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O lugar combina temperaturas congelantes, cultura ancestral, paisagens únicas e uma surpreendente vida cotidiana de mercados vibrantes a museus subterrâneos
Yakutsk, a cidade mais fria do mundo, onde ruas cobertas de neve, fumaça e o congelamento instantâneo transformam a vida cotidiana em um desafio diário / Mikhail Mikhailov/Flickr
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No meio da vasta Sibéria, a milhares de quilômetros de Moscou e a poucos passos do Círculo Ártico, Yakutsk ostenta um título que desperta curiosidade em viajantes do mundo inteiro: o de cidade mais fria do planeta. Com temperatura média anual de −8°C e picos que já chegaram a −64°C, o destino vive meses inteiros sem registrar um único dia acima de zero. No auge do inverno, rios, árvores, carros e até cílios humanos congelam — um cenário surreal que mistura beleza, isolamento e resistência.
Apesar das condições extremas, Yakutsk segue funcionando como um centro urbano vibrante, com mais de 350 mil moradores. Universidades, museus, mercados de peixes e carnes de rena e uma intensa rotina de trabalho convivem com ruas tomadas pela neve e com a fumaça das chaminés que mantêm as casas aquecidas.
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Para os habitantes, o lema é simples: “adapte-se ou sofra”. Várias camadas de roupas, caminhões que removem neve de hora em hora e cuidados constantes com a pele fazem parte do cotidiano — e, nos dias mais gélidos, até os cílios congelados rendem fotos virais.
A guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe um desafio extra: apagões frequentes, que afetam tanto a iluminação quanto o aquecimento das casas, provocando incidentes como canos congelados e rompidos. Ainda assim, a economia local continua girando principalmente em torno da mineração de diamantes, carvão e ouro — motivo pelo qual muitos optam por viver ali.
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A influenciadora Kiun B, mostra como é a vida em Yakutsk:
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Se sobreviver ao frio já é uma experiência por si só, Yakutsk também se destaca por atrações que não existem em nenhum outro lugar do planeta. A cidade está assentada sobre o permafrost, o solo permanentemente congelado que domina grande parte da Sibéria. Essa peculiaridade deu origem a museus subterrâneos como o Permafrost Kingdom, um labirinto de galerias geladas com esculturas e figuras folclóricas locais.
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Mas é ao deixar os limites urbanos que o destino revela sua paisagem mais impressionante: os Pilares do Lena, formações rochosas de até 300 metros às margens do Rio Lena e reconhecidas pela Unesco como Patrimônio Mundial.
Para chegar até lá, o visitante pode seguir de barco no verão ou encarar trajetos mistos — de carro, bote ou moto de neve — dependendo do clima. Os tours, antes da guerra, custavam cerca de € 500 para duas pessoas, mas os valores variam com a disponibilidade.
Outros pontos procurados incluem o Instituto Melnikov, dedicado aos estudos do permafrost, e o Museu do Mamute, com fósseis e acervos dedicados aos gigantes que habitaram a região há milhares de anos.
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A melhor época para conhecer Yakutsk é o verão, entre junho e agosto, quando as temperaturas surpreendem e podem chegar a 25°C. Hotéis variam entre R$ 200 e R$ 800 a diária, e o aeroporto local é servido pela Yakutia Airlines, que conecta a cidade a outros destinos russos.
Já os aventureiros que buscam sentir na pele o inverno siberiano — com mínimas que despencam para −50°C ou −60°C — preferem viajar entre dezembro e fevereiro. É nesse período que se experimenta a culinária mais tradicional da região, como a stroganina, um prato de peixe cru servido congelado, cortado em lâminas finíssimas.
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No fim das contas, Yakutsk é mais do que um destino extremo: é um testemunho de como uma sociedade inteira se adapta ao impossível. Entre paisagens congeladas, ciência, cultura e uma rotina que desafia a lógica, a cidade mais fria do mundo segue fascinando viajantes — e provando que, mesmo em meio ao gelo absoluto, a vida encontra um jeito de seguir quente.