Mudança pode levar muita chuva para um lugar e seca para o outro, por exemplo / Imagem gerada por IA
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Quando você lê “colapso de corrente oceânica”, quase sempre estão falando da AMOC, um grande “tapete rolante” de água no Atlântico que ajuda a levar calor dos trópicos para o Norte e influencia chuva, temperatura e até o nível do mar em várias partes do planeta. Ela não é uma única corrente visível na superfície, mas um conjunto de circulações que envolve água quente indo para o norte e água mais fria e densa afundando e voltando em profundidade.
O alerta existe porque esse sistema pode enfraquecer com o aquecimento global e com a entrada de água doce (por exemplo, do derretimento da Groenlândia), que dificulta o afundamento de água salgada mais densa, parte importante do “motor” da circulação. O consenso científico mais citado hoje é: a AMOC deve enfraquecer neste século, mas um colapso total antes de 2100 não é o cenário mais provável nas avaliações mais conservadoras. Ao mesmo tempo, estudos recentes têm tentado identificar sinais de instabilidade e discutir se o risco pode estar sendo subestimado, o que ajuda a explicar por que as manchetes ficaram mais dramáticas.
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Algumas pesquisas de 2025 propõem maneiras mais “físicas” de detectar quando o sistema entra em zona perigosa, usando indicadores ligados ao balanço de calor e salinidade na superfície do Atlântico Norte. Em paralelo, outras análises com muitos modelos climáticos apontam um “freio” importante: a influência dos ventos do Oceano Austral pode sustentar uma AMOC enfraquecida, mas ainda funcionando, o que reduz a chance de colapso total neste século. É aí que mora o ponto central para o leitor leigo: há risco, mas o relógio do “quando” ainda é incerto e depende do cenário de emissões e de como o oceano reage.
Se a AMOC enfraquece muito (mesmo sem colapsar), os impactos podem aparecer como um dominó lento:
Na Europa (especialmente Reino Unido, Irlanda, Escandinávia e parte do oeste europeu), o efeito mais falado é a mudança na distribuição de calor, com potencial de invernos relativamente mais frios do que seriam num mundo aquecendo, além de alterações em tempestades e regimes de chuva. Na América do Norte, um ponto sensível são os EUA na Costa Leste, onde a dinâmica oceânica pode favorecer elevação adicional do nível do mar regional e pressionar áreas costeiras com mais inundações. Em partes da África, especialmente no cinturão tropical, a preocupação é o deslocamento de faixas de chuva, com risco de secas ou mudanças fortes na estação chuvosa em algumas regiões, afetando agricultura e segurança hídrica. E na Ásia, estudos discutem como a reorganização do Atlântico pode “puxar” a circulação atmosférica e mexer em monções, um tema que costuma aparecer em avaliações de risco de longo prazo.
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Para o Brasil, o assunto entra pela porta da chuva. Pesquisas recentes indicam que um enfraquecimento da AMOC pode deslocar a zona de chuvas do Atlântico tropical e mexer na distribuição de precipitação sobre a América do Sul. Em linguagem direta: pode haver regiões ficando mais molhadas e outras mais secas, com efeitos possíveis sobre a Amazônia, o Centro-Oeste e faixas do litoral e interior. A leitura mais prudente, hoje, é que o Brasil pode sentir impactos via mudanças no Atlântico tropical que influenciam a estação chuvosa, extremos (seca/enchente) e planejamento de água e energia, mas o desenho exato dessas mudanças ainda varia conforme o modelo e o cenário climático.