O uso desenfreado do celular pelas crianças tem levantado um importante alerta / Foto de George Pak/Pexels
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O uso desenfreado do celular pelas crianças tem levantado um importante alerta entre educadores e especialistas em desenvolvimento infantil: estariam as telas assumindo o papel de uma nova “chupeta digital”?
Hoje em dia, é uma cena cada vez mais comum ver uma criança tranquila quando grudada ao aparelho, mas o contrário acontece quando elas são tiradas de frente das telas: a maioria delas abre o berreiro. Por outro lado (ou mesmo no mesmo lado), para uma criança parar de chorar, basta dar um celular que ela engole o choro rapidinho.
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Essa situação é cada vez mais comum em restaurantes, salas de espera, berços, no lar ou em qualquer outro lugar. Muitas mamães barganham tarefas domésticas com horas a mais de tela, e um dos castigos modernos de hoje é proibir o uso do aparelho.
Para Rogéria Sprone, especialista em Ensino e Educação, com mais de 30 anos de experiência na área e atual diretora pedagógica do Colégio Joseense, em São José dos Campos (SP), a metáfora é válida e preocupante:
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“A tela pode acalmar momentaneamente, mas não ensina à criança a regular emoções, lidar com as frustrações ou construir relações. Quando usada como substituta do afeto ou do contato humano, podemos ter um comprometimento dos aspectos fundamentais do desenvolvimento neurológico e emocional.”
Ainda de acordo com a especialista, a neurociência tem mostrado que os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento das conexões neurais, especialmente nas áreas ligadas à linguagem, cognição e habilidades socioemocionais.
Experiências concretas, como o contato visual, o toque, a fala e o brincar, ativam múltiplas áreas do cérebro e promovem o amadurecimento saudável das funções executivas, capacidades que envolvem atenção, memória de trabalho e autorregulação:
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“O uso excessivo de telas, principalmente antes dos 2 anos de idade, reduz significativamente o tempo dessas experiências essenciais. A criança que passa horas exposta a estímulos passivos e hiperestimulantes tem menos oportunidades de desenvolver empatia, pensamento crítico, criatividade e resolução de problemas”, explica ela, que também é especialista em psicopedagogia e neuroaprendizagem.
Estudos da Academia Americana de Pediatria (AAP) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam evitar completamente o uso de telas para crianças menores de 2 anos, e limitar a exposição para as maiores, sempre com supervisão e intenção educativa.
No entanto, segundo a educadora, a realidade ainda está longe dessa diretriz.
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“Vivemos uma naturalização da tela como solução fácil para o tédio, o choro e a agitação, quando, na verdade, isso deveria ser sinal de atenção e não de distração automática”.