar as melhores soluções. Para o CEO, o foco é sempre o colaborador e o cliente. “O lucro é resultado do colaborador motivado e do cliente satisfeito.”
O crescimento da Bio Ritmo colocou Corona em contato com os líderes globais do setor. Em 2007, nos Estados Unidos, ele se surpreendeu com a preocupação dos americanos com a recém-chegada Planet Fitness. Essa rede cobrava apenas US$ 10 (cerca de R$ 30 na época) por mês.
“Pensei que eles quebrariam, mas já tinham 700 unidades e não paravam de crescer”, contou. O segredo, ele percebeu, era a gestão: “Eles economizavam em tudo e mantinham a rentabilidade elevada”.
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A Planet Fitness foi a inspiração para Corona lançar uma concorrente de baixo custo para o próprio negócio: a Smart Fit. A proposta era oferecer o básico (bicicletas, salas de musculação e vestiário) por apenas R$ 59 mensais. O sucesso foi absoluto e imediato.
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O rápido crescimento da Smart Fit — com planos de abrir 11 lojas no segundo ano — acendeu o alerta sobre a necessidade de capital.
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Precisando de investimento, Corona fechou uma parceria crucial com a gestora de fundos de private equity Pátria em 2009. Depois vieram o GIC, fundo soberano de Singapura, e, mais tarde, o Temasek e o CPPIB.
Apesar da captação de quase meio bilhão de reais, a pandemia do coronavírus mudou os planos. Com o lockdown em 2020, o dinheiro rapidamente acabou.
Em um movimento estratégico, Corona desengavetou o plano de Initial Public Offering (IPO). “Se já estivéssemos com os motores ligados e com o tanque cheio, teríamos uma ou duas voltas de vantagem na hora da largada”, comparou.
A estratégia funcionou. Apresentada a investidores com um vídeo de um minuto e meio, a Smart Fit (SMFT3) teve uma demanda por ações muito superior à oferta.
Atualmente, os analistas do banco Santander classificam a ação como “outperform”, ou com perspectivas melhores que a média do mercado, e os papéis são um destaque no Ibovespa.
O movimento de expansão internacional também aconteceu de forma não planejada. Em uma rodada de negócios, Corona adquiriu uma participação na Colômbia. “Percebi que era um mercado parecido com o Brasil, com menos burocracia e menos concorrência”, afirmou. Logo se seguiram México, Chile e Peru.
Atualmente, a Smart Fit está em quase todos os países da América Latina e até em um mercado pouco explorado por brasileiros: o Marrocos. No país africano, ele cita vantagens como a moeda estável, juros de 5% ao ano e uma cultura mais liberal. Essa diversificação garante resultados robustos.
Segundo dados do fim de junho, a Smart Fit tem 1.818 academias em 15 países, atendendo 5,15 milhões de clientes e garantindo um faturamento de R$ 3,49 bilhões no primeiro semestre de 2025.
O sucesso da empresa hoje também passa pela família. Dois dos seus cinco filhos trabalham na Smart Fit: Diogo é Chief Operating Officer (COO) e membro do conselho, e Carolina é responsável pelas marcas Race Bootcamp, Tônus e Vidya. Edgard Corona segue motivado e com a certeza de que ainda tem muita coisa para fazer.
Reportagem original publicada na edição 134 da Forbes, lançada em setembro de 2025.